Política & Economia

Além de Lula

Parece impossível refutar que Luiz Inácio Lula da Silva fez um dos melhores governos da história do Brasil. Infinitamente melhor que seu antecessor. Os números estão aí e comprovam. Números que se observam na prática, no dia-a-dia, na vida de milhões de pessoas. Os principais feitos:

  • Dobrou a média de crescimento do PIB, passando de 2,3% no governo FHC para 4% no governo Lula, chegando a 7,2% em 2010.
  • Aumentou expressivamente a renda média do brasileiro (PIB per capita): o crescimento médio no governo FHC foi de 3,5% e passou para 33,5% no governo Lula (sim, isto mesmo), chegando ao valor atual de 18.601.
  • Deu novo impulso ao crédito: passando de 24% em relação ao PIB em 2003 para 48% em 2010.
  • Redefiniu a pirâmide social do Brasil, inserindo milhões de pessoas na Classe C e tirando milhões da pobreza:

(clique para ampliar – revista Exame, 06.10.2010)

  • Dobrou o poder de consumo das famílias: passando de 1 bilhão em 2003 para 2,2 bilhões em 2010 em relação ao PIB.
  • Gerou 15 milhões de empregos formais (3 x mais que o governo FHC), deixando a taxa de desemprego como a menor da história: 6,7% atualmente.
  • Venceu a pior crise econômica mundial desde 1929, reduzindo ao máximo seus efeitos e conseguindo taxa de crescimento muito acima da média mundial.
  • Expandiu como nunca a Petrobrás, alavancada pelo descobrimento do pré-sal, que mostra investimento em pesquisas e inovação.
  • Transformou a educação superior com o Pro-Uni, inserindo 700 mil estudantes de baixa renda nas faculdades e universidades. Alunos estes que tem média de avaliação de 85%, muito superior aos demais. Criou dezenas de escolas técnicas em todo o país. Melhorou o nível das universidades federais.
  • Número de pessoas na universidade cresceu 57% de 2002 para cá. Hoje temos 5,8 milhões de universitários. O perfil também mudou. Há oito anos esse público era formado por 25% de pessoas da classe A, 30% da classe B, 39% da classe C, 5% da classe D, e 1% da E. Hoje, temos nas universidades, 7% de pessoas da classe A, 19% da classe B, 58% da classe C, 15% da classe D e 1% da classe E. (Época Negócios/24.11/2010)
  • Colocou o país como nunca no centro das atenções mundiais, passando a ter peso decisivo na política, economia, relações externas, etc.
  • Reduziu o desmatamento, o risco brasil, a dívida externa, acabou com a dependência do FMI.
  • Levou a taxa de juros ao menor nível histórico em abril de 2010 (8,75% ao ano), elevando depois para os 10,75% atuais. A taxa de juros para pessoa física, no entanto, é a menor da série histórica iniciada em 1994. (O Globo, 26.10.2010).
  • Sem falar em Copa do Mundo, Olimpíadas, o recorde menções positivas na imprensa internacional.
  • Corrupção? Nunca a Polícia Federal fez tantas operações, desmantelou tantos esquemas e prendeu tanta gente importante, independente de ligações.
  • Alcançou o maior ganho real do salário mínimo em todos os tempos.
  • Programa de habitação “Minha Casa, Minha Vida” gerando oportunidades de aquisição de casas próprias para pessoas de baixa renda e classe média, aquecendo enormemente o setor da indústria civil.
  • Mais dados? Recomendo a série de infográficos do BOB (aqui, aqui e aqui), além deste vídeo.
  • E sobre a falácia barata de que “boa parte disso” se deve a “herança” de FHC recomendo enormemente este artigo, que destrói com essa ladainha enganosa repetida exaustivamente por quem não tem argumentos.

Entendeu, cara pálida, porque Lula tem mais de 90% de aprovação? Porque Dilma foi eleita? Porque o país se encontra na melhor situação que jamais esteve? Porque a perseguição da mídia soa como bravatas desesperadas de puro ódio social? De perda do seu poder e influência?

