“É um gênero de trabalho (a reportagem política) que só se pode fazer com alguma eficiência quando a gente se dedica a ele continuamente, todos os dias e quase todas as horas. O repórter precisa viver a vida dos políticos, andar no meio deles, embeber-se de suas ideias, seus planos, suas indecisões, birras e veleidades, acostumar-se à sua linguagem e seu ambiente. Embora entre os políticos de, praticamente, todos os partidos, haja pessoas pelas quais eu sinto amizade e admiração, confesso que me senti meio desolado com a experiência. Tive muitas vezes a impressão contristadora de estar trabalhando no vácuo, de estar levando a sério muitas coisas que na verdade não tem a menor importância.
Imagino perfeitamente como deve se sentir um colega qualquer da crônica política – e hoje temos vários e brilhantes – ao reler alguma coisa de três ou quatro meses atrás. Quanto esforço perdido em tirar deduções de tolices, em descobrir intenções em palpites vãos, em dar sentido a movimentos e fórmulas horrivelmente vazios. Ainda que frequentemente contando com homens de inteligência superior, nossa vida política é, em seu jogo diário, de um nível mental espantosamente medíocre. Mental…e moral. Há uma cansativa tristeza, um tédio infinito nesse joguinho miúdo de combinação através dos quais se resolve o destino da pátria. (…) Tenho pensado às vezes na paciência enorme que precisam ter aqueles que, metidos nesse bruaá monótono, lidando com tanta mediocridade ambiciosa e fátua, lutam por uma ideia, preservam uma consciência. Como a coisa vai indo, um grito não bastará mais para paralisar essa pantomina de sonâmbulos e inconscientes. Será preciso um berro forte, uma explosão de todas as consciências oprimidas e exaustas para despertar o Brasil.”
(Rubem Braga, Diário de Notícias, 24 de julho de 1949 in “Bilhete a um Candidato & outras crônicas sobre política brasileira”, páginas 37 e 38, editora Autêntica).