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Análise do Flamengo no Brasileirão 2008 (até agora)

Feita a crônica da minha relação com o Flamengo e um panorama do futebol em si, é hora de irmos direto ao Brasileirão 2008.

Friamente, o Flamengo irá perder para si mesmo. E não, isto não é uma constatação de um torcedor fanático que não admite a derrota pura e simples. Após a torcida ter carregado o time nas costas em 2007, levando-o a conquistar uma vaga na Libertadores, o Flamengo começou o campeonato em 2008 avassalador, com a melhor campanha de uma equipe no Brasileirão de pontos corridos até 11º rodada, quando venceu o rival Vasco no Maracanã por 3 x 1 e deixou os analistas com a certeza de ser o favorito ao título. Até aquele momento o time tinha 8 vitórias, 2 empates e uma derrota, tendo o melhor ataque e sendo líder absoluto da competição com 5 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

O time, redondo, estava sólido na defesa, no meio e no ataque – mas faltavam peças de reposição. E isto ficou evidente com as saídas de Marcinho, artilheiro da equipe, em ótima fase e um dos principais responsáveis pela campanha, e, em menor grau, de Souza, o trombador eficiente, e Renato Augusto, meia de enorme talento revelado na casa que andava cabisbaixo. Como o futebol brasileiro é fraco, amador, financeiramente limitado e refém dos clubes de fora, a janela de transferência castigou principalmente o Flamengo, que perdeu jogadores fundamentais e, mais importante, demorou muito a contratar substitutos. Pra piorar, um dos melhores meias defensivos, Klebérson e um atacante não dispensável, Diego Tardelli, se machucaram, com o segundo ficando fora até 2009.

A equipe caiu em desgraça: conseguiu a proeza de passar 7 rodadas sem vencer, com 5 derrotas e 2 empates. Muitas vezes jogava bem (como contra Palmeiras, Goiás e Botafogo), mas errava finalizações em demasia e se atrapalhava nas próprias bobagens. Podem anotar: a pontaria jogou o título pro espaço, e nestas 7 rodadas o Flamengo rasgou o hexacampeonato que, senão fácil, estava plenamente possível. O empate em 2 x 2 com a Portuguesa, por exemplo, com Ibson desperdiçando um pênalti aos 44 do segundo tempo (e o time vindo de derrotas para Coritiba e Vitória), não apenas somaria mais 2 pontos como interromperia a má fase e daria outra perspectiva para as partidas futuras.

Após passar semanas e semanas sonhando com Felipe, no Oriente Médio, e Vagner Love, na Rússia (com incontáveis viagens tentando concretizar o negócio), a diretoria passou a contratar em peso: vieram Marcelinho Paraíba, meia muito bom mas já em fim de carreira, Eltinho e Evérton, do Paraná, Dininho, pra zaga, Vandinho, do Avaí, um dos artilheiros da temporada até então, Josiel, da França, e os estrangeiros Sambueza, do River Plate, considerado muito habilidoso e Gonzalo Fierro, do Chile, outra promessa da mesma geração de Valdívia. Foi o time que mais contratou.

Além de todo o tempo necessário para estes jogadores serem regularizados, entrarem em forma e poderem ser aproveitados no time, houve algumas contusões, como a de Vandinho, e convocações para as seleções do Chile (Fierro) e Brasil (Juan), o último peça fundamental da equipe.

Mesmo fazendo uma das melhores campanhas do segundo turno, com apenas uma derrota, dentro da normalidade, para o São Paulo, o Flamengo mostrou a dependência de Fábio Luciano e Juan ao perder de forma vexatória para o Atlético Mineiro no Maracanã (17.10.08) lotado com 80 mil pessoas (maior público da competição), jogando a sua pior partida no ano e praticamente enterrando as chances de título num momento chave do campeonato. O jogo, aliás, pode ser tranquilamente comparado a outro vexame semelhante, os 3 x 0 para o América do México: mesmo Maraca, mesmo placar, mesmo público, mesma atuação pífia e inexplicável.

