Política & Economia

Requiem para o sonho americano: Noam Chomsky e os princípios da concentração de riqueza e poder

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Noam Chomsky é, sem dúvida, um dos intelectuais mais influentes e prolíficos dos últimos 100 anos. Figura central em diversas áreas do conhecimento que, não bastasse todo seu trabalho, tem um dom raro: o de conseguir ser extremamente didático, lúcido e sensato para diferentes tipos de público sem ser simplista.

E este dom fica evidente neste espetacular documentário “Requiem For The American Dream”, de 2016, disponível no Netflix. Em meros 70 minutos, Chomsky dá uma verdadeira aula sobre a economia, política e a sociedade do nosso tempo, baseado em 10 princípios da concentração de riqueza e poder, algo profundamente interligado e que explica todas as crises passadas, como pavimentamos o caminho para chegarmos até aqui e as crises e possibilidades que virão. Afinal, as crises não são somente parte intrínseca do capitalismo, como também representam o sinal mais inequívoco de que o sistema está sadio e funcionando, como disse Marx e Berman.

Através de uma série de entrevistas, realizadas durante 4 anos, Chosmky explica cada um destes princípios:

1. Reduzir a democracia: como uma das maiores preocupações dos “pais fundadores” da sociedade americana, expresso na Constituição e na criação do Senado, a exemplo de James Madinson, era proteger os ricos do “excesso” de democracia, criando mecanismos para que ela “não fugisse do controle”.

2. Moldar a ideologia: o documento “A Crise da Democracia” da Comissão Trilateral, citado por Chomsky, é exemplar nisso.

3. Redesenhar a economia: como o aumento exponencial da participação das instituições financeiras na economia, em detrimento da produção, somada com a desregulação do mercado a partir dos anos 70, potencializada nas décadas posteriores e a elevação do conceito de “insegurança do trabalhador” – celebrado por Alan Greenspan – servem de base para a situação atual.

4. Dividir o fardo: de que maneira o estado de bem estar social dos anos 50 e 60 e a melhora das condições de vida da população foi corroído ao longo do tempo, significando menos impostos para os ricos, que habilmente conseguiram fazer com que a maioria do povo arcasse com os custos básicos da sociedade, enquanto a desigualdade atinge picos históricos hoje em dia.

5. Atacar a noção de solidariedade: obedecendo a máxima de “tudo para mim, nada para os outros” de Adam Smith, como a educação pública e a previdência social foram atacadas e diminuídas, ainda que largamente usada pelas classes A e B no passado e base de sustentação do desenvolvimento da sociedade americana. Partindo desses exemplos, Chomsky mostra como o capitalismo atua para minar nossa capacidade de sentir empatia e solidariedade com o outro, conquistando nossas mentes e nos fazendo refém do egoísmo mais tóxico e abjeto possível.

6. Deixar reguladores atuarem em causa própria: o crescimento absurdo do lobby e como as pessoas escolhidas para definir a legislação são as mesmas que usufruem dela em praticamente todas as áreas da economia e da sociedade.

7. Financiar as eleições: grandes corporações financiando as campanhas presidenciais caríssimas que geram governantes que ficam na mão delas, em um círculo vicioso absurdo. Soa familiar, não?

8. Manter o povo na linha: o ataque ao sindicalismo e todas as organizações de trabalhadores. De que  forma eles eram parte essencial da resistência à exploração e ao abuso e, com o tempo, foram minados, seja diretamente pelo governo, seja pelas próprias organizações, que trataram de demonizar profundamente a atuação sindical, chegando a somente 7% de trabalhadores privados sindicalizados hoje.

9. Criar e propagar o consumismo: de que forma a propaganda, de maneira bem engenhosa e eficaz, tratou de criar gerações de consumidores com pouco ou nenhum senso crítico, um roteiro que todos conhecemos bem.

10. Marginalizar a população: “marginalizar” no sentido de excluir o povo das discussões principais, da participação democrática, minando o controle social e gerando cidadãos apolíticos que se engalfinham num ódio à política e ao governo absolutamente cego que, claro, compromete os maiores interessados na melhoria da sociedade: o próprio povo.

Nada disso é novidade, mas a capacidade de Chosmky em mostrar de maneira concisa e didática o seu impacto, somado ao arquivo histórico dos realizadores, faz com que esse documentário seja um excelente resumo de tudo aquilo que é central para o mundo em que vivemos.

