Jornalismo

Imitação

Ninguém gosta de ler. Algo assim. Que pára. De dois. Em dois. Segundos. Sou do tempo. Em que. Pára. Ainda. Tinha acento. Agora acho. Que não tem mais.

Jornalismo. Objetividade. As pessoas. Confundem. Informação. Com regras. E extremos. Transformam isso. Em “estilo”. É tão difícil explicar. Que há “textos”. E “textos”?

Pobre do jornalismo. Esportivo. É claro que vocês sabem. De quem. Estou falando. Não?

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Jornalismo

Revistas: Blender e SET chegam ao fim

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Na última semana duas revistas “tradicionais” chegaram ao fim. Nos EUA, a Blender, mesmo com tiragem em torno de 1 milhão de exemplares (segundo consta), acabou. A revista, fundada em 94, era querida pelo público de cultura pop, muito elogiada por bons jornalistas, coisa e tal. O site continua no ar e deve permanecer. O grupo que a publica resolveu continuar apenas com a Maxim, revista masculina (de onde a VIP se inspirou). Maxim que inclusive passou a circular em edição nacional recentemente.

No Brasil, os boatos que davam conta do fim da SET se confirmaram. A revista, fundada em 1987, iria fazer 22 anos. Sem dúvida foi a mais importante e influente revista de cinema por aqui. Foi casa de gente competente, apesar de ter caído nos últimos anos. Pessoalmente, só acompanhei de fato a SET entre os anos de 98 e 99. De lá pra cá, li uma ou outra edição esporádica. A notícia foi publicada primeiramente no Omelete (e retirada do ar), depois confirmada pelo Pablo Villaça em seu blog. O blog do seu editor, Roberto Sadóvski, traz os detalhes da última edição, de abril, já pronta (mas que na verdade não se sabe se chegará as bancas). A equipe busca agora uma nova empresa que possa se interessar por sua publicação. Ano passado, a Companhia Brasileira de Multimídia (dona da editora Peixes e também do jornal Gazeta Mercantil), já tinha fechado cinco revistas: Terra, Dom, SKT, Speak Up e Habla!.

Não é de se espantar, claro. Se lá fora revistas com muito mais vigor (econômico, etc), estão chegando ao fim, é natural (e esperado) que muitas revistas brasileiras comecem a acabar. O quadro não é novo. Muitas publicações de qualidade, como Bizz, Zero, Paisá, Play, dentre outras, não tiveram muita sorte.

Apesar de todas as análises previsíveis sobre o jornalismo impresso que explodem por todo lugar (derrocada, falência, internet, bla bla bla), ainda sou otimista. Mesmo com jornais e revistas fechando em todo o mundo, acho que a coisa não é tão apocalíptica assim. A circulação de jornais no Brasil, por exemplo, cresceu 5% em 2008. Surpreso? Em 2007 o aumento foi 11,8% e em 2006 de 6,5%.

Sou fanático por impresso. Me formei lendo revistas, livros e jornais, todos em papel (claro). Não é só o charme, a melhor condição de leitura, a diagramação bem feita, a informação de qualidade…o suporte em papel tem características e atrativos que nenhum avanço tecnológico/mudança midiática pode suprir,ou se equiparar. Muito mal comparando, é como se, no futuro, pudéssemos ter, em holograma, na sala de casa, um show em tempo real com excelente qualidade de som, etc.

Nada substitui a experiência prática. O cheiro, o tato, a portabilidade, etc. Antes de ser papo nostálgico, desconfio que há um número considerável de pessoas (velhas e novas) que sentem o mesmo. Desconfio dessa história de que daqui a 10 anos todas as publicações impressas terão acabado (ou 90% delas). Previsões costumam estar erradas na imensa maioria dos casos.

Há 5 anos atrás não imaginavámos 1 milésimo do que iria ocorrer. Somos pretensiosos demais. Let it roll.

