Filmes

Lula: a história nas telas

Publico abaixo a matéria que foi capa da revista Movie de janeiro de 2010, época de lançamento do filme “Lula, O Filho do Brasil”, contendo uma entrevista que fiz com Glória Pires durante o 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e uma crítica da película. Pela primeira vez na web. Revi o filme esses dias e a impressão permanece a mesma.

Glória Pires: a grande dama do cinema nacional

Atriz, presente nos maiores sucessos de bilheteria nos últimos anos, faz seu papel principal no cinema ao interpretar a mãe de Lula

Sem ignorar outras inegáveis grandes atrizes brasileiras, é inquestionável que Glória Maria Cláudia Pires de Moraes tem cheiro de povo. Os números não mentem: nesta década, os filmes protagonizados por ela levaram mais de 10 milhões de brasileiros ao cinema. Especialmente nas parcerias com Daniel Filho: A Partilha, de 2001 e os blockbusters Se Eu Fosse Você, de 2006, e sua continuação, de 2009.

Impressionante, porém pouco se comparado aos 20 milhões de espectadores que são esperados para “Lula, O Filho do Brasil”. Pelo menos este é o desejo e a expectativa de Luiz Carlos Barreto, produtor do longa. Não sem motivo. A popularidade mundial de Lula ancora o lançamento em mais de 500 salas e facilita acordos de distribuição sendo costurados em toda América Latina. A marca, se alcançada, será quase o dobro do até agora campeão absoluto que é “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de 1976, com aproximadamente 11 milhões.

Para Glória, atriz acostumada a ser assistida por milhões de brasileiros todos os dias durante décadas na tela da Globo, esse tamanho assusta? “Assusta. Acho que se a gente fica pensando nisso, essas possibilidades que estão surgindo, travaria. Ainda bem que só estamos tendo acesso a isso agora com o filme pronto, porque se fossemos fazer sabendo de todo esse peso…não dava pra fazer nada, seria um bloqueador.”

Realmente, levar a mãe de um dos personagens mais icônicos da história do Brasil para as telas é um trabalho complicado. Dona Lindu, magistralmente interpretada por Glória, é nitidamente o eixo por onde “Lula, O Filho do Brasil” se move. Lindu personifica não só o estereótipo da mãe aguerrida, batalhadora, que teve de assumir boa parte da criação dos filhos sozinha, a exemplo de tantas histórias de outras brasileiras, como é a principal influência de Luiz Inácio. A quem o atual presidente deve parte fundamental de seu caráter. Como interpretar uma personagem real de tamanha importância mas sem muitos registros de sua personalidade? “Foi muito com os familiares. As informações foram só com eles. Não havia nada escrito sobre ela, nada gravado, apenas algumas fotos. Fomos buscar tudo nos relatos familiares: filhos, primos, sobrinhos netos.”


Os olhos de Glória brilham numa quase devoção ao papel. Nota-se, na fala da atriz, a paixão pela essência de Lindu, a profundidade com que se entregou a ela: “Eu não sabia nada dessa história. Então foi uma grande surpresa descobrir como tudo surgiu. E o que me encantou muito foi a forma como as pessoas que conheceram a Dona Lindu até hoje se emocionam ao falar dela. Do jeito dela, da positividade que ela tinha, da forma surpreendente de lidar com as adversidades, que não foram poucas.”

Dentre todas as personagens marcantes em mais de 40 anos de carreira, o que mais fascina em Lindu? “A positividade, essa forma de olhar pro futuro e caminhar, apesar de tudo. A capacidade de surpreender em suas atitudes. Ela não tinha estudo, mas uma grande intuição, uma inteligência emocional muito forte. E é maravilhoso porque tudo isso é verdade. As coisas realmente aconteceram: a enchente, a viagem de 13 dias e 13 noites, a morte dos filhos, ainda bebês, tudo isso aconteceu de fato e ela sempre com a sua maneira positiva, valente, destemida. Ela tinha um orgulho, mas não era orgulhosa. Uma retidão sem ser prepotente. Uma força sem ser resmungona. Sempre rindo, bem humorada. O resultado dessas qualidades é que a torna forte, capaz de encaminhar todos os filhos bem, com suas vidas organizadas. O amor, que é tudo que a gente pensa quando falamos de ‘mãe’, essa coisa do amor incondicional, fazer das tripas coração. Sempre com alto-astral e acho que isso tá no filme. Muito nítido”.