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A desigualdade comprova: o capitalismo falhou para 99% da humanidade

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O relatório mais recente da Oxfam, ONG que é a maior referência mundial no tema, confirma o que a própria Oxfam e tantos especialistas e analistas sérios (Paul Krugman, Thomas Piketty e outros) vem repetindo e estudando nos últimos anos: o mundo nunca esteve tão desigual, a crise de 2008 aprofundou o lucro do 1% mais rico da população, a igualdade de gênero é uma realidade distante e a evasão fiscal e o lobby são instrumentos fartamente usados para potencializar esses lucros irreais e piorar sistematicamente a situação de quem está na base da pirâmide. Destaquei alguns pontos essenciais do relatório completo, disponível aqui.

  • Em 2015, apenas 62 indivíduos detinham a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas – a metade mais afetada pela pobreza da humanidade. Esse número representa uma queda em relação aos 388 indivíduos que se enquadravam nessa categoria há bem pouco tempo, em 2010.
  • A riqueza das 62 pessoas mais ricas do mundo aumentou em 44% nos cinco anos decorridos desde 2010 – o que representa um aumento de mais de meio trilhão de dólares (US$ 542 bilhões) nessa riqueza, que saltou para US$ 1,76 trilhão. 
  •  Ao mesmo tempo, a riqueza da metade mais pobre caiu em pouco mais de um trilhão de dólares no mesmo período – uma queda de 41%.
  •  Desde a virada do século, a metade da população mundial mais afetada pela pobreza ficou com apenas 1% do aumento total da riqueza global, enquanto metade desse aumento beneficiou a camada mais rica de 1% da população.
  • O rendimento médio anual dos 10% da população mundial mais afetados pela pobreza no mundo aumentou menos de US$ 3 em quase um quarto de século. Sua renda diária aumentou menos de um centavo a cada ano.
  •  Segundo uma estimativa recente, riquezas individuais que somam US$ 7,6 trilhões – equivalentes a mais que o produto interno bruto (PIB) combinado do Reino Unido e da Alemanha – estão sendo mantidas offshore atualmente.
  • A instituição observou ainda que a distância salarial entre os gêneros também é maior em sociedades mais desiguais. É interessante observar que 53 das 62 pessoas mais ricas do mundo são homens. 
  • Em todo o mundo, o impacto ambiental médio do 1% mais rico da população mundial pode ser até 175 vezes mais intenso que o dos 10% mais pobres. 
  • Os salários dos diretores executivos das maiores empresas norte-americanas aumentaram em mais da metade (54,3%) desde 2009, enquanto os dos trabalhadores permaneceram praticamente inalterados. O diretor executivo da maior empresa de informática da Índia ganha 416 vezes mais que um funcionário médio da mesma empresa. As mulheres ocupam apenas 24 dos cargos de direção executiva das empresas listadas na Fortune 500. 
  • A evasão fiscal é um problema que está se agravando rapidamente. A Oxfam analisou 200 empresas, entre as quais as maiores do mundo e as que são parceiras estratégicas do Fórum Econômico Mundial, e verificou que nove de cada dez delas estão presentes em pelo menos um paraíso fiscal. Em 2014, os investimentos de empresas nesses paraísos fiscais foram quase quatro vezes maiores do que em 2001.
  • Quase um terço (30%) da riqueza dos africanos ricos – que totaliza US$ 500 bilhões – é mantido em paraísos fiscais offshore. Estima-se que essa prática custe US$ 14 bilhões por ano em receitas fiscais perdidas para os países africanos. Esse valor é suficiente para oferecer serviços de saúde que poderiam salvar a vida de 4 milhões de crianças e empregar professores em número suficiente para que todas as crianças africanas pudessem frequentar uma escola.
  • O setor financeiro tem crescido mais rapidamente nas últimas décadas e é atualmente responsável por um de cada cinco bilionários. Nesse setor, a diferença entre salários e benefícios e o valor efetivamente agregado à economia é maior do que em qualquer outro. Um estudo realizado recentemente pela OCDE revelou que países com setores financeiros inchados caracterizam-se por uma maior instabilidade econômica e uma desigualdade maior. Não há dúvida de que a crise das dívidas públicas provocada pela crise financeira, por resgates de bancos e pela subsequente adoção de políticas de austeridade tem afetado mais intensamente as pessoas pobres. O setor bancário permanece no cerne do sistema dos paraísos fiscais; a maioria da riqueza mantida offshore é gerida por apenas 50 grandes bancos.
  • Empresas farmacêuticas gastaram mais de US$ 228 milhões em 2014 em atividades de lobby em Washington. Quando a Tailândia decidiu emitir uma licença compulsória para uma série de medicamentos essenciais – uma disposição que garante a governos a flexibilidade necessária para produzir medicamentos localmente a um preço bem mais baixo, sem a necessidade de obter a permissão do titular da respectiva patente internacional –, essas empresas pressionaram com sucesso o governo dos Estados Unidos para incluir a Tailândia em uma lista de países que poderiam sofrer sanções comerciais.