Nunca encontrei nenhum – disse, nenhum – partidário da direita que fosse capaz de discutir saudável e habilmente os feitos do governo Lula, bem como refutar a maioria dos argumentos (já que, os números, desculpa, não dá pra refutar). Deve ser triste para quem sofre de cegueira, raiva e onanismo crônico simplesmente não ter o que falar.

Mas este quadro pode dar a impressão que estamos no paraíso. Que os principais desafios já foram superados, que o Brasil é um país maravilhoso para se viver e podemos navegar em mares tranquilos de desenvolvimento e igualdade social. Não, não é. Não podemos. O fato de Lula ter feito um ótimo governo, resumido em parte aí acima, obviamente é só o início do caminho para o Brasil se transformar num país verdadeiramente decente. Repito: não se cura 502 anos de abuso em 8.

Temos problemas sérios de segurança pública, educação básica, saúde, infra-estrutura como saneamento, estradas e a pobreza, claro, longe de ser extirpada. Avançamos pouco em alguns desses pontos. O inchaço dos aeroportos, diga-se, só acontece justamente pela entrada de milhões de pessoas na classe média. Um exemplo que simboliza alguns dos novos problemas que precisamos enfrentar. É a administração pública e o capitalismo brasileiro numa nova fase.

Este é o maior desafio de Dilma Rousseff. Que tem competência técnica, teórica e administrativa para tanto. Que representa a legítima continuidade do governo Lula. Que poderá escolher os melhores quadros possíveis e tem a maioria na câmara e no senado. Precisamos de equilíbrio para manter o ótimo ciclo mas ambição para avançar ainda mais. De coragem para implantar reformas essenciais que foram postergadas, como a tributária, a política, jurídica e a da previdência. De continuar erradicando a pobreza, trabalhando para levar a indústria e os negócios do país para um novo patamar de evolução, inovação. Manter a economia forte, saudável e firme em seus princípios básicos.

Criar mais oportunidades ainda para os jovens, a classe média e pessoas de baixa renda. Melhorar os entraves burocráticos, simplificar a cobrança de tributos, tornar o ambiente para se tocar uma empresa mais amigável e rápido (o que já começou a ser feito). Fazer uma reforma legítima e profunda da educação de base, repensando todo o sistema de ensino, a preparação e remuneração dos professores, a infra-estrutura das escolas. Incentivar como nunca a inovação. Equilibrar a prosperidade com a preservação. Intensificar a reforma agrária. Levar as obras e projetos da Copa 2014 e Olimpíadas da melhor, mais eficaz e transparente maneira possível. Legalizar o lobby. Aprovar mecanismos que intensifique a clareza da prestação de contas de ONG’s e todo o dinheiro público em seus diferentes níveis. Discutir temas importantes e polêmicos com a sociedade através de referendos.

É um universo de coisas. Gargalos e desafios centrais, complicadíssimos, muitos que batem de frente com interesses escusos (como na segurança, a bancada ruralista, etc), que precisam de esforço descomunal de todo o organismo político, da iniciativa privada, da sociedade e do terceiro-setor. Não só para o governo Dilma, mas o que virá além dela. Para todos os próximos presidentes a ocuparem o cargo. É um projeto de país, não de governo.

Lula fez muito. Construiu as bases que precisamos para atingir mais, muito mais. Ficará marcado eternamente na história do país como um presidente único, de administração decisiva para este novo Brasil. Isto é impossível de tirar. Mas precisamos seguir no que fizemos de bom, aprofundar reformas estruturais, ir muito além e inovar. Vivo num país incomparavelmente melhor hoje do que era há 8 anos atrás. Quero bem mais.

Hoje temos consciência da nossa capacidade, potencial, poder e todas as bases sólidas para fazer o que precisamos. Ninguém disse que seria fácil. Obrigado ao Lula pelo o que fez. Está na hora de quebrarmos todos os paradigmas, entraves, a herança nefasta da fundação deste país, os anos de chumbo, o discurso retrógrado e baixo da direita, de seguir governando para o povo e para todas as classes sociais, interdependentes, afinal.