E como é interpretar um personagem real? Mais difícil que o comum? Como equilibrar as coisas? “Na verdade, acho que é difícil porque você tem um resultado que é real. Quando você interpreta uma pessoa real, tá recriando algo que aconteceu. Por um lado é mais fácil justamente por causa dos testemunhos que você recebe, tem um peso diferente. O tempo todo ficava pensando, enquanto fazia, que os filhos dela irão assistir ao filme. Então queria da melhor forma resgatar essa mulher para que eles tivessem um desdobramento da imagem que ficou lá atrás. Afinal de contas, o tempo cria um distanciamento muito grande e não queria interferir de uma forma contrária, oposta ao que eles me narraram. Fiz muito para os filhos. Pensando nos filhos. Respeitando o que me passaram.”


O trabalho ao lado de Cléo e Fábio Barreto, a popularidade e a retomada do cinema

Lula” também marca a primeira que vez que Glória e sua filha, Cléo, atuam juntas, dividindo a cena. O que não estava previsto: “Na verdade atuamos juntas por acaso. Não tinha no roteiro nenhuma sequencia junta, onde houvese um diálogo. O Fábio (Barreto, diretor) que criou. Era o último dia de filmagem e ele me disse ‘não posso fazer um filme com vocês duas e não ter um diálogo’. A cena acontece depois do casamento da Lourdes com o Lula. Fiquei feliz, porque claro que tem toda uma coisa afetiva. O Fábio é muito amoroso, ele se preocupa com umas coisas que ninguém se preocuparia. Ele tem essa qualidade: dentro da loucura toda ele lembrar, pensar, que não tinha nenhum diálogo nosso e criar isso. Fiquei muito feliz, acho que ela tá muito bem no filme.”

A parceria de Glória e Fábio, na verdade, é antiga. “Índia, A Filha do Sol”, de 1982, marcou a estreia dos dois no cinema. Fábio estreando na direção e Glória consagrada por sucessos recentes na TV da época como “Dancin’ Days”, de 1978 e Cabocla, de 79. A parceria se repetiria anos depois em “O Quatrilho”, de 1995, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Glória relata a proximidade entre os dois: “O Fábio é muito fácil de conviver, porque ele quer todo mundo feliz. É muito difícil isso, a não ser que as pessoas entrem nessa. E ele tem essa preocupação. Ele é muito sensível, inteligente. É um amigo querido e assim tudo fica mais fácil. Temos bastante intimidade. Ele ouve muito, não tem nenhum problema de ego. Se alguém tem uma ideia boa, qualquer pessoa que seja, e a ideia for mesmo boa, ele vai usar. Não tem esse negócio de ‘eu sou o diretor e a bola é minha’, sabe? Tem sido ótimo ao longo destes anos todos”.


E qual é, afinal, a posição de glória sobre o aspecto “político” de “Lula, O Filho do Brasil”? “Eu não acho que seja um filme político. Existe uma expectativa muito grande, que é normal. E as pessoas veem o Lula como um homem político. Mas o filme não conta esta história. Conta o que vem antes, o que ninguém conhece. Acho que é só um alarde, a maioria das pessoas sequer viu, não sabem do que se trata. Na ânsia de ter que falar alguma coisa, acabam soltando isso.”

Após ficar alguns anos sem participacões no cinema, Glória começou a acumular um filme atrás do outro, justo no período crescente de participação do cinema nacional em termos de público nas salas, que passou de 5% a uma média de 15% do mercado, chegando a 23%. A que se deve esta constante (e bem vinda) aparição de Glória no cinema? “Esse retorno é culpa do Daniel Filho (risos). Fiquei um tempo muito grande de jejum de cinema. E, a partir de A Partilha (de 2001), que tava com o Daniel há muitos anos, ele acabou me convidando pra fazer. Era uma grande fã da peça, que ficou muitos anos em cartaz e adorava a Selma, que é a personagem que ele me convidou. E depois veio Se Eu Fosse Você (2006), Primo Basílio (2007), Se Eu Fosse Você 2 (2009), todos com a direção do Daniel. Ele foi muito responsável por isso, por me trazer de volta ao cinema. E é um trabalho mais intenso, até porque dura menos tempo, dá pra fazer vários. Fiz praticamente três filmes num ano (2008): Se Eu Fosse Você 2 em abril, É Proibido Fumar (de Anna Muylaert) em julho e em dezembro comecei a preparação do ‘Lula’. Três filmes totalmente diferentes, com propostas diferentes , o que foi muito bom.”