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SOLUÇÕES PROPOSTAS PELA OXFAM

  • Garantir o pagamento de um salário digno aos trabalhadores e fechar a distância das bonificações dos executivos: aumentando o salário mínimo para que se torne um salário digno; garantindo a transparência na relação salário-lucro; e protegendo os direitos dos trabalhadores à sindicalização e à greve.
  • Promover a igualdade econômica das mulheres e seus direitos: oferecendo compensação pela prestação de cuidados não remunerados; eliminando a distância salarial entre os gêneros; promovendo direitos iguais de herança e de titularidade de terras para as mulheres; e melhorando a coleta de dados para avaliar como mulheres e meninas são afetadas por políticas econômicas.
  • Controlar a influência de elites poderosas: estabelecendo registros obrigatórios de atividades de lobby e normas mais robustas para conflitos de interesse; garantindo que informações de boa qualidade sobre processos administrativos e orçamentários sejam publicamente divulgadas e facilmente acessíveis; reformando o ambiente regulatório, com ênfase na promoção da transparência governamental; separando empresas do financiamento de campanhas; e adotando medidas para fechar as “portas giratórias” entre grandes empresas e o governo.
  • Mudar o sistema global de P&D e de fixação de preços para medicamentos para que todos tenham acesso a medicamentos adequados e acessíveis: negociando um novo tratado global de P&D; aumentando investimentos em medicamentos, incluindo em medicamente genéricos acessíveis; e excluindo normas de propriedade intelectual de acordos comerciais. O financiamento de P&D deve ser desvinculado da fixação de preços de medicamentos para romper os monopólios das empresas e garantir um financiamento adequado para atividades de P&D em torno de terapias necessárias e a acessibilidade dos produtos resultantes.
  • Dividir a carga tributária em bases justas: diminuindo o peso da carga tributária sobre o trabalho e o consumo e aumentando essa carga sobre a riqueza, o capital e a renda decorrente desses ativos; aumentando a transparência dos incentivos fiscais; e adotando impostos nacionais sobre grandes fortunas.
  • Adotar medidas progressistas em relação aos gastos públicos para combater a desigualdade: priorizando políticas, práticas e gastos que aumentem o financiamento de sistemas públicos de saúde e educação no sentido de combater a pobreza e a desigualdade em nível nacional. Abrindo mão de promover reformas não comprovadas e impraticáveis baseadas na lógica do mercado nos sistemas públicos de saúde e educação e ampliando a prestação de serviços essenciais por parte do setor público e não do privado.
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Mapa mostra a desigualdade social e a “democracia racial” no Brasil

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Trabalho sensacional do grupo pata, esse Mapa Racial do Brasil (usando dados do IBGE) mostra a sabida e profunda desigualdade social do Brasil, assim como (sempre bom lembrar) expõe o ridículo da “democracia racial” usada por Gilberto Freyre e outros, segundo a qual nós seríamos “menos racistas e mais tolerantes” que outros países e por aí afora. Para consultar e guardar.

Separei alguns exemplos de regiões específicas que mostram como os negros são excluídos das áreas nobres das cidades:

Distrito Federal

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Rio de Janeiro

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São Paulo

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Salvador

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Recife

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Como foi feito?

O que você está vendo é um mapa interativo de distribuição racial no Brasil. Através dele é possível observar a distribuição geográfica, densidade demográfica, e diversidade racial do povo brasileiro. Cada um dos pontos no mapa representa uma pessoa¹. O local e cor dos pontos são baseados nos dados do Censo IBGE de 2010 disponível online; cada cor no mapa representa uma das opções de raça possível no referido censo.