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Artigos/Matérias/Opinião, Política & Economia

Estudo de caso: revista Veja

Artigo originalmente escrito em 12.10.2005

Estudo de caso: revista Veja

Por Maurício Gomes Angelo

A Veja, maior revista do país, e tida como referência pela sociedade, é acusada historicamente de ser direitista e “tucana”, o antro, par excellence, da burguesia nacional. Para alguns, a acusação é um disparate, para outros, nada mais óbvio e perceptível. Veremos o quanto de verdade há nisso.

Para tanto, pegaremos uma recente edição da revista, número 1925, 5 de outubro de 2005, ano 38. Sua matéria de capa, “7 razões para votar não”, já fora dissecada em meu artigo anterior, “Duplo Assassinato”, logo, pinçaremos outros pontos que não os presentes na reportagem principal.

Como revista de maior tiragem do território nacional, usada como fonte por escolas e faculdades, tradicional, respeitada, e portanto, muito influente, o mínimo que se poderia esperar é um jornalismo austero, equilibrado, imparcial, de qualidade inquestionável. Não é, infelizmente, o que acontece.

Sabe-se que, naturalmente, todo meio de comunicação possui sua ideologia própria, suas regras internas, sua cartilha de produção, os assuntos que, a critério da edição, irão ser tratados, destacados ou amenizados, sua lógica de trabalho, a ótica pela qual todo texto presente em tal veículo deverá passar. Nada, que não seja adequado à “ideologia”, ao modelo, que determinado meio adota, poderá figurar em seus quadros. A linha adotada por Veja, é, inegavelmente, o tom direitista de análise. As mãos dadas com o establishment. A deturpação da filosofia marxista. A ridicularização da revolução – termos como “utopia anacrônica” figuram quase que semanalmente em suas páginas. O ataque, indiscriminado, a tudo que sirva aos seus interesses de persuasão. As mínimas brechas para que sua verdadeira face venha à tona são exploradas avidamente, como num exemplo que darei logo abaixo.

Na primeira coluna da edição supracitada, “Ponto de Vista”, da escritora Lya Luft, intitulada “Tirem as crianças da sala”, trata-se sobre a vergonha da presente “crise” instalada em nosso país e de que tipo de reações ela suscita, logo no início, Lya diz: “melhor dizer que, sim, estamos neste período; então, como agir de modo eficaz para que a situação melhore dentro do possível? Isso é realismo político, que nos falta num Brasil em que se encontra uma utopia em cada esquina, uma ideologia para cada gosto: marxismo terceiro-mundista, cristianismo revolucionário, todas as formas de messianismo, nacionalismo desenvolvimentista e por aí vai.”

Iniciada a sessão de ridicularização gratuita. Imaginem quais a sensações do leitor incauto, leigo no marxismo, diante dos recorrentes ataques de Veja. Eles sempre se limitam a abordá-lo pejorativamente, nunca sob a ótica filosófica, não podem explica-lo, porque isso destruiria com seus argumentos pífios – quando se têm argumentos.

Na seção “Cartas”, a primeira mensagem reproduzida é a de Manoel Amâncio Feitosa Ramos, de Xique-Xique, Bahia, que diz o seguinte:“Veja mais uma vez presta um grande serviço ao país. Desvendou uma máfia que atuava no futebol (ele se refere a edição anterior da revista e a reportagem “Máfia do Apito”), como se já não bastasse o trabalho brilhante que a revista vem desenvolvendo na política ao longo dos anos (“Jogo sujo”, 28 de setembro). Como, por exemplo, o pontapé inicial para o impeachment de Collor, a denúncia de compra de votos para a reeleição de FHC, a quadrilha que atua no (des) governo de Lula, o mensalinho de Severino Cavalcanti. Veja e o Brasil são os grandes vitoriosos”.

