Ciência & Saúde

Sobre a obesidade

Considerada uma epidemia mundial e doença símbolo da atualidade (há algum tempo), a obesidade, para fazer uma comparação ridícula, é muito mais complexa que boa parte das correntes filosóficas. Ou seja: não dá para resumir ou simplificar a sua incidência, causas e tratamento.

Ela envolve nutrição, química, fisiologia, biogenética e um sem número de áreas médicas complicadas, quase impossíveis de se resumir aos leigos, como eu. Mesmo posta esta dificuldade, creio que li e assisti material suficiente para escrever este textículo. Além de ter mãe formada em Educação Física. Portanto uma profissional da área.

Uma má notícia básica: não existe milagre. Não há, atualmente, nenhum remédio que tenha eficácia comprovada no combate ao excesso de peso. Inibidores de apetite, “queimadores de gordura”, coisas como Xanax, Carnitina e toda esta gama de enganações não servem, em última instância, para nada. A não ser para causar efeitos colaterais terríveis. Traduzindo: se você quer emagrecer, o único caminho recomendável é uma alimentação balanceada e exercícios físicos. A vida toda. Durante toda a sua existência. Não adianta seguir certo programa durante um tempo determinado e depois voltar ao que era antes.

A obesidade tem grandes influências genéticas que até hoje não são conhecidas com profundidade. Mas é fato que os genes influenciam diretamente na propensão à obesidade, na absorção de gordura, etc. Discute-se quem é o vilão: se os lipídios, se os açucares, se os carboidratos e por aí fora. Como dito por especialistas, o carboidrato na verdade é que inicia o processo de transformação em gordura. O problema é que o carboidrato é a base da alimentação humana: arroz, massas, farinha, batata, raízes (mandioca), etc. Todos os produtos de padaria. Sem falar nos açucares, presentes em diversos produtos (de refrigerantes a bolos). Há, ainda, os diversos tipos de gordura: animal e as industrializadas, como a trans (vegetal). Sem falar em diversas outras substâncias (conservantes, realçadores de sabor, corantes, etc), presentes em quase todos os produtos que consumimos…daquele iogurte que parece inofensivo mas na verdade é um amontoado de substâncias nefastas reunidas até todos os lixos industrializados que 90% da população adora.

Não sabemos sequer o que estas substâncias podem causar em termos de doenças e reações. O ser humano é, literalmente, uma cobaia em tempo real.

Sobretudo, a extrema dificuldade de quem é obeso tem em manter o peso que perdeu é o que mais assusta. A wikipedia simplifica dizendo que “entre oitenta e cinco e noventa e cinco por cento, daqueles que perdem 10% ou mais de sua massa corporal, recuperam todo o peso perdido em dois a cinco anos. O corpo tem sistemas que mantêm sua homeostase em certos pontos fixos, incluindo peso.”

E lista homeostase como “a propriedade de um sistema aberto, seres vivos especialmente, de regular o seu ambiente interno de modo a manter uma condição estável, mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação interrelacionados (…) Sistemas complexos, como por exemplo o corpo humano, precisam de homeostase para manter a estabilidade e sobreviver. Mais do que apenas sobreviver, estes sistemas devem ter a capacidade de se adaptar ao seu ambiente externo.”

Não é preciso desconfiar das fontes às vezes duvidosas da Wikipedia. O trecho que mais chama atenção é aquele que afirma que 95% das pessoas que perdem mais de 10% da sua massa corporal recuperam TUDO em no máximo 5 anos. Dizendo que a homeostase do organismo trabalha, de alguma forma complexa e desconhecida (ou mal explicada), para retornar aos níveis de anteriormente. Adoraria, aqui, que um especialista pudesse acrescentar suas considerações sobre este ponto, que me parece ser o central de toda a questão. É assustador.

O indíce não é de 20 ou 30%, mas 95%. O que é totalmente fatalista, inescapável e já comprovado. Gira realmente em torno disto. O que me leva a crer que há algo muito forte e determinante para além de qualquer esforço individual e condições específicas de cada pessoa em tentar manter o corpo que conquistou. É como se o obeso estivesse condenado à obesidade para o resto da vida.

Todo mundo tem aquele amigo magrinho que come a vontade, de tudo, sem se preocupar com nada e que nunca sequer esboçou qualquer vontade de praticar atividade física. Mesmo assim, nada altera sua massa corpórea. Ao passo que existem pessoas que engordam com extrema facilidade, mesmo que sigam uma dieta controlada. Infelizmente, a medicina parece que não evoluiu o suficiente para explicar estes casos com riqueza de detalhes.

As complicações que a obesidade traz (além de poder causar a morte por si só, em casos extremos), acarreta doenças cardiovasculares, diabetes e um sem número de outros pontos. Sem falar no aspecto emocional e psicológico, fundamental. Fato é que nossa sociedade também trouxe um desenvolvimento burro, criando alimentos hiper calóricos e baratos, vendendo-os em larga escala. Base do capitalismo e da nossa lógica de consumo. Quase tudo que temos a disposição na prateleira dos supermercados é lixo puro e simples. Basta ler a lista de ingredientes de cada produto para se ter uma breve noção do que estamos ingerindo. Sem esquecer da suficientemente analisada cultura anoréxica e de culto a formas longe da realidade.

A encruzilhada social, científica e econômica que a obesidade traz, como dito no início deste texto, é imensamente mais complexa do que pode parecer.

Recomendo os artigos básicos do ABC da Saúde, Wikipedia e principalmente um programa com 50 minutos de duração, disponível no Google Vídeos. Um debate de especialistas que dão um ótimo panorama da situação. Espero agregar este texto com mais informações úteis e novas pesquisas no futuro.

Para realmente saber mais

Obesidade na Wikipedia em inglês (artigo muito mais completo)

The Obesity Society

Obesidade e síndrome metabólica na infância e adolescência

Debate Internacional: nova droga contra a obesidade

Obesidade, síndrome metabólica e atividade física

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