O censo fornece, entre outras coisas, dados georreferenciados (distribuídos em setores censitários, a menor unidade geográfica da pesquisa) sobre a raça auto-declarada por cada cidadão brasileiro.

Em poucas palavras, o mapa foi gerado posicionando aleatoriamente no espaço de cada setor censitário os pontos/pessoas que pertenciam ali. Como os setores censitários são, via de regra, unidades geográficas relativamente pequenas, este método proporciona um resultado bastante fiel da distribuição racial no espaço.

A motivação para esse projeto adveio da falta de visualizações geográficas da população, que frequentemente são realizadas com base em divisões geográficas artificiais, como municípios ou estados. Queríamos um método eficaz e fácil de visualizar os dados obtidos pelo censo.

O mapa foi criado pos nós da pata, a inspiração e a base do código utilizado para gerar o mapa vieram de Dustin Cable, um ex-pesquisador do Cooper Center for Public Service da University of Virginia, e autor de um mapa racial dos Estados Unidos. Ele, por sua vez, foi inspirado por Brandon Martin-Anderson do MIT Media Lab, e Eric Fischer, mapmaker/programador.

¹ Ou quase: por questões de segurança, não são divulgados os dados de setores censitários com menos de cinco domicílios.

Os pontos

Cada um dos mais de 190 milhões de pontos no mapa representa um cidadão brasileiro. Devido à escala do mapa, cada ponto é menor que um pixel na maioria dos níveis de zoom disponíveis. Isso quer dizer que o que você vê são na verdade aglomerado de pontos (e, consequentemente, de pessoas), a não ser que esteja visualizando em um zoom alto suficiente para focar em cidades ou bairros.

Cada cor diferente representa uma das raças que os cidadãos podiam escolher no censo. Verde são pardos, vermelho são pretos, azul são brancos, marrom são indígenas, e amarelo são, bem, amarelos… (vale sempre dizer que esta é a terminologia adotada pelo IBGE).

Leia mais.

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Mexeu com a carrolatria, mexeu com todos

CONGESTIONAMENTO EM SP

Por Maurício Angelo

Crescemos acreditando que o carro é uma das maiores paixões do brasileiro, um símbolo da vida nacional, motivo de orgulho, carinho, status, poder e ostentação. Que o carro ocupa papel central na vida das famílias, na comodidade, no lazer. Que é o meio de locomoção essencial, indispensável. Gerações cresceram endeusando Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna e tantos outros, ídolos máximos, martelados incessantemente pela mídia.

A indústria automotiva nacional é um dos maiores símbolos do nosso “desenvolvimentismo”, do pujante “milagre econômico”. FIAT, FORD, VOLKSWAGEN, CHEVROLET…todas recebidas com pompa e circunstância, com inúmeros incentivos fiscais dos governos federal, estadual e municipal…assim como nos últimos anos foram implantadas fábricas da NISSAN, MERCEDES, HYUNDAI, CHERY e por aí afora.

Para incentivar o consumo e facilitar o acesso, o governo do PT reduziu sistematicamente o IPI e deu certo durante muito tempo. Contra todo tipo de planejamento, a indústria automotiva bateu recorde atrás de recorde nos últimos anos, inundando as ruas com centenas de milhares de veículos, entupindo as vias não só das principais cidades do país, mas também das médias e pequenas. Os veículos se popularizaram e toda a cadeia que lucra absurdamente com eles nas ruas sorriram de orelha a orelha. O resto que se dane.

Daí que o surto de indignação coletiva que ganha corpo neste primeiro trimestre de 2015, babando raivosamente nas ruas e nas redes sociais o impeachment de Dilma Rousseff tem, na verdade, pouquíssimo a ver com os desdobramentos da Operação Lava Jato, gerando uma verdadeira devassa nas contas e nos contratos da Petrobrás nos últimos 30 anos.

O que realmente gerou o estopim da indignação foi o aumento significativo no valor do combustível, que subiu em média R$ 0,22 centavos para a gasolina e R$ 0,15 para o diesel. Aí, meu amigo, não tem uma viva alma que não tenha esperneado. “Ameaçar” o deus automóvel é um pecado grande demais para ser perdoado. Encarecer esse objeto de adoração do brasileiro é jogar ácido na ferida. Podemos ficar sem água na torneira, mas aceitar o aumento de combustível, jamais!