O caminho é longo.

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A elasticidade do “efeito Marina”

Marina Silva foi, sem dúvida, o fator “diferente” dessa eleição. Pelo tamanho minúsculo do PV – que se reflete na militância, nos deputados, senadores e governadores eleitos (especialmente a falta deles) – ou seja, de uma base fraca para sustentar uma candidatura à presidência, Marina foi literalmente um fenômeno de votos. Como Heloísa Helena em 2006, Marina representou a “terceira via”, uma espécie de meio termo entre Serra e Dilma, ocupando a lacuna de rejeição destes dois e com um discurso “ambientalista”, “plural”. Seus quase 20 milhões de votos representam mais que o triplo conseguido por Heloísa Helena em 2006 (6,2 mi).

Os motivos são muitos: ao contrário de Heloísa, Marina nunca esteve tanto à esquerda. O PV representa algo muito diferente do PSOL. Ancorada por sua história de vida marcante, pela maior desenvoltura com a mídia e o público, seu discurso mais brando, Marina conseguiu conquistar o voto de gente tão diversa quanto a ala evangélica, altamente representativa e os grupos mais “avançados” e “alternativos”, como o terceiro-setor, os jovens, boa parte da elite e penetração elevada entre os pobres, além de gente que não se via representada por Serra, Dilma e tampouco Plínio. Marina, em suma, alcançou o equilíbrio perfeito de alguém com pretensão de ser “a terceira via”.

Sua penetração na elite é ilustrada por ter conseguido ficar em segundo lugar na cidade de São Paulo, especialmente dentro do centro expandido, por sua estrondosa vitória em Brasília (ficando com espetaculares 41,96% dos votos, 611 mil eleitores, 10% a mais que Dilma) e o ótimo desempenho em Vitória, as duas capitais com mais alto PIB per capita do país.

Marina foi decisiva para levar a eleição para o segundo turno? Sim, foi. Mas não só ela. Parte pelo próprio desejo da população em “testar” Dilma um pouco mais, parte pela campanha suja do PSDB em diversos meios, etc. E se pensarmos que sequer Lula venceu qualquer pleito em primeiro turno, o resultado de Dilma fica excelente.

Marina sempre foi alguém de esquerda. Sua história de vida, por ser ex-PT, suas posições. Algo abrandado e deslocado “para o centro” por interesses eleitorais, obviamente. A tese de que o voto em Marina foi necessariamente “alternativo” e “desenvolvimentista” é duvidosa e questionável. A começar pelo fato de que a maioria dos votos de Marina migraram para Serra.

A demonização – literal – de Dilma entre os evangélicos contribuiu tanto para isso quanto a elite que votou em Marina e a imensa parcela de jovens indecisos, que fizeram um voto “por votar”, frouxo, sem convicção, apenas para ir contra as duas correntes principais. Apesar de Marina ter “mineiramente” enrolado e não declarado apoio a nenhum candidato no segundo turno (seria igualmente “estranho” ela apoiar Serra ou Dilma, por motivos diversos), boa parte de seus votos foram para Serra tanto que Dilma perdeu no Espírito Santo, em Goiás e no Rio Grande do Sul no segundo turno, locais que havia ganho no primeiro. Serra cresceu mais que Dilma: passou de 33,1 milhões de votos para 43,7 milhões. Enquanto Dilma foi de 47,6 para 55,7. 2 milhões de votos de diferença que não chegaram perto de influenciar no resultado final, mas absolutamente significativo para nossa análise e o “efeito Marina”.

Dilma/PT tem muito mais ligações com Marina do que o Serra/PSDB. O próprio Serra, num deslize histórico nos debates, tratou de afirmar que “as duas tem muito em comum”. As desavenças com Dilma e o fato de não compactuar com a ideologia e as práticas do PSDB fizeram com que Marina adotasse a neutralidade, ao contrário do PV, louco para afirmar apoio a Serra.