Esta carta, estrategicamente posicionada, é prolífica pois nos permite explorar algumas coisas: a exaltação indireta da revista (já que não foi feita pelo próprio veículo), a reivindicação de um papel fundamental ocupado por Veja na história do país, e, principalmente, o disfarce contido na frase “a denúncia de compra de votos para a reeleição de FHC”. O fato de Veja ter denunciado uma corruptela do governo FHC poderia servir de argumento para amortizar a acusação de “tucana” feita à revista. Ora, este enigma é simples de decifrar. A manipulação não pode ser descarada, Veja não pode estampar em suas páginas os dizeres “estamos a serviço da burguesia brasileira”. E a melhor forma de ocultar isto é denunciando as próprias falhas de seu grupo querido. Esta estratégia é tremendamente eficaz porquê, além de despistar a verdadeira ideologia da revista, a permite se auto-intitular (e passar para o leitor a idéia de) “idônea” e “implacável”. Contudo, o caso citado (corrupção no governo de Fernando Henrique), não originou nenhum escândalo de maiores proporções. E ninguém parece se lembrar do ocorrido.

Ainda na seção cartas, é concedido o direito de resposta a Luís Antonio Giron, que declara: “quero esclarecer que o aparelho i-Pod, enviado aos jornalistas de música dos principais veículos da imprensa, inclusive para mim, colaborador da revista Época, foi devolvido à assessoria de imprensa da cantora Maria Rita, intacto. Meu trabalho como crítico sempre se pautou pela independência e jamais aceitei nenhum tipo de oferta em troca de minha liberdade de opinião. O cd Segundo (Warner) de Maria Rita é de ótima qualidade, e a cantora obteve na imprensa o espaço merecido.”

Logo após, Veja indica para o leitor a reportagem na pág. 115. Vamos a ela. De título “O mensalinho da filha de Elis” – construção de um mau gosto impressionante – o texto insinua que Maria Rita, filha da cantora Elis Regina, e queridinha da mpb “nova geração”, precisou de “jabá” para que a divulgação de seu segundo disco fosse positiva. A gravadora Warner doou i-Pods, tocadores de mp3 da Apple, a última mania mundial, aparelhos que custam entre 600 e 1000 reais, para trinta críticos de grandes veículos da mídia nacional. Bem, a Warner tinha uma justificativa: o brinde era necessário porque o disco atrasou na fábrica e com ele os jornalistas que iriam entrevistar a cantora poderiam ouvir suas músicas de forma mais prática. A Veja cita isto, mas condena a prática, afirmando veementemente que se tratou apenas de uma maneira de tentar aliciar os jornalistas, e cita exemplos de que o i-Pod surtiu efeito. Praticamente todas as críticas em jornais e revistas brasileiras foram positivas, quando menos, foi adotado um tom conciliador, naquele estilo “é uma fase de transição”. Giron é citado na matéria de forma indireta, neste trecho “no caso do jornalista da Época, a Warner matou dois coelhos de uma cajada – deus! um clichê terrível! o redator – não creditado – não leu o manual? Como deixaram passar tal coisa? – ele escreveu uma matéria simpática na revista e outra mais elogiosa ainda na Bravo!, publicada pela editora Abril, o mesmo grupo de Veja.”

Com relação ao pseudo-mea culpa da última frase, quando Veja critica seu próprio grupo editorial, resgato a técnica exemplifica na análise da primeira carta que fiz acima. Ela almeja afirmar com isso que, independente de outros deslizes de sua editora, a revista permanece como ilha inatingível de competência e seriedade. Tente não rir. Só para externar minha opinião, creio que a música de Maria Rita é, sim, muito boa. Ela peca apenas pelo excesso de “garbo e pompa” de sua interpretação, soando forçado demais.

É óbvio que esta matéria de gosto duvidoso terá muito mais repercussão do que o direito de resposta de Giron. Aliás, é curioso notar que a resposta do jornalista foi publicada na mesma edição da reportagem, coisa que nunca acontece. Antes de ser algo positivo, isto expõe o frágil jornalismo praticado. Se a revista recebeu a retratação a tempo, nada seria mais natural do que limar a citação a Giron na matéria. Contudo, parece que a preguiça, o desleixo, e especialmente, a sede por criar polêmicas, foi muito maior que qualquer preocupação ética. Lastimável.