Não importa que a mídia brasileira tenha batido duramente no governo por não repassar as variações do preço do petróleo para a população, vide essa manchete educativa da Veja: “Defasagem do preço da gasolina faz Petrobras perder R$ 14 bi em 2013”. Repetindo: o governo apanhava por SEGURAR O PREÇO da gasolina. E apanha agora, novamente, por repassar o prejuízo. Não importa que o petróleo encontra-se em uma das maiores crises da sua história, com o barril abaixo dos R$60 dólares, menos da metade de uma média dos últimos anos. Que a situação gere problemas em todos os países do globo. Os Estados Unidos, por exemplo (aqui e aqui).

barril petróleo

O mundo inteiro está em alerta. Não importa que, mesmo afundada numa crise institucional sem precedentes, numa investigação que atinge todos os partidos da política brasileira, em descobertas de abusos que vem desde a década de 90 (e 70, 80…), a Petrobrás ainda alcance resultados técnicos exuberantes.

Lembra Jânio de Freitas:

Se a Petrobras ainda estivesse sob a ação ignorada e tranquila de gatunos, a realidade dos últimos 11 meses seria assim: suas ações em altas cotações na Bolsa, bafejadas pelo crescimento da produção a despeito da queda de preço do petróleo, os corruptos embolsando seus ganhos com a segurança de sempre, e bancos e corretoras festejando em vez de derrubar os dirigentes da empresa. (…) Essa Petrobras “levada à destruição” conseguiu em 2014, portanto quando os diretores a destruíam, o recorde da produção de derivados com 2,17 milhões de barris de petróleo por dia. O sexto recorde anual seguido, sendo este último, deduz-se, de produção fantasmagórica.

Ontem [4/2] se teve a notícia de que a Petrobras recebeu o OTC-2015, o Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions, “o mais importante para operadoras off-shore”. O prêmio foi em reconhecimento ao “conjunto de tecnologias desenvolvidas para a produção na camada pré-sal.

Não é a corrupção que indigna o brasileiro. Sublinhe-se: que ela deve ser investigada minuciosamente e punida com tudo que estiver disponível, não se discute. Seja quais nomes estiverem envolvidos, de que partido for. A história de corrupção na Petrobras apenas reforça ainda mais a necessidade e a importância da Lava Jato.

Mas o que realmente revolta o brasileiro é ver o seu Deus ameaçado. Em bom texto de julho do ano passado, Ricardo Alexandre conta uma história muito didática e pertinente:

Na época em que dirigi a revista Trip, organizei uma entrevista entre o jornalista americano Tom Vanderbilt, especializado em trânsito, e o sociólogo niteroiense Roberto Da Matta. “No Brasil, o carro é um dos principais símbolos das pessoas bem sucedidas”, disse o Roberto da Matta, autor do belo livro Fé em Deus e Pé na Tábua (Rocco) na qual associa nossa idolatria ao carro à herança dos tempos coloniais nos quais escravos levavam seus senhores nas liteiras, como na foto que ilustra este post. “Para redefinir esse papel seria necessário redefinir o modo como criamos a identidade social do sucesso”.  Tom Vanderbilt lembrou que a palavra “pedestre” é sinônimo de “banal” e “tosco”. “Isso remonta aos tempos da cavalaria: se você não estivesse montado, seria considerado inferior. Nós depreciamos andar a pé mesmo antes do carro”. Ou seja, em terra do “doutor fulano”, do “você sabe com quem você está falando”, quem está de carro só pode ser alguém melhor do que eu, que estou a pé, ou de ônibus. Pode passar, dotô, desculpe atravessar o caminho de vossa senhoria.

Mexer com a carrolatria do brasileiro gera uma reação instantânea, ainda alimentada pelos resquícios das últimas eleições, pelo sentimento acéfalo anti-PT que corre no imaginário popular do brasileiro de classe média, incluindo esse mesmo brasileiro que foi alçado a ela por este mesmo governo. Mexer com a carrolatria inflama o terceiro turno, obsessão da oposição desde o primeiro minuto que o resultado final das eleições foi anunciado (e já falamos disso aqui).