Qualquer afirmação sobre a sua influência nas eleições, portanto, precisa ser cuidadosa. Marina tomou uma nova frente, com certeza fez muito mais do que imaginou que fosse conseguir. Ao contrário de Heloísa Helena, que sumiu do mapa político nacional em 4 anos e amargou o fracasso de não conseguir se eleger sequer senadora por Alagoas em 2010, tudo indica que Marina seguirá tendo papel importante na vida política nacional e, provavelmente, firmará sua posição como liderança absoluta do ambientalismo no Brasil.

É pouquíssimo provável que aceite algum ministério no governo Dilma. Se conseguir manter-se atuante e agregar novas forças ao jogo político (que ela reluta em fazer), sua candidatura pode ganhar corpo interessante se quiser vir novamente em 2014. Ficando no PV ou não.

Independente das possibilidades, Marina tem tempo e é inteligente o suficiente para definir os melhores passos da sua vida política. Sua presença de destaque em 2010, indubitavelmente, foi positiva para o país. Ela pode conseguir um pouco mais.

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A encruzilhada da direita

As eleições 2010 serviram para algo fundamental além do óbvio: revelaram, no segundo turno, contra quem mesmo é que precisamos lutar. Mostraram, novamente, o que a direita representa. Como brilhantemente lembrou Pedro Alexandre Sanches: desafiamos a TFP – Tradição, Família & Propriedade – herdeira direta do colonialismo. Desafiamos a misoginia, a família nuclear, a influência da religião na vida política, o racismo, a xenofobia, a demonização dos movimentos sociais, o imperialismo protagonizado pelo Brasil na América Latina (e olhar de preconceito esdruxúlo de Serra contra bolivianos e venezuelanos, por exemplo). Vencemos a grande mídia, o coronelismo. Vencemos o jogo sujo de mentiras, distorções, milhões de panfletos e mails apócrifos,  de terrorismo eleitoral instaurado pelo PSDB/DEM.

Nos livramos de tudo que eles representam. E esses grupos de extrema-direita, essa corja barata da “tradição, família e moral” só aparecem porque a direita, coitada, está perdida, cambaleante, sem um plano de governo, sem propostas capazes de se diferenciar. Nesta situação, precisa da “ajuda” total de seus velhos fantasmas e companheiros. O esvaziamento pragmático da direita é uma vitória do PT. Ao abandonar “traços radicais” e assumir boa parte da agenda econômica do neo-liberalismo, fazendo um trabalho infinitamente melhor dentro disso do que o governo FHC (os fatos estão aqui e aqui, refute), Lula destruiu com o pouco que sobrava da direita, deixando-os reféns de seus próprios monstros, com todos eles vindo a tona, como a eleição acaba de mostrar.

Neste cenário, restou para a direita o terrorismo de campanha e o desespero de medidas populistas sem qualquer explicação na realidade: o salário mínimo de R$ 600 automático, a promessa de dobrar o bolsa família e 15% de aumento para os aposentados. Foi no mínimo irônico, paradoxal e tragicômico ver as bravatas e propagandas de Serra prometendo insistentemente coisas como essas, medidas e comportamento atacados tão frontalmente pela direita em termos históricos.

A encruzilhada em que se encontram é essa: derrotados nas três últimas eleições presidenciais, com suas bases atacadas e consolidadas (privatizações, etc), a base do seu programa – que está muito, muito longe de ser “seu”, afinal de contas, já que o neo-liberalismo e etc obviamente não foram “inventados” pelo PSDB – implantada pelo PT com muito mais sucesso. Suas duas principais lideranças políticas paulistas – Serra e Alckmin – tomaram 3 surras nos últimos 12 anos. FHC, rejeitado pelo povo em todas as instâncias, passa seus dias a murmurar resmungos entre Higienópolis e a Europa. Resta Aécio Neves. A raposa imprevisível. O único nome da direita capaz de fazer frente ao governo em 2014.

Aécio tem trunfos: o fator Tancredo Neves, os 8 anos de governo em Minas, segundo maior colégio eleitoral, com maciça aprovação, a menor rejeição que seu nome tem em São Paulo comparado a Serra e Alckmin, a capacidade de transmitir um conceito de “centro”, dado ao “morde e assopra”, a fazer oposição “generosa e firme”. Se aproximando de Lula e batendo de leve quando achava que tinha de bater. A velha malícia mineira.