E como ela se sente sendo uma das responsáveis por alguns dos maiores sucesso de público dos últimos anos? Ela não seria o grande ícone do cinema nacional na atualidade? “Ah, eu me sinto uma sortuda. Porque foram meus amigos que me chamaram para fazer esses filmes. Pessoas que trabalharam comigo e eu tive a sorte de ser convidada e ter esse sucesso todo. O que eu levo em conta mesmo (na hora de escolher o projeto de um filme) é o roteiro, a possibilidade daquele roteiro virar um bom filme, quem dirige, a história que estamos contando e tudo. Na verdade os temas vão de encontro a determinado momento pessoal. No cinema é mais difiícil ter essa coisa de repetir personagem, normalmente não se faz filme toda hora. Na televisão é mais normal, mas no cinema é mais difícil. O que é determinante mesmo pra mim é quem me chama e a história que será contada”

Com 9 filmes no currículo desde a chamada “retomada”, sendo parte importante dela pelo próprio “O Quatrilho”, de 95, como Glória observa o desenvolvimento do cinema nacional, a mudança da recepcão do público e da própria mídia? “Eu vejo que existe esse crescimento, até com relação a imprensa, porque ela também tem uma série de ranços, vamos dizer. Fazendo filmes com o Daniel, eu vi demais isso, porque ele mesmo já fala, a imprensa vai dizer ‘ah, lá vem o cara fazer novela no cinema’. Que é um discurso batido, velho, rançoso e que não tem nada a ver. Cinema é cinema. Se você quer ter mercado, não pode falar com uma parcela do público, tem que falar com todo mundo. É muito simplista falar que o cara faz televisão no cinema. É meio burro isso. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.”

Iniciando 2010 com o maior lançamento da história do cinema brasileiro e num papel forte e marcante como é Dona Lindu, Glória tem toda a propriedade do mundo para falar. Enquanto observa a trajetória de “Lula, O Filho do Brasil” nas telas, Glória pode analisar com calma os diversos convites que recebe para novos projetos. Uma das maiores atrizes da dramaturgia brasileira em todos os tempos se despede com um sorriso no rosto e a satisfação de ter pleno domínio da carreira. Todos querem um pouco de Glória Pires. E ela sabe muito bem o que faz.


Lula: apoteótico, brega, problemático e popular como o Brasil

Filme busca sem cessar o “melodrama épico” forjado por Fábio Barreto

O que as palmas protocolares de um teatro apinhado com quase 2 mil pessoas, numa sessão tensa, turbulenta, repleta de políticos dos mais elevados cargos do país até o povão, curioso, ansioso, depois de duas horas do filme mais caro, de maior lançamento e mais esperado do cinema brasileiro recente significam? Exatamente o que “Lula, O Filho do Brasil” é. Um filme mediano, com problemas crônicos e lapsos de cinematografia artística. Uma obra que deixa um gosto estranho na boca. As palmas, que deveriam ser efusivas, são apenas frias, corretas. A consagração absoluta não vem.

O público, cansado pelas quase 4 horas que a sessão levou (incluindo o atraso) parece mais preocupado em sair logo do Teatro Nacional, acotovelando-se com outras centenas de pessoas na saída, que saudar o elenco, a produção e a primeira dama, Marisa, ali presente. Assim foi a premiére mundial de “Lula”, em Brasília. Como o próprio Barreto admitiu na coletiva do dia seguinte, o público riu quando “tinha” que rir, se emocionou quando “tinha” que se emocionar e assistiu tudo com profundo interesse e respeito. Os objetivos, afinal, foram cumpridos com louvor. A película entrega exatamente o que se espera dela: a epopéia real de um homem pobre, imigrante, que se formou em meio a uma família destruída, enormes privações financeiras, descobriu o amor, perdeu a esposa e o filho, foi preso, assistiu a morte da mãe, batalhou, viu-se líder sindical quase por acaso e acabou como presidente do Brasil.

A teimosia. A persistência. Perseverança. Características apregoadas quase com messianismo. Dentre todas as expectativas possíveis que a produção de “Lula” gerou, na verdade, algumas são principais. Tecnicamente, os R$ 12 milhões gastos são evidentes: a fotografia consegue dar a exata medida dos cenários: do sertão ao porto de Santos. Cenas como as da enchente pela qual a família sobrevive são realistas e fogem do padrão “duvidoso” que as produções às vezes carregam. Ao mesmo tempo em que atinge resultado aceitável e com algum brilho na maioria das cenas (Fábio nunca foi exatamente um mestre das câmeras), alguns momentos extrapolam o limite da pieguice. Como o beijo entre Lula e Cléo Pires com um coração brilhante de fundo. No extremo oposto, está o ápice que é a reunião sindical de inesperadas 80 mil pessoas, reproduzida com cuidado, de criação difícil (3 dias), mesclada com computação gráfica, material de arquivo e a presença de figurantes que realmente viveram a ocasião décadas antes.