A corrupção endêmica na Petrobrás é, também, uma oportunidade para vermos como essa adoração ao automóvel e todos os movimentos da indústria e da sociedade nos últimos anos, fortemente potencializados pelo PT, pode se voltar não só contra ele, mas contra qualquer visão razoável de mundo, que ainda celebra uma indústria que luta contra a obsolescência, que tenta se readequar aos novos tempos, investindo pesado em inovação e tecnologia nos últimos anos para, quem sabe, conseguir permanecer em pé e relevante frente todos os desafios ambientais inescapáveis. Desafios dos quais o petróleo é um dos principais.

Tentar entender todas as camadas da questão é um exercício muito mais trabalhoso do que o senso comum está acostumado a entregar. Como diz o ditado, de onde não espera nada, é de lá que não sai nada mesmo.

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A economia brasileira e a desigualdade social no Brasil nos últimos 20 anos

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Abaixo, disponibilizo uma apresentação que fiz para um projeto de MBA resumindo alguns dos principais pontos da desigualdade e da economia brasileira nos últimos 20 anos. A principal fonte é um estudo de Gerson Gomes e Carlos Antônio Silva da Cruz, além da ONU, FAO, o relatório Global Wealth Report do Credit Suisse e várias fontes jornalísticas. Todas citadas no último slide. Sob licença Creative Commons, a apresentação pode ser usada livremente.

Acesse

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O ódio contra a democracia e o mito da cordialidade brasileira

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Por Maurício Angelo

Tempos de ânimos inflamados são ótimos para uma questão em particular: revelar, em última instância, o que realmente pensa certos setores da sociedade. Ou o que, de fato, aquele seu conhecido, colega, amigo, familiar, apoia. Se a polarização, seja qual for, é sempre vítima de sua própria característica de extremismo, do seu maniqueísmo simplificador, é também necessária numa época em que seguidos atentados contra a democracia se multiplicam pelo país.

O PSDB ir ao Tribunal Superior Eleitoral questionar o resultado das eleições é simbólico no ódio arraigado que a direita sente pelo processo democrático. Se lembrarmos ainda que boa parte das “provas” exigidas pelo partido são de consulta pública – como os boletins de cada urna eletrônica – e o restante é enviado para os próprios partidos através de solicitação, além do pedido ser baseado – pasmem! – em denúncias de redes sociais (como esta, infantil e prontamente desmascarada) temos um novo marco vergonhoso para os tucanos carregarem como herança.

Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia em 2008, professor, articulista e um dos mais respeitados nomes da área econômica no mundo, tem uma opinião bem incisiva sobre isso:

A direita política sempre se sentiu incomodada com a democracia. Por melhor que esteja a situação dos conservadores nas eleições, por mais generalizado que seja o discurso em favor do livre mercado, sempre há um medo no fundo de que o povo vote e ponha no Governo esquerdistas que cobrem impostos dos ricos, deem dinheiro a rodo para os pobres e destruam a economia.

(…)

E o que um plutocrata pode fazer então?

Uma das respostas é a propaganda: dizer aos eleitores, com frequência e bem alto, que o fato de sobrecarregar os ricos e ajudar os pobres provocará um desastre econômico, enquanto que reduzir os impostos dos “criadores de emprego” nos trará prosperidade a todos. Há uma razão por que a fé conservadora na magia das reduções de impostos se mantém, por mais que essas profecias não se cumpram (como está acontecendo agora mesmo no Kansas): há um setor, magnificamente financiado, de fundações e organizações de meios de comunicação que se dedica a promover e preservar essa fé.

(…)

A terceira resposta consiste em garantir que os programas governamentais fracassem, ou nunca cheguem a existir, para que os eleitores nunca descubram que as coisas podem ser feitas de outra maneira.

É quase revigorante que tenhamos um economista deste calibre capaz de resumir de maneira tão clara e didática um óbvio pantanoso, que muitas vezes fica escondido atrás de uma ciência social absurdamente contaminada por interesses difusos e bem específicos, que ditam verdades absolutas bem moldadas numa rapidez assustadora.

Na prática, é o que explica a tentativa desesperada do PSDB de questionar a sua derrota democrática. Nas ruas, é o que leva alguns mentecaptos – menos de 3 mil em todo o país – a fazer passeatas pedindo intervenção militar e o impeachment de uma presidenta reeleita, sem o mínimo de concretude capaz de ancorar tal absurdo.