Neves acaba de dar entrevista para a Folha defendendo uma “refundação do PSDB”. Quer que o partido “assuma o seu passado sem vergonha, realce a importância que as privatizações tiveram para o país, defina com larga antecedência um plano de governo”. O que posso dizer é: boa sorte com isso. Aécio será, disparado, o principal nome da oposição no governo Dilma. Aparecerá muito na mídia, que “o adora”. Preparando o terreno para 2014. Aécio pode ainda, dada sua forte relação com líderes importantes do PSB – a terceira força do governo atual, com 8 governadores, etc – cooptar o PSB para o lado do PSDB, criando uma coligação mais forte contra PT/PMDB.

O tom desse “plano de governo”, da oposição e de 2014 será dado, naturalmente, pelo andar do governo de Dilma. Ao que tudo indica, implacavelmente atacado pela mídia. Algo que o PT – mas principalmente Lula – aprenderam a superar. A sede em voltar ao poder é tamanha que os piores instintos da direita acabam revelados, como dito. No fim, isso é bom para o país, para a democracia, para o povo.

Veremos como conseguem controlar seu indisfarçável ódio e saem da encruzilhada com maior ou menor dano. Perdemos a direita pensante, ganhamos uma manada de cães raivosos. Aécio é o meio termo que, no entanto, não resiste a um olhar atento.

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O jeito Aécio de governar

Pra quem esteve fora de Minas nos últimos 8 anos talvez seja difícil – ou quase impossível – analisar os dois mandatos do governo Aécio Neves. Depois de 2 governos desastrados como o de Eduardo Azeredo e Itamar Franco, o que viesse teria grandes chances de “ser melhor”.

Mas Aécio, que não é bobo nem nada, como se diz por aqui, tratou de alardear o “choque de gestão” e fez milionários investimentos em publicidade, usada inclusive para incutir mentiras na população (como o “aumento” de 25% para os professores que na verdade não passou da incorporação no salário de um bônus já existente, gerando ganho real de 0%). E, no início dos 2 governos, Aécio “resolveu” governar por “leis delegadas”. Ou seja, aproveitando a imensa maioria na Câmara Legislativa – onde a oposição representa menos de 1/3 – conseguiu carta branca para implantar projetos e reformas sem a necessidade de passar pelo crivo, análise e votos dos deputados.

Aécio é o recordista do uso de leis delegadas em Minas Gerais desde 1985: foram 130 leis. Se isso não é arbitrário, anti-democrático e autoritário, não sei o que é. Eis aí um exemplo legítimo de abuso de poder e mecanismo usado contra a democracia. Algo que a mídia gosta de impingir ao PT. Mas será que – em especial – a mídia mineira, falará algo sobre isso? Impossível. Aécio cooptou todos os principais veículos de comunicação de Minas nestes 8 anos de governo, através dos quais não recebeu nenhuma crítica, questionamento, investigação. E os jornalistas-operários dessa mídia que ousaram escorregar foram sumariamente demitidos. É algo sabido há muito por todo o círculo midiático de Minas Gerais. Nunca foi escondido. Se isso não é uma espécie de máfia e censura – por outros meios – não sei o que é, novamente. Eis o quadro completo de abuso que a mídia tenta colocar no PT e não encontra.