Na seção “Radar”, de Lauro Jardim, temos o tradicional “sobe” e “desce”, pesando os acontecimentos da última semana pelo viés do sucesso ou fracasso. No quesito sobe está presente Aldo Rebelo, e a seguinte frase: “o deputado comunista foi eleito presidente da Câmara”. Não podem deixar de dar ênfase a comunista, nem adotar um tom mais adequado, como simplesmente citar PcdoB. Será que se o candidato eleito fosse de qualquer outro partido o tratamento dado seria semelhante? Ademais, tenho minhas dúvidas sobre o “comunismo” de Aldo Rebelo. É impensável que um comunista de verdade compactue com o lamaçal do governo Lula. E, na confusa política brasileira, recheada de siglas vazias e sem expressão, onde políticos trocam de partido indiscriminadamente, visando apenas as facilidades que irá conseguir para se eleger, é perigoso criar algum elo de criação muito forte entre a sigla e o seguidor, infelizmente.

E falando em mudança de partidos….no texto “PT? Que PT?”, Mônica Weinberg retrata a debandada em massa do partido dos trabalhadores nos últimos dias do prazo para que isto fosse feito, salientado a saída de figuras históricas como Hélio Bicudo, Cristovam Buarque e Plínio de Arruda Sampaio. Plínio justificou-se dizendo que “o PT rendeu-se ao neoliberalismo e a política de privilégios aos estrangeiros”, linha seguida pela maioria de seus companheiros. Mônica desconfia – com razão – de tal argumento, e questiona o porque de isto ter sido feito só agora, mas sentencia “a debanda maciça de petistas neste momento, portanto, está longe de ser uma opção ideológica: é fruto, isto sim, do pragmatismo dos que não querem ser contaminados pela lama na qual a sigla chafurda hoje. E consulta o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues, que finaliza: “A ideologia é uma máscara. O que está em questão é a sobrevivência política de cada um.”

Dou toda razão para que a debandada seja analisada com cuidado, mas um motivo muito aceitável para que ela tenha ocorrido neste momento não é citado na matéria: as eleições do PT tinham acontecido recentemente, e a ala tida como “radical” – entre eles grande parte do que saíram na última semana – foi derrotada e não passaram para o segundo turno. Acho normal, que, não conseguindo mudar a sua sigla pelas vias normais, considerando que era a última chance para que isto acontecesse antes das últimas eleições, os insatisfeitos, muitos deles fundadores e, portanto, com uma ligação fortíssima com o PT, resolvessem, apenas obrigados, finalmente sair. Mas Veja não pode cogitar isto, é muito mais fácil joga-los todos na laia dos aproveitadores e agredir a ideologia que defendem.

Em “Operação Saci” – mais um título desprezível – de Otávio Cabral, sobre a vitória de Aldo Rebelo, é dito: “com sua eleição para presidir a câmara, o deputado Aldo Rebelo, esse afável comunista que fez carreira como admirador da Albânia e do Saci-Pererê, deflagrou uma temporada de festas no arraial do governo”. Preciso comentar?

Otávio segue, acertadamente, expondo a forma com que a eleição de Aldo Rebelo foi conseguida: em troca de cargos em órgãos públicos, liberação de verbas para deputados, enfim, afagos e concessões diversas a “aliados” sangue-sugas, numa abundância de práticas pouco recomendáveis. Mas, tristemente, muito ortodoxas. Tal coisa faz parte daquele famoso hall “situações que todos conhecem”. È prática recorrente, desde tempos imemoriais, em todos os partidos e em todas as épocas da política brasileira. O que, claro, não a isenta de ser reprovável. Só observamos o tratamento ainda mais ácido e incisivo com que tudo é descrito, porque se trata do PT e porque a esquerda, e qualquer tentativa de mudança social, tem que ser extirpada a qualquer custo. Ainda que o ParTido (créditos a Janus Mazursky) já tenha deixado de representar esta bandeira há muito tempo.