O que 3 mil pessoas representam num universo de 200 milhões? Quase nada. Ou muito, se você considerar a votação recorde de Jair Bolsonaro – 464 mil votos – e seus três filhos também presentes na política: Flávio Bolsonaro, deputado estadual no RJ, com 160 mil votos, Eduardo Bolsonaro, deputado federal em SP (e que foi armado para a passeata) com 81 mil votos, além de Carlos, vereador no Rio de Janeiro. É muito, se você considerar os 446 mil votos de Levy Fidelix e os 780 mil do Pastor Everaldo. Os 400 mil votos de Marco Feliciano. Os 254 mil votos de Coronel Telhada, deputado estadual mais votado em SP. E os exemplos seguem.

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Muito se disse, com razão, que o Brasil não tem “50 milhões de eleitores na ‘elite’, brancos, de direita, etc”, considerando a votação recorde de Aécio Neves. É a pura verdade. Ainda que o senador concentre quase 80% dos eleitores entre a elite – tão raivosa e, em sua maioria, tão acéfala, como visto nas ruas e nas opiniões ao longo da campanha – a votação de Aécio vai muito além deles, colocando no balaio uma classe média insatisfeita (e não nos esqueçamos que a classe média tem muitas subdivisões), o argumento fácil da “alternância de poder” e o ódio contra o PT tão alimentado por essa mídia propagandista, lembrada por Krugman e por aí afora.

O que leva alguém a pedir a volta da ditadura militar? Um profundo desconhecimento histórico? A mais abissal e incurável estupidez? Uma cretinice difícil de ser compreendida? Uma sanha autoritária que, diga-se, gostam de imputar ao outro? É típico da direita, como foi o modus operandi de Aécio e o PSDB durante as eleições, de cometer alguns absurdos, como tentar um golpe midiático através da Veja sem nenhuma prova – e já há a possibilidade do depoimento de Youssef sequer ter existido – chegando ao cúmulo de espalhar boatos sobre o envenenamento do doleiro no dia da eleição (quão canalha pode ser isso?) e acusar o PT de fazer campanha sórdida, como Aécio fez na abertura do último debate na Globo. É o duplipensar orwelliano em sua essência. Resumidamente, “o poder de manter duas crenças contraditórias na mente ao mesmo tempo, de contar mentiras deliberadas e ao mesmo tempo acreditar genuinamente nelas, e esquecer qualquer fato que tenha se tornado inconveniente”. Aécio Neves é um mestre do duplipensar.

Quem pede intervenção militar e quem questiona a democracia não pode mais ser tratado como coxinha alienado, tem que ser tratado como inimigo. É um tipo muito perigoso que, lentamente, através de seus representantes oficiais, está sempre pronto para golpear a democracia e/ou tornar a governabilidade o mais difícil possível.

Leandro Karnal, historiador e professor de história cultural na Unicamp, conseguiu resumir de forma brilhante alguns mitos brasileiros, como a “democracia racial” de Gilberto Freyre e o “homem cordial” de Sérgio Buarque de Hollanda. Afirma Leandro:

Em plena ditadura, na escola, cantávamos “as praias do Brasil ensolaradas” onde Deus plantara mais amor e onde “mulatas brotam cheias de calor”. Nesse Éden tropical e erótico, nada se falava sobre repressão a dissidentes. E, combinação maravilhosa: o céu nos sorria e a terra jamais tremia.

Os momentos de polarização política, como 1935 (Intentona Comunista) ou 1964 (golpe militar), foram retratados na versão oficial e conservadora como infiltração de doutrinas estrangeiras de ódio. Era o marxismo pantanoso em meio a um povo cristão e pacífico. Foram os primeiros momentos nos quais a elite pátria pensou em “nós”, ou seja, os pacifistas que queriam construir uma país de progresso e prosperidade, contra “eles”, os grevistas, sindicalistas, agitadores e outros que insistiam em inocular no corpo nacional o vírus do dissenso. “Nós” correspondia aos patriotas, aos que só desejavam a paz. “Eles” correspondia à cizânia e aos cronicamente insatisfeitos. Sempre fomos bons em pensamentos maniqueístas, em dualismos morais perfeitos. Ninguém é católico por séculos e emerge ileso desse destino…

E ele lembra o quanto somos violentos, “ao dirigir, nas ruas, nos comentários e fofocas, ao torcer, ao votar”, o quanto o conceito de guerra civil foi limado dos nossos livros de história e nossas querelas eram tratadas como picuinhas regionais, a escravidão abolida na pena dourada de uma princesa, o quanto o outro é sempre o representante antípoda do que considero errado, enquanto navego num mar calmo de retidão moral.