Antônio Anastasia, cria legítima de Aécio, seu braço direito e esquerdo, responsável pelo “Choque de Gestão” e ventríloquo-mor do patrão, “naturalmente” pretende começar a governar da mesma forma que Aécio: através de leis delegadas. Para Anastasia: “a administração pública, por sua natureza, é sempre dinâmica e precisa sempre de um processo de sintonia fina, de ajustes, em razão de novas demandas que surgem, de novos temas que ficam mais necessários, de outros que já foram atingidos. Agora vamos iniciar um terceiro ciclo, que, na realidade, é o desdobramento desses dois, como está no nosso plano de governo”

A oposição na Assembléia mineira atualmente conta com pouco mais de 20 deputados entre 77. Na prática, Anastasia vai continuar fazendo o que seu mestre ensinou: governar do jeito que bem entender, com total subserviência política, da mídia e, por extensão, da população. Que não tem oposição nem na Assembleia, por própria culpa, nem na mídia, cooptada integralmente. O povo de Minas Gerais é o último elo nesta cadeia. Enfraquecido, ignorado, que vê levado até ele estritamente o que o governador e seus asseclas quer que chegue.

Sobre o malfadado “choque de gestão”, seus “benefícios”, ter “zerado o déficit do estado”, a verdade é bem diferente. Reproduzo trecho de notícia do jornal Valor Econômico de 10 de novembro de 2010:

“A situação é mais difícil para os Estados que possuem as dívidas mais altas. A maior é a de São Paulo, cujo estoque passou de R$ 118,4 bilhões em 2006 para R$ 142,1 bilhões em 2010 e relação dívida/receita corrente líquida de 1,46%. Na sequência está Minas Gerais, cuja dívida passou, sob essa mesma base de comparação, de R$ 41,7 bilhões para R$ 54,2 bilhões com relação dívida/receita de 1,71%.

Este é o jeito Aécio Neves – e tucano, como visto – de governar. Com mentiras, abusos de poder, artimanhas, controle da mídia, propaganda enganosa, etc. Algo a ser lembrado desde agora, vide as eleições de 2014, com Neves provável candidato a presidente. Afiar a memória todo o tempo, na política, é mais que necessário, é fundamental. E no caso de uma mídia corrompida, é a única maneira que temos de fazer oposição: os próprios esforços.

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Mapa das eleições 2010 por cidade

Fundamental e muito útil para análise esse mapa das eleições 2010 com os resultados em cada cidade do país. Permite aferir, com absoluta precisão, o balanço da disputa em cidades-chave, regiões, descobrir tendências, revelar influências econômicas, políticas, sociais, de fronteira, etc.

Passei um bom tempo conferindo dados. Em Belo Horizonte, por exemplo, impressiona a diferença mínima entre os dois: Serra com 662.232 votos e Dilma com 651.989. 10243 votos de distância entre 1,3 milhões de eleitores. Empate técnico absoluto. Outras curiosidades: Dilma venceu em TODOS os municípios de Pernambuco, Maranhão e Amazonas. Ficando ainda bem próximo disso em importantes colégios eleitorais: perdeu apenas 8 cidades na Bahia, 1 no Ceará, 2 no Piauí, 8 em Tocantins. Serra consegue coisa semelhante apenas em lugares com poucos eleitores: perdeu apenas 1 cidade no Acre e em Roraima.

Há uma tendência, em alguns lugares, de regiões mais ricas votarem mais em Serra (elite vota na elite, afinal). Longe de ser um clichê, é um fato observado por motivos óbvios desde a fundação do Brasil, se é que podemos tomar essa liberdade histórica com cada peculiaridade que ela traz. Oligarquias, coronéis, etc. Por exemplo, o Sul de Minas votando muito mais em Serra que o Norte, totalmente vermelho. O mesmo no Espírito Santo, entre norte e sul. Mas Dilma quase sempre com votação expressiva, acompanhando bem de perto.

Enfim, está tudo ali. Aproveite.

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A agonia da extrema-esquerda

Não há dúvidas sobre quem saiu mais derrotado dessa eleição: a extrema-esquerda. Por pior e mais inadequado que o termo seja, ainda é ele que, talvez, expresse melhor a posição em que estes grupos se encontram. Num tempo em que o PT se tornou praticamente um partido de centro, absorvendo muito da ideologia e das práticas da direita (e sendo muito bem-sucedido nisto), deixando o PSDB-DEM vazios, tontos, sem contra-argumentar, querendo se aproximar da “esquerda” – tema que merece outro post – é quase uma anomalia falar em “extrema-esquerda”.