A cena é, por si só, talvez a maior representante da alma de Lula. O homem que atinge e tem a multidão na mão pelo carisma, a capacidade de liderança, de fazer com que um estádio inteiro ouça o que tem a dizer em colaboração mútua. O que teima diante de todas as adversidades, imagináveis ou não. A música, de Jaques Morelenbaum e Antonio Pinto (mesma dupla de Central do Brasil), vai na esteira da intenção obsessiva de provocar emoções, sendo bela em alguns momentos e massante na maior parte do longa.

Milhem Cortaz, como o pai, Aristides, tem participação curta porém fundamental. Glória Pires sobra em cena. É ela toda a estabilidade de Lula e, por consequencia, do filme. Entre o ainda menino que perde o dedo e corre para os braços da mãe e o líder sindicalista capaz de domar multidões, Lula perde a esposa, o filho, o pai e a mãe. É pelo trauma, pelos golpes mais duros, que a personalidade e a trajetória de Luiz Inácio se forma. Para além de seus problemas artísticos, da superficialidade e planificação com que tudo é contado (35 anos em 2 horas), de algumas escolhas infelizes, “Lula” se impõe pelos inúmeros temas relevantes que toca: imigração, darwinismo social (depois demolido), alcoolismo, família, perseverança, amor, mercado, repressão e…política.

Lula” é um filme político? A interminável pergunta. Aquilo que os produtores são obrigados a responder incessantemente. O ponto preferido da mídia, da oposição. Não do público. “Lula” é um filme “apolítico” no máximo que a história de um personagem como Luiz Inácio dá para ser. No entanto, é importante ressaltar que jamais o caráter minimamente político da obra é no sentido eleitoreiro. A princípio, inclusive, Lula é mostrado como alguém que, se não chega a ter repúdio pela política, não se interessa por ela. Esnoba, foge, teme, desconfia. É empurrado pelo irmão, Chico. O tempo todo advertido que “esse negócio de sindicato não presta”.


Após a morte da esposa é que Lula, no filme, adquire outro tom. Outra postura. Ante a política e todo o resto. Ali ele quebra o mundo da infância, a timidez, o conforto. Assume a liderança do sindicato, “pra ocupar a cabeça”. A obra é nítida em mostrar que Lula entra na política pelo escapismo. Com o objetivo inicial de superar uma perda. O que, em tese, pode soar como algo não muito positivo para o público. Assim como a acusação de que Barreto mostra Lula como “um herói sem falhas” não encontra razão. Sim, ele é tido como estudioso, adepto da não-violência, defensor da mãe, romântico, etc. Mas aparece sempre bebendo, fumando. Também xinga, se exalta. Tem comportamentos dúbios. O mínimo de humanidade está ali.

Goste-se ou não de Lula, o presidente, há que se admitir que ele nunca precisou de filme algum para vencer dois mandatos e ter o nível de popularidade altíssimo e constante. Para não dizer que a transferência de votos (para Dilma ou qualquer outro candidato) é ciência complexa, longe do simplismo que a maioria parece acreditar e que já se provou tremendamente falha no passado.

O filme termina com o salto histórico e as imagens reais da posse do primeiro mandato, em 2002, em Brasília. Nos braços do povo. Ali o melodrama épico encontra seu auge. Autêntico e cambaleante como todo o resto. Dentre todos os problemas, como filme, que “Lula, O Filho do Brasil” possui, a história é forte por si mesma. Errática e torta. Por isso, mais humana. A sensação do dever realizado se confunde com o que poderia ser e não foi. Daí a necessidade de assisti-lo como ser humano, não partidário, não ideológico. Algo que, no fim, vale a pena fazer.

Maurício Angelo

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Além de Lula

Parece impossível refutar que Luiz Inácio Lula da Silva fez um dos melhores governos da história do Brasil. Infinitamente melhor que seu antecessor. Os números estão aí e comprovam. Números que se observam na prática, no dia-a-dia, na vida de milhões de pessoas. Os principais feitos:

  • Dobrou a média de crescimento do PIB, passando de 2,3% no governo FHC para 4% no governo Lula, chegando a 7,2% em 2010.
  • Aumentou expressivamente a renda média do brasileiro (PIB per capita): o crescimento médio no governo FHC foi de 3,5% e passou para 33,5% no governo Lula (sim, isto mesmo), chegando ao valor atual de 18.601.
  • Deu novo impulso ao crédito: passando de 24% em relação ao PIB em 2003 para 48% em 2010.
  • Redefiniu a pirâmide social do Brasil, inserindo milhões de pessoas na Classe C e tirando milhões da pobreza:

(clique para ampliar – revista Exame, 06.10.2010)

  • Dobrou o poder de consumo das famílias: passando de 1 bilhão em 2003 para 2,2 bilhões em 2010 em relação ao PIB.
  • Gerou 15 milhões de empregos formais (3 x mais que o governo FHC), deixando a taxa de desemprego como a menor da história: 6,7% atualmente.
  • Venceu a pior crise econômica mundial desde 1929, reduzindo ao máximo seus efeitos e conseguindo taxa de crescimento muito acima da média mundial.
  • Expandiu como nunca a Petrobrás, alavancada pelo descobrimento do pré-sal, que mostra investimento em pesquisas e inovação.
  • Transformou a educação superior com o Pro-Uni, inserindo 700 mil estudantes de baixa renda nas faculdades e universidades. Alunos estes que tem média de avaliação de 85%, muito superior aos demais. Criou dezenas de escolas técnicas em todo o país. Melhorou o nível das universidades federais.
  • Número de pessoas na universidade cresceu 57% de 2002 para cá. Hoje temos 5,8 milhões de universitários. O perfil também mudou. Há oito anos esse público era formado por 25% de pessoas da classe A, 30% da classe B, 39% da classe C, 5% da classe D, e 1% da E. Hoje, temos nas universidades, 7% de pessoas da classe A, 19% da classe B, 58% da classe C, 15% da classe D e 1% da classe E. (Época Negócios/24.11/2010)
  • Colocou o país como nunca no centro das atenções mundiais, passando a ter peso decisivo na política, economia, relações externas, etc.
  • Reduziu o desmatamento, o risco brasil, a dívida externa, acabou com a dependência do FMI.
  • Levou a taxa de juros ao menor nível histórico em abril de 2010 (8,75% ao ano), elevando depois para os 10,75% atuais. A taxa de juros para pessoa física, no entanto, é a menor da série histórica iniciada em 1994. (O Globo, 26.10.2010).
  • Sem falar em Copa do Mundo, Olimpíadas, o recorde menções positivas na imprensa internacional.
  • Corrupção? Nunca a Polícia Federal fez tantas operações, desmantelou tantos esquemas e prendeu tanta gente importante, independente de ligações.
  • Alcançou o maior ganho real do salário mínimo em todos os tempos.
  • Programa de habitação “Minha Casa, Minha Vida” gerando oportunidades de aquisição de casas próprias para pessoas de baixa renda e classe média, aquecendo enormemente o setor da indústria civil.
  • Mais dados? Recomendo a série de infográficos do BOB (aqui, aqui e aqui), além deste vídeo.
  • E sobre a falácia barata de que “boa parte disso” se deve a “herança” de FHC recomendo enormemente este artigo, que destrói com essa ladainha enganosa repetida exaustivamente por quem não tem argumentos.

Entendeu, cara pálida, porque Lula tem mais de 90% de aprovação? Porque Dilma foi eleita? Porque o país se encontra na melhor situação que jamais esteve? Porque a perseguição da mídia soa como bravatas desesperadas de puro ódio social? De perda do seu poder e influência?

Nunca encontrei nenhum – disse, nenhum – partidário da direita que fosse capaz de discutir saudável e habilmente os feitos do governo Lula, bem como refutar a maioria dos argumentos (já que, os números, desculpa, não dá pra refutar). Deve ser triste para quem sofre de cegueira, raiva e onanismo crônico simplesmente não ter o que falar.

Mas este quadro pode dar a impressão que estamos no paraíso. Que os principais desafios já foram superados, que o Brasil é um país maravilhoso para se viver e podemos navegar em mares tranquilos de desenvolvimento e igualdade social. Não, não é. Não podemos. O fato de Lula ter feito um ótimo governo, resumido em parte aí acima, obviamente é só o início do caminho para o Brasil se transformar num país verdadeiramente decente. Repito: não se cura 502 anos de abuso em 8.

Temos problemas sérios de segurança pública, educação básica, saúde, infra-estrutura como saneamento, estradas e a pobreza, claro, longe de ser extirpada. Avançamos pouco em alguns desses pontos. O inchaço dos aeroportos, diga-se, só acontece justamente pela entrada de milhões de pessoas na classe média. Um exemplo que simboliza alguns dos novos problemas que precisamos enfrentar. É a administração pública e o capitalismo brasileiro numa nova fase.