A coluna de Tales Alvarenga, de nome “Erramos, senador”, é deveras suculenta. O senador em questão é Jorge Bonhaussen, do PFL. Aqui, qualquer cuidado é deixado de lado. “Erramos, senador” revela uma cumplicidade assombrosa, uma coerência de opinião entre dois “amigos”, que se confundem ao mesmo tempo. Os dois estavam errados. E, segundo Alvarenga, os dois estavam errados porque “a raça das formiguinhas socialistas não debandará. Na sua utopia anacrônica, as formigas falarão com as paredes. Mas continuarão por aí, esfregando ansiosamente suas patinhas, à espera do Grande Dia”.

É só procurar com cuidado, que, pouco-a-pouco, sua verdadeira face vai se revelando sem máscaras. Eles esperavam que, diante da “crise” detonada, o socialismo fosse definitivamente aniquilado. Quanta ingenuidade! E, não sei o que o socialismo tem a ver com a “crise”, o PT, e tudo mais. Como já ressaltado infinitas vezes aqui no Duplipensar, por mim e por vários outros nos mais diversos veículos – vamos nos auto-citar – : “Qualquer nuance de ideologia revolucionária está a anos luz deste abismo medonho”.

Nos assuntos diversos, quando trata do esporte, da cultura, da sociedade, comportamento, meio-ambiente e saúde, Veja é competente, faz o arroz com feijão sem maiores percalços e consegue identificar temas relevantes para o interesse de seu público. No entanto, quando acha qualquer brecha para nos gratificar com sua ideologia, o resultado é desastroso.

E, finalmente, temos a cereja do bolo – sim, meus amigos, um clichê, tremendamente apropriado.

Na seção “Notas”, onde é listado acontecimentos diversos da última semana, mortes, curiosidades, prisões, julgamentos, etc, encontramos o seguinte achado (reproduzido na íntegra):

Encontrada uma tartaruga de água doce com duas cabeças, em Havana, Cuba. Os cientistas especulam que a anomalia se deva à poluição nas águas do Rio Almendares. Batizada de “Tina”, a Trachemys decussata tem pescoços e cabeças distintos, que se alimentam de forma independente. Biólogos farão um estudo completo das espécies que vivem no local para saber se há outros mutantes”. Tudo tranqüilo até agora, certo? Apenas uma nota cientifica normal, sem nenhum desvio. Calma, temos o gran finale:

“A preocupação agora é que, se um dia esse tipo de mutação ocorrer em seres humanos cubanos, o regime castrista terá mais trabalho com a degola de dissidentes”.

Aplauda de pé. Eu lhe peço. Essa mereceu!

Agora recomponha-se. Novamente, tal trecho fala por si só.

É impressionante a quantidade de “peculiaridades ideológicas” que podemos encontrar numa única edição desta revista. É chocante e lamentável, independente de qualquer coisa, profundamente lamentável, que a maior e mais influente revista do Brasil seja tão anti-jornalística e de conteúdo impróprio para pessoas inteligentes. Devorá-la para analisá-la é um mal do qual fui refém.

Não termino este artigo satisfeito, nem feliz.

É triste constatar que minha profissão é tão mal tratada, agredida e manipulada grotescamente. Que muitos leitores ficam reféns desta rapsódia repugnante.

Um minuto de silêncio, por favor.

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Literatura

Jornalismo – Nas Entrelinhas Do Caos

Eu nunca tive ilusões com o jornalismo. Nunca achei que fosse encontrar um mercado fácil, um curso empolgante, que fosse me maravilhar e ter orgasmos múltiplos a cada aula, cada matéria. Jamais tive a esperança de adentrar uma redação, ter algum talento/esforço/dedicação/interesse reconhecidos, colocar em prática o ideal (suspeito) de “servir à sociedade” e salvar o mundo. Não dou pra super-homem. A realidade é – e sempre foi – um pouco menos colorida. Talvez o jornal não seja preto-e-branco à toa.

