Filmes

The Happening

Fim Dos Tempos – M. Night Shyamalan – 2008 – ***

Shyamalão é um cara curioso. Gosto de Sexto Sentido, acho “Corpo Fechado” forçado e tinha desistido do cara em “Sinais”.  Ignorei durante anos e fui ver “A Vila” só ano passado. Adorei. “The Happening” reforça o incrível talento “de cenas” que o indiano tem. Os operários caindo dos prédios, o suicídio com o cortador de grama, as mortes no trânsito, a tensão do massacre coletivo feito pelo soldado (vivenciado a distância, apenas no som, tornando-o ainda mais pungente), enfim, os parcos 90 minutos do longa reservam cenas brilhantes dum cineasta bem acima do comum.

Ainda assim, as atuações de Mark Whalberg e Zoey Deschannel são sofríveis, o enredo se perde em certo momento e tudo fica aquém do poderia ser. O argumento é ótimo. As mortes e paranóia coletiva causados por algo completamente desconhecido tem excelente apelo. E claro que ninguém poderia esperar uma explicação concreta, enlatada. Até melhor.

O filmão B de Shya, feito em um mês e com orçamento reduzido (apesar dos 60 milhões soarem bem menos na tela) é bom (genial e vexatório em alguns momentos). Fica aquela sensação incômoda de “quase”.

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The Village

A Vila – M. Night Shyamalan – 2004 – ****

Havia admirado alguns aspectos de “O Sexto Sentido” e “Corpo Fechado”, filmes que catapultaram o diretor M. Night Shyamalan para um nível de adoração absurdo. Gostado, mas não considerado “obras primas inesquecíveis”, como boa parte da crítica. “Sinais”, me decepcionou, não só pelo roteiro furado quanto pelo filme bem meia-boca, em si, além de eu não gostar da temática de ET’s e OVNI’s por achar ridícula demais.

De lá pra cá, abandonei Shyamalan. Um exercício de ranço e má vontade que, após assistir “A Vila”, não se justifica. De longe (mas de longe), a melhor obra dele. Conceito e execução geniais, dum filme quase infalível que, agora sim, justifica sua condição de “gênio”. Seja pela fotografia irretocável de Roger Deakins (mestre), explorando como poucos a luz, sombras, as cores e o ambiente, seja pela câmera estilosa de Shyamalan, conseguindo fugir do óbvio dentro de um estilo já tão saturado, passando ainda pelo ótimo elenco, onde se destaca um transformado Joaquim Phoenix e a tensa Bryce Dallas Howard.

Como se tornou marca do diretor indiano, “A Vila” é um filme de metáforas, referências, alusões e sinergias. Dos “sentidos”, em suma. A dualidade do vermelho-amarelo, a nuance bíblica, a questão do “perceber/ver”, coisas diferentes que exaltam a sensibilidade e a cegueira da maioria dos personagens  (não de Ivy), a própria utopia (de Thomas Morus a Aldous Huxley) da criação da Vila, trazendo uma relação direta com a situação do mundo atual e a vida urbana que, clichê ou não, é real e bem feita no longa.

E o roteiro, surpreendentemente, funciona e não possui falhas. Um ótimo suspense dentro de uma bela estória de amor (ou vice-versa) e uma fábula moderna da condição humana, Shyamalan consegue reunir na película inúmeros elementos interessantes e bem construídos, aliado à um talento artístico, uma direção e equipe admirável.

Aprendi a não subestimá-lo e, em troca, ganhei um grande – e delicado – filme, cheio de plástica e essência, coisa que poucos são capazes de fazer.

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