Este é o maior desafio de Dilma Rousseff. Que tem competência técnica, teórica e administrativa para tanto. Que representa a legítima continuidade do governo Lula. Que poderá escolher os melhores quadros possíveis e tem a maioria na câmara e no senado. Precisamos de equilíbrio para manter o ótimo ciclo mas ambição para avançar ainda mais. De coragem para implantar reformas essenciais que foram postergadas, como a tributária, a política, jurídica e a da previdência. De continuar erradicando a pobreza, trabalhando para levar a indústria e os negócios do país para um novo patamar de evolução, inovação. Manter a economia forte, saudável e firme em seus princípios básicos.

Criar mais oportunidades ainda para os jovens, a classe média e pessoas de baixa renda. Melhorar os entraves burocráticos, simplificar a cobrança de tributos, tornar o ambiente para se tocar uma empresa mais amigável e rápido (o que já começou a ser feito). Fazer uma reforma legítima e profunda da educação de base, repensando todo o sistema de ensino, a preparação e remuneração dos professores, a infra-estrutura das escolas. Incentivar como nunca a inovação. Equilibrar a prosperidade com a preservação. Intensificar a reforma agrária. Levar as obras e projetos da Copa 2014 e Olimpíadas da melhor, mais eficaz e transparente maneira possível. Legalizar o lobby. Aprovar mecanismos que intensifique a clareza da prestação de contas de ONG’s e todo o dinheiro público em seus diferentes níveis. Discutir temas importantes e polêmicos com a sociedade através de referendos.

É um universo de coisas. Gargalos e desafios centrais, complicadíssimos, muitos que batem de frente com interesses escusos (como na segurança, a bancada ruralista, etc), que precisam de esforço descomunal de todo o organismo político, da iniciativa privada, da sociedade e do terceiro-setor. Não só para o governo Dilma, mas o que virá além dela. Para todos os próximos presidentes a ocuparem o cargo. É um projeto de país, não de governo.

Lula fez muito. Construiu as bases que precisamos para atingir mais, muito mais. Ficará marcado eternamente na história do país como um presidente único, de administração decisiva para este novo Brasil. Isto é impossível de tirar. Mas precisamos seguir no que fizemos de bom, aprofundar reformas estruturais, ir muito além e inovar. Vivo num país incomparavelmente melhor hoje do que era há 8 anos atrás. Quero bem mais.

Hoje temos consciência da nossa capacidade, potencial, poder e todas as bases sólidas para fazer o que precisamos. Ninguém disse que seria fácil. Obrigado ao Lula pelo o que fez. Está na hora de quebrarmos todos os paradigmas, entraves, a herança nefasta da fundação deste país, os anos de chumbo, o discurso retrógrado e baixo da direita, de seguir governando para o povo e para todas as classes sociais, interdependentes, afinal.

O caminho é longo.

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Lula: o implacável

A cada vez que Lula é referendado por uma importante publicação estrangeira os estoques de diazepam vem abaixo em redutos da elite como Higienópolis, em São Paulo, e Lago Sul, em Brasília. O stress se dá não porque o governo Lula tenha necessariamente “atrapalhado” a vida da classe média alta – até o contrário – mas porque a ojeriza, o ódio e a revolta pelo reconhecimento internacional alcançado por ele e pela história (maiúscula) que fez no Brasil são notórios.

Quando veículos como a Time, um dos pilares da imprensa estadunidense, elege Lula como o líder político mais influente do mundo, há significado aí. O exato paradoxo por um veículo como a Time, repito, reconhecer Lula. Pro bem e pro mal. Em 2009 o mesmo Lula já havia sido celebrado “personagem do ano” por jornais como o espanhol El País e o francês Le Monde. Obama se derrama em elogios. Sarkozy não fica atrás. Lula é ouvido atentamente e com respeito em todos os fóruns mundiais que participa. É admirado e exaltado em todas as partes do globo.

A direita se rasga em incredulidade. Como pode? Como um “nordestino semi-analfabeto” conseguiu tanto? Porque FHC, nosso modelo de presidente e intelectual perfeito, sociólogo “respeitado”,  homem “culto”, não chegou nem perto? Sinto informar: é uma guerra perdida.

Deve ser realmente assustador “acordar” e perceber que as regras do jogo não são mais impostas com tanta facilidade como eram antes. Que a manipulação do povo não é tão fácil e simples como se acostumaram em mais de 500 anos de história.

Precisamos entender que a eleição de Lula e o subsequente governo com muito mais acertos que deslizes é uma legítima tortura psicológica contínua para a direita desse país. Precisamos compreender que a eleição de alguém como Lula, com o perfil de Lula, de onde e como ele veio, o que ele é, não pode em nenhuma circunstância ser aceita pela oligarquia brasileira. É a antítese de tudo que eles conhecem e tudo que eles vivem. É o inimigo ideológico, físico, social e político da velha elite.