Também nunca “decidi” que seria jornalista. Não foi uma decisão mecânica nem um sorteio dentro de um guia do estudante qualquer. Processo natural que culminou num caminho estranhamento óbvio. Sou tarado por informação. Extremamente curioso. Com sede de saber, um pouco mais, daquilo que gosto. Desde novo, a partir dos 10 anos – que me lembro bem – viciado em games e, posteriormente, cinema e música, comprava religiosamente, todo mês, revistas relacionadas a estes assuntos.

E costumava sonhar com jornais prontos frequentemente. Quando ia dormir pensando muito em algo ou querendo saber o resultado de alguma coisa, ou mesmo de modo esporádico, visualizava, perfeitamente, no sonho, toda a matéria de um jornal ou revista, lendo atentamente e acordando achando que aquilo era real! Depois veio, mais forte, a música. E o profundo interesse por ela. Lia, pesquisava, descobria, ouvia, trocava, vivenciava. Paralelo à música, a literatura. Gordinho, tímido, introspectivo, calado, rato de biblioteca, gamer, fascinado por todo aquele universo novo que se desdobrava.

Daí, não sei como nem onde, porque, quem, quando, comecei a escrever. Sem nenhuma pretensão, passei a escrever texto sobre música. Tentando compreender, interpretar e analisar as bandas que ouvia. Para publicá-las na internet, foi um passo. Gradativamente, melhorei, amadureci e me formei na mesma medida em que praticava a escrita, ora, na prática. E aprendi coisas simples na brincadeira: jornalista não é formado, cria-se. E que interesse, pesquisa, curiosidade, cara de pau, leitura, confiança, humildade e determinação são mais do que fundamentais. A faculdade foi conseqüência. Escrever textos bestas como este, também. Aprendi que nada acontece se você não fizer com que aconteça.

Eu nunca tive ilusões. Portanto, nunca me decepcionei. Às vezes, cometo erros propositais, provoco, insisto e bato de frente. Se eu não tiver o prazer de me divertir e incendiar, não tem graça. O engraçado é que o jornalismo, muitas vezes, transita entre o profundamente aborrecido e insuportável, e a imensa satisfação e desejo. Sejamos francos, na mídia tradicional, o jornalismo está morto. Para não ser tão rigoroso, digamos que uns 10% do que é produzido vale – muito – a pena. E tudo aquilo de bom que é feito me faz continuar a acreditar nessa profissão tão maltratada.

Ninguém, em sã consciência, optaria por uma carreira dessa: má remuneração, muitas horas de trabalho, mercado saturado, inchado, insuportável, reino dos jabás, da democracia da cosa nostra, da puxação de saco, disponibilidade quase integral para o veículo, superiores tiranos, nenhuma regulamentação, consciência de classe inexistente e sindicato inoperante, código de ética totalmente desrespeitado, dificuldade de ascensão na carreira, meio infestado de amadores, possibilidades de emprego escassas, estágios não remunerados, mais de 30 mil profissionais formados no país, expectativa média de 10 anos de atuação para os bravamente persistentes, mão de obra gradativamente mais barata, pouco reconhecimento, alta rotatividade e o mercado local, pasmem, ainda mais ingrato e restrito que outros países do mundo.

Afinal, o que leva um ser humano em suas perfeitas faculdades mentais a se formar em jornalismo? Juro que não sei responder a esta pergunta. Talvez uma parte entre iludida com ideais de fama, glamour, sucesso, dinheiro (a realidade de 3% da classe). Outros apenas por ser uma das opções que tinha em mente, curiosidade, sorteio. Outros tantos, ainda, de fato bem intencionados, querendo fazer um bom trabalho dentro do “quarto poder”. E outros, simplesmente, porque não se imaginam fazendo outra coisa na vida – parcela dos quais me incluo. Mas sei que a possibilidade é simplesmente, real.