É nela, no entanto, que está presente os últimos redutos do pensamento “socialista”, “comunista”, “trotskista”, etc, etc. E que foi massivamente derrotada nas urnas: Plínio de Arruda Sampaio, com todo barulho que conseguiu fazer, na internet, na mídia e pelas oportunidades que teve (debate na Globo no primeiro turno, chegando a milhões de pessoas), abocanhou míseros 886 mil votos. Uma lástima, brutalmente inferior a vários candidatos a deputado federal, para não falar em vários candidatos a senador derrotados. Somar o resto da tropa também não ajuda muito: Zé Maria, do PSTU, 84 mil votos, Ivan Pinheiro, do PCB, 39 mil e Rui Costa Pimenta, do PCO, 12 mil votos (insuficiente até para se eleger vereador em muitas cidades do país). No total: 1 milhão e 21 mil votos.

Em 2006, Heloísa Helena, pelo PSOL, teve 6,5 milhões de votos, ficando em terceiro lugar no primeiro turno. 4 anos depois, pasmem, não conseguiu sequer se eleger senadora por Alagoas, ficando com 417 mil votos, menos da metade do segundo colocado, Renan Calheiros, com 840 mil. Juntando todos os partidos de “extrema-esquerda”, em 2010, o resultado na eleição de deputados estaduais, federais e senadores é igualmente pífio.

Porque, afinal, o discurso esquerdista caiu tanto na “preferência” do eleitor? Porque ele se mostra totalmente incapaz de atingir a população? De conseguir penetrar, ser visto pelo menos com curiosidade, atenção, de gerar interesse, crítica, debate? Os motivos são muitos. O principal é a canseira da ladainha do discurso repetido infinitamente há décadas. É como se, não importa o que aconteça e quanto o mundo e o país mude, o discurso é sempre o mesmo. E é até hoje porque as “bases” do pensamento socialista, de fato, nunca foram implantadas por aqui. E os problemas que, em tese, o socialismo quer combater, “pioram” com o passar do tempo. Isto no campo primário da discussão. A realidade é outra.

Minha formação, notadamente, é “esquerdista”. Não só como me “formei” no campo teórico como minha própria vida sempre me compeliu para tanto. Daí que, por mais que os principais partidos do Brasil no momento – PT, PMDB, PSB, PV (aka Marina Silva), PSDB e DEM – sejam mais ou menos de centro, o atual governo ainda conserva práticas de esquerda inegáveis que, afinal, não teria como abandonar. Mas para a extrema-esquerda, tudo é traição. Tudo é “se deixar subjulgar pelas forças do neoliberalismo” e etc. O discurso retrógrado de Plínio, usado por Lula em 89, poderia ser o mesmo em 75, 98, por aí afora.

A extrema-esquerda se mostra totalmente incapaz de apresentar suas ideias de maneira razoável, equilibrada, atualizada, palatável para a maioria da população e num projeto minimamente possível de ser aplicado no século XXI. Assim, fica restrita ao mesmo nicho que sempre esteve, jamais avançando: estudantes universitários, adultos convictos, militantes radicais e grupos de inclinações “revolucionárias” diversas. O eterno curral. Com a diferença que as urnas mostram o achatamento cada vez maior da penetração desse discurso. E com razão.

Numa política progressivamente personalista, a extrema-esquerda vive (mal e porcamente) de “explosões de votos” como a de Heloísa Helena em 2006. Algo frágil, sem continuidade e que, como vimos, não leva a nada. É a impossibilidade de reconhecer a administração eficaz do capitalismo, como o PT fez e vem fazendo, com todas suas falhas, injustiças, distorções, lacunas, etc. É o bla-bla-blá incansável de quem se coloca quase numa realidade paralela do resto da população, por mais que alguns apontamentos sejam corretos e necessários. O falatório vazio, sem eco e ressonância.

Como maior derrotada desta eleição, a extrema-esquerda brasileira precisa se reestruturar urgentemente – na teoria e na prática – se não quiser desaparecer de vez e atingir a irrelevância completa. Algo que está bem perto de acontecer.

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