Nunca antes na história desse país (há) um presidente foi tão massacrado, enxovalhado, caluniado e perseguido pela mídia. A Veja, órgão oficial da direita, abandonou qualquer vislumbre de jornalismo político sério desde que a vitória de Lula se anunciava. De lá pra cá são quase 10 anos em que o maior veículo impresso do país (mais de 1 milhão de exemplares por edição se você considerar válidos os números publicados) tenta, sempre, derrubar o governo. É muita incompetência.

A reeleição foi um golpe duríssimo: no auge da crise e dos “escandâlos” via-se a oportunidade ideal para derrubar de vez o barbudo incômodo. O linchamento constante não deu resultado. O ódio cresceu. A sensação de impotência. A simples incredulidade. O pesadelo. Comportamento reproduzido em menor grau e com mais sutileza por todos os maiores jornalões do país.

Mas a mídia impressa é brincadeira de criança perto do poder e alcance da televisão. Aí que Lula nunca foi exatamente massacrado pelas grandes redes de TV. A mensagem vem sempre sutil, subliminar, insinuante. Sutil para quem não consegue reconhecer, claro. E com muito menos efeito do que antes. Mensagem neutralizada porque a vida da população de classes C, D e E “simplesmente” melhorou muito nos anos de governo Lula.

Não há o que negar: nunca tantos empregos com carteira assinada foram criados (milhões e milhões), tantas pessoas saíram da pobreza, tanta gente voltou a ter o que comer, onde estudar – desde o ensino básico, médio, técnico e superior – tantas oportunidades foram criadas em todas as esferas possíveis. Além da óbvia empatia e do discurso feito de um autêntico representante do povo – coisa que jamais tivemos – para o povo.  O que faz toda diferença.

O parágrafo acima pode sugerir que vivemos num paraíso. Essa é a imbecilidade mais óbvia que deve ocorrer à cabeça de alguém. Claro que estamos infinitamente distantes de alcançar um nível de educação aceitável, uma distribuição de renda justa, de melhorar consideravelmente a segurança pública, o sistema de saúde precário, etc, etc. Não se resolvem 502 anos de exploração e bandalheira em 8. Ainda assim avançamos muito.

Isto posto, é preciso ressaltar também que Lula migrou para um governo de centro para conseguir se eleger. Abandonou o discurso radical, a aparência desleixada, fez acordos com o FMI, se comprometeu com banqueiros e grandes empresários, fez toda a cartilha neoliberal. Pasmem, com mais competência. Pasmem, conseguindo ao mesmo tempo introduzir programas, mudanças e transformações benéficas também para o povo. Com preocupação e projetos “populares”, projetos estes fundamentais e de impacto imediato na vida de milhões de pessoas, que simplesmente não aconteciam antes. Talvez esteja aí a grande sabedoria de Lula: entrar no sistema para agir dentro dele.

Por mais que um governo a princípio “de esquerda” cometa ações e se incline para práticas “de direita”, neoliberais, etc, ele sempre (repito: sempre), terá um trabalho social, de distribuição de renda e de criar meios para que quem não tem condições de alcançar as coisas, comece a ter. Essa é a diferença principal entre governos de mentalidades diferentes num tempo em que “ideologias” são coisas ultrapassadas e que mudam de acordo com o interesse.

As transformações centrais de consciência, acesso e qualidade da informação – ainda que tímidas – já serviram para que manipulações simplórias e “verdades absolutas” espalhadas pela mídia sofressem questionamentos imediatos e ferrenhos. O suficiente para mudar algo no jogo. O bastante para já ter alterado as eleições de 2006. E mais ainda em 2010.

Lula não é herói – talvez o mais perto disso que chegaremos – e, claro, não é santo. Nem nunca fez questão de tentar ser. “Detalhe” importante sempre esquecido propositadamente. O que explica o sucesso de Lula é que ele conseguiu fazer um governo moderno – na melhor sentido da palavra – sem cair em desgraça, conquistando coisas importantes para todos os setores da sociedade. Empresários, banqueiros e especuladores não têm do que reclamar, assim como o campo social nunca foi tratado com tanta atenção e eficiência. Lula conseguiu construir uma equipe que administrou o capitalismo como nenhuma outra. Atravessou com danos bem menores que os possíveis a maior crise desde 1929. Fez muito em 8 anos para quem recebeu toda uma herança nefasta nas mãos.