Dada este tiro na alma da magnética rubro-negra que iria suar sangue para lotar o estádio e levá-lo ao título milagroso, o que resta são migalhas ante o investimento feito. Das contratações, Everton teve boas atuações mas não se firmou, Vandinho é mediano e esforçado, Sambueza não foi aproveitado como deveria, Fierro não teve chances, Dininho é uma peneira, e Josiel, além de (muito) limitado está fora de forma. O único que realmente fez a diferença foi Marcelinho Paraíba, dando qualidade para um setor desestruturado. Pra piorar, Caio Júnior não é um técnico tão bom assim, fazendo pataquadas dignas de uma estupidez flagrante e Ibson lembrou que joga menos do que falam que joga.

Faltando 8 jogos e na 5º colocação com 52 pontos, a 4 do líder Grêmio, o título é algo possível mas que o time, em campo, não joga o suficiente para merecê-lo. Contra o Vasco, por exemplo, vitória por 1 x 0 diante de péssima atuação. Sendo assim, confira análise sobre o elenco e pitacos sobre as pelejas que estão por vir.

Goleiros

Bruno – Bom jogador que foi fundamental para a equipe em 2007 e também em 2008, mas com panes mentais dignas do pior frangueiro do mundo. Temporada razoável. Falha nas saídas do gol, posicionamento e reposição de bola.

Diego – Excelente goleiro reserva que deve estar cansado de amargar a posição, após anos relegado.

Zagueiros

Ronaldo Angelim – Monstro: eficiência, boa forma física e leal nas abordagens (apenas um cartão amarelo na competição).

Fábio Luciano – Capitão, imprescindível. Liderança e domínio do setor.

Leonardo – Uma piada. Quase não jogou.

Thiago Sales – Jovem. Tem potencial. Faz gols (esse ano já foram 4).

Dininho – Lamentável, afundou o time todas as vezes que entrou.

Laterais

Juan – Melhor lateral esquerdo do Brasil.

Leonardo Moura – Quando quer, joga muito. Tem dias “menos inspirados” com maior freqüência do que o desejado.

Eltinho – Risível.

Luizinho – É “inho” de mais na equipe. Futebol equivalente ao nome diminutivo.

Volantes

Toró – Ás vezes acha que está no “futebol americano”. Quando não quer aparecer e matar alguém, funciona.

Jonatas – Contratado como estrela, desapareceu. Bom jogador que nem no banco fica mais e deve estar chorando pelos cantos.

Jaílton – A besta, único remanescente da colônia desastrada do Ipatinga que veio para o Flamengo. Apesar dos pesares, foi (e é) importante mesmo com as suas limitações.

Aírton – Tem futuro. Marca bem e sabe jogar.

Meias

Erick Flores – 18 anos. Sua participação mais marcante foi um bonito drible no jogo contra o Atlético Mineiro no primeiro turno. Sem mais.

Kléberson – Devia ser mais regular. Dá segurança ao setor e sabe sair com a bola, quando necessário.

Sambueza – Mostrou que tem o que oferecer, mas ainda tímido. Não deve entrar nas loucuras de Milhouse ao ir jogar na lateral (!?!?!).

Fierro – Praticamente não teve chances. Está demorando a ser aproveitado no time.

Ibson – Jogador mediano que passou a mostrar que não joga tanto quanto acha que joga. Em dias ruins (freqüentes) é um desastre. Faltando seriedade e determinação.

Evérton – Jovem habilidoso que naturalmente tem seus altos e baixos.

Atacantes

Maxi – O primo paraguaio do Messi. Joga exatamente o que a descrição entrega.

Marcelinho Paraíba – Apesar de causar desconfiança pela idade avançada (33), foi o principal responsável pela melhora do time no segundo turno. Chegou com vontade e qualidade, tomou conta do ataque, cria, dá o sangue e marca gols. Se não bobear vira ídolo da torcida.

Vandinho – Alguma competência na finalização. Esforçado, técnica mediana.

Josiel – O tradicional trombador que, quando dá sorte, marca. O Flamengo sempre tem um desses (ou vários). Fora de forma, foi nulo até o momento.

Paulo Sérgio – Jovem, poucas chances, fraco.