Pior. No jornalismo, muitas pessoas atuam porque acham que podem fazer o trabalho que um profissional faria. Afinal, escrever, está aí, ao alcance de todos. Um release, uma notícia, uma “crítica”, uma matéria, uma entrevista…todos acham que com um pouco de interesse consegue “dar conta”, levando muita gente que passou longe de uma formação acadêmica a atuar na área e roubar vagas de quem, em tese, deveria as estar ocupando. Há um problema sério nisso: jornalismo, realmente, não se aprende na universidade. Ela não chega a ser inútil, mas o principal, a parte funcional da profissão, que nos é ensinado na teoria e na prática, não chega a ser um mistério. É inconcebível (e a sociedade não aceita, bem como os conselhos de cada profissão não permitem, órgão inexistente no jornalismo) que um engenheiro, médico, professor, advogado, economista, etc, atuem sem terem um diploma. Além de ser uma profissão que se regulamentou tarde, herdando muitos profissionais antigos, formados na prática, todo mundo acha que pode fazer o trabalho que um jornalista faz.

Vai piorar: muitos cursos superiores, seguindo as mudanças das normas do MEC, passarão a ser de apenas 2 anos, englobando somente a parte técnica do jornalismo e excluindo as disciplinas “humanas”, de formação, reflexão, teoria, cultura. Além de isto aumentar a velocidade com que supostos “profissionais” são jogados no mercado, ainda destrói a já precária formação acadêmica de um repórter. Se ter a capacidade de pensar e refletir, o arcabouço teórico e o background cultural já são predicados escassos, os verdadeiros macacos que sairão destas instituições conseguirão a proeza de estar incontáveis níveis abaixo dos símios que hoje são formados. O grosso, as “técnicas” do jornalismo são tão óbvias e fáceis que muitas vezes, pra mim, tornam-se insuportáveis. É preciso descer alguns níveis, transmutar-se num ser um pouco mais burro do que já é para fazer tal matéria. E isto é difícil. Parece engraçado, ou exagero, mas não é. A inteligência, no jornalismo, não é muito bem vinda (muito menos do que seria saudável ou se gostaria de admitir).

Se o prospecto é ruim, e tende a se agravar, só me resta parafrasear o REM: este é o fim do mundo, como o conhecemos, e eu NÃO me sinto muito bem.

Mas não é só apocalipse que resta.

Na verdade, além de utópico e um pouco masoquista, o jornalista encontra alguns benesses na profissão, mas, sobretudo, há o prazer de escrever, conhecer, divulgar, encontrar coisas novas, excitantes, desafios diários entre a pressão, o mau humor, os goles de café, a saúde que vai pro ralo e o salário risível no fim do mês. Mesmo com tudo, consegue ser uma profissão fascinante, divertida, curiosa, recompensadora.

Há pessoas que tem isso no sangue. Que nasceram com palavras correndo em suas veias. Com uma sede impetuosa de conhecimento, informação, cultura…e de compartilhar isto. Como sempre, o que não encontra muita racionalidade, a paixão explica. Uma parte de inclinação, também.

Vivemos em dias estranhos, disse Jim Morrison há mais de 40 anos atrás. Atualmente, isto parece mais “verdadeiro” do que nunca. Há que se ter persistência, desejo, ímpeto, força…e competência, ânimo. Crescer dando murro em lâmina. E melhorar com isso. Não sei como a equação se resolve, repito, “é como se você pegasse o ontem, o hoje, e o amanhã”. Não dá pra dizer o que irá acontecer. E esta, afinal, é a graça da vida.

“Strange days have found us
Strange days have tracked us down
Theyre going to destroy
Our casual joys
We shall go on playing
Or find a new town

Yeah!

Strange eyes fill strange rooms
Voices will signal their tired end
The hostess is grinning
Her guests sleep from sinning
Hear me talk of sin
And you know this is it

Yeah!

Strange days have found us
And through their strange hours
We linger alone
Bodies confused
Memories misused
As we run from the day
To a strange night of stone”

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