A comparação – inevitável – entre ele e FHC é cruel: Lula humilhou o tucano em todos os campos possíveis. Ex “companheiros”, ironia. Quem acompanha a mídia lembra bem o tratamento que as derrapadas e desmandos da trupe tucana, as mudanças de constituição, a corrupção, tinham: sempre atenuadas, escondidas. Os “feitos”, exaltados à última potência. Ao mesmo tempo que as besteiras do PT tomam proporção imediata de escândalo mundial e impeachment. E as conquistas e transformações positivas sempre tratadas com desdém. Qualquer criança de 3 anos é capaz de perceber essa diferença brutal de tratamento entre os governos nos últimos 20 anos.

Para quem passou fome, enfrentou pobreza extrema, morte da esposa e filho prematuramente, ditadura, cadeia, morte da mãe, desabamento da casa, pai distante e toda uma infância/adolescência/início da vida adulta tão conturbada, sempre tendo que, literalmente, lutar muito para viver, lidar com a mídia provou ser tarefa menor para Lula.

Matéria após matéria, capa após capa, chamada após chamada tentam, desesperadamente, desqualificar e atacar Luiz Inácio desde sempre. Ao mesmo tempo em que passou por cima disso tudo e se tornou o melhor governo da história do país. E que conquistou – sempre incompreensível para a oligarquia – o respeito e admiração da mídia estrangeira, não contaminada, de outros ares e outra cabeça. Lula é implacável. Fez história. E não há nada, absolutamente nada, que qualquer um possa fazer para apagar isso. Haja remédio e tranquilizante para fazer a direita (e companhia) dormir com um barulho desses.

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Lula: 80% de aprovação

GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

A avaliação positiva do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu para 69% em setembro deste ano, segundo aponta pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta segunda-feira. A pesquisa foi realizada entre os dias 19 e 22 de setembro e ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O índice é o mais alto alcançado pelo petista, além de ser o segundo melhor desempenho de um governo desde que iniciada a pesquisa, em 1982. Somente 8% dos entrevistados avaliaram o governo federal como ruim ou péssimo, enquanto 23% consideraram a condução do governo como “regular”.

Na última edição da pesquisa CNI/Ibope, divulgada em junho, 58% dos entrevistados avaliaram o governo Lula como positivo. Outros 29% consideraram o governo regular, enquanto 12% avaliaram como ruim ou péssimo. Em março de 2003, ano em que Lula foi empossado no cargo, o índice de aprovação ao governo federal foi de 51% –o que foi considerado pela CNI/Ibope como um crescimento considerável para a avaliação do governo federal.

O mais alto patamar registrado por um governo na história da pesquisa foi em 1986, quando o então presidente José Sarney (PMDB), na vigência do Plano Cruzado, obteve 72% de avaliação positiva.

A pesquisa CNI/Ibope mostra ainda que, numa escala de zero a 10, o governo federal recebeu a nota média mais alta desde que passou a ser avaliado pela pesquisa, com 7,4. Em junho, a nota média recebida pelo governo foi de 7,0.

A confiança no presidente Lula também seguiu os demais indicadores, chegando ao segundo patamar mais elevado da pesquisa. No total, 73% dos entrevistados afirmam confiar no presidente, enquanto 23% dizem não confiar em Lula. Outros 4% não opinaram ou não quiseram responder.

Em junho, 68% responderam que confiavam no presidente, contra 29% que responderam de forma negativa ao petista.

Na comparação entre o primeiro e o segundo mandato de Lula, 48% consideram o segundo governo petista melhor que o primeiro. Em junho, esse índice foi de 49%. Outros 39% consideraram em setembro os dois mandatos iguais, enquanto 11% avaliam que o primeiro governo foi melhor que o segundo.

A pesquisa foi realizada entre os dias 19 e 22 de setembro e ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Fonte: Folha Online

Comentário: Lula é um fenômeno de aprovação, para desespero de 95% da mídia e dos intelectuais brasileiros. O país cresce a taxas expressivas, a criação de emprego com carteira assinada bate recorde sob recorde (somente entre janeiro e agosto foram criados 1.151.660 postos de trabalho formais, crescimento de 7,14% em relação ao ano passado), a Petrobrás não pára de descobrir novas bacias energéticas, a inflação que ameaçou disparar já foi controlada e nem mesmo a crise mundial parece abalar a confiança do brasileiro em seu presidente.

Para quem começou colocando “medo” no mercado e na imprensa, em 2002, Lula vai muito bem obrigado. O “governo comunista” que todos temiam transformou-se num ótimo gestor do mundo capitalista, sendo infinitamente melhor sucedido que seus antecessores. E nem as inúmeras crises forçadas e golpismo midiático consideram derrubá-lo. Pelo contrário, só o fortaleceram. Alguém duvida de que o candidato apoiado por ele terá fortes chances de ser eleito? Já foi dada a largada.

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