Diego Tardelli – Frágil e dorminhoco, deu a sua contribuição e era opção interessante para o setor. Lesão ajudou a levar o time pro buraco.

Obina – Folclórico. 80% carisma, 20% sorte. Finalizador pífio, desperdiçou uns 115 gols feitos na competição. Apesar de, às vezes, entrar em campo com seriedade e lutar ao máximo para fazer o possível (é um brigador), sua técnica atabalhoada e principalmente a finalização sofrível estraga tudo. Devia ter sido sacado do time há muito. Sobrevive pelo carinho da torcida (já abalada). Dá sorte e de tanto insistir, acaba marcando. Apesar de tudo, é um dos principais jogadores da temporada, com 11 gols e 10 assistências.

Caio “Milhouse” Júnior (Técnico) – Perdido e desorientado, até hoje não definiu um padrão de jogo e um esquema básico para o time, principalmente no ataque, como já admitiu. Atrapalhado pela lentidão da diretoria, teve que montar o grupo durante o campeonato, fazendo mais experiências do que o saudável. Não sabe o que fazer quando Juan está fora, chegando ao absurdo de improvisar Sambueza (deixando uma avenida que contribuiu para a derrota histórica). Conseguiu descartar Jonatas, escalar Josiel sem condições e demorar a achar um espaço no time para Fierro. Não tem coragem para sacar Ibson definitivamente. Insiste em Obina pelo carisma, não pelo futebol, como disse há pouco. Um brincalhão. Dá a sorte de, mesmo não passando de um treinador mediano, preguiçoso e sem pulso, não ter ninguém no mercado brasileiro melhor que ele. Está ganhando mais do que deveria.

Márcio Braga (Presidente) e Kléber Leite (Diretoria) – Dois patetas. Maiores responsáveis pela quase certa perda do título. Sabotaram o time ao demorarem uma eternidade na contratação de reforços. Envolveram-sem em duas palhaçadas: a primeira com a Nike e a Olympikus, numa confusão digna de amadores e a outra com a Petrobras, numa relação já conturbada há tempos. Incapazes de conseguir novos e lucrativos parceiros. Nenhum dos dois poderiam estar no Flamengo, especialmente o pirotécnico Kléber, que teve um dos mandatos mais pífios e ridicularizantes da história do clube, contratando mais de 100 jogadores, estragando o centenário, se afundando em dívidas e ganhando apenas um campeonato carioca em 4 anos de administração. E Márcio Braga fala muito e trabalha pouco, além de tudo. A dupla é um câncer a ser extirpado.

Previsão dos próximos jogos

Flamengo x Coritiba (Casa) – Juan e Fábio Luciano fora a exemplo de contra o Atlético Mineiro. Considerando a peneira que o time vira nestas circunstâncias e se Caio Júnior não inventar muito, pode sair um empate. Vitória será milagre.

Vitória x Flamengo (Fora) – Precisa (e pode) vencer, devolvendo a derrota do primeiro turno.

Flamengo x Portuguesa (Casa) – Vitória. Tem obrigação de ganhar. Se não, pode fechar o clube.

Botafogo x Flamengo (Maraca) – Ganha se jogar sério.

Flamengo x Palmeiras (Casa) – Altamente motivado, deve ser um dos melhores jogos do returno. Vitória é fundamental.

Cruzeiro x Flamengo (Fora) – Jogo muito difícil, deve perder. Empate é bom resultado.

Flamengo x Goiás (Casa) – Vitória.

Atlético PR x Flamengo (Fora) – Depende da situação que chegar nesta rodada (se com chances para o título, para libertadores ou nenhum dos dois). Mas ganhar do ridículo time do Atlético PR é obrigação.

Como se vê, apesar de todos os pesares, as chances ainda são boas (não há nenhum time no Brasil, atualmente, melhor que o Flamengo). Para isso, precisam parar de errar passes, pois parece que desaprenderam (os erros aumentaram muito). Mesmo assim, o título a equipe já fez questão de jogar fora. Acredito na vaga para a Libertadores. Próxima análise após o término do campeonato. Veremos.

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