Mas o ódio apresenta outra função interessante. Ela aplaina as diferenças do meu grupo. O ódio, como vários ditadores bem notaram, serve como ponto de união e de controle. O ódio é gêmeo xifópago do medo, e pessoas com medo cedem fácil sua liberdade de pensamento e ação. O ódio é uma interrupção do pensamento e uma irracionalidade paralisadora. Como pensar é árduo, odiar é fácil. Se a religião é o ópio do povo para Marx, o ódio é o ópio da mente. Ele intoxica e impede todo e qualquer outro incômodo.

O ódio, teoriza Leandro, tem muito do fator infantil: a democracia só é boa se consagra o candidato que defendo, do contrário, é ruim e precisa ser questionada. Os fatos são selecionados não pelo espírito crítico, mas por uma decisão prévia tomada internamente.

Seria bom perceber que o ódio fala muito de mim e pouco do objeto que odeio. Odeio não porque sinta a total diferença do objeto do meu desprezo, mas porque temo ser idêntico. Posso perdoar muita coisa, menos o espelho. Mas o ódio é feio, um quasímodo moral. A ira continua sendo um pecado capital. Assim, ele deve vir disfarçado da defesa da ética, do amor ao Brasil, da análise econômica moderna.

É assim que a extrema-direita e os radicais de ocasião tentam impor seu delírio autoritário, seu desprezo pela democracia, seu desespero em ver, sistematicamente, algumas das principais decisões nacionais fugir das suas mãos.

Para quem passou 500 anos ditando cada centímetro da vida brasileira em todos os campos de atuação possíveis, da economia e política até a cultura e o comportamento, é mesmo muito difícil aceitar que “esses esquerdinhas” no poder tenham o protagonismo atualmente, ainda que ameacem muito pouco – ou quase nada – os privilégios e o padrão de vida que essa parcela da população sempre gozou.

Pelo contrário, ver o governo tratar como prioridade quem sempre foi excluído é o suficiente para despertar uma ira absurda, aquela birra raivosa da criança que não aceita o espaço do outro. Ainda assim, não podemos trata-los como tal. Cada febre autoritária precisa ser combatida com o empenho necessário que só uma aula permanente de história pode, pouco a pouco, começar a esclarecer.

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O que realmente explica a vitória do PT no Nordeste

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Novamente, após a vitória da presidenta Dilma Rousseff pela reeleição com 3,5 milhões de votos a mais que o adversário, Aécio Neves, a xenofobia e o ódio gratuito contra o Nordeste, decisivo no pleito com mais de 70% dos votos para Dilma, voltou a aparecer nas redes sociais.

Velhas ideias elitistas de separação “norte” e “sul” e “uso político” do Bolsa Família – apesar de São Paulo ser o segundo estado que mais recebe recursos do Bolsa Família (atrás somente da Bahia) e ter se mostrado reduto absoluto do PSDB, diga-se – ecoaram. Não somos um país dividido, mas um mosaico, como mostra o gráfico das eleições presidenciais nos municípios, abaixo. Dilma também venceu em Minas Gerais, superando Aécio Neves em sua própria “casa” – uma resposta contundente do povo de MG ao seu ex-governador e atual senador – além de vencer no Rio de Janeiro e alcançar votações muito próximas no Espírito Santo e Rio Grande do Sul.

Mas o que realmente explica a massiva votação que o PT recebe do Nordeste nas últimas 4 disputas pela presidência? O Bolsa Família – programa em que 76% das pessoas que recebem trabalham com carteira formal e mais de 1,6 milhão de famílias já abriram mão espontaneamente do benefício – decifra sozinho esse “fenômeno”? Seria a popularidade absurda de Lula, um pernambucano?

Os dados e fatos abaixo, compilados por mim em reportagens diversas dos últimos 4 anos (links aqui), mostra o quanto o estado se desenvolveu absurdamente na economia, na educação, na saúde, nos investimentos que atrai, na força do seu mercado, na inclusão social e mudança da pirâmide de renda. O quanto o governo do PT (2003-2014) transformou a região muito, mas muito além do Bolsa Família, beneficiando todos os extratos da população nordestina e colocando no mapa uma região historicamente negligenciada.

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É claro que o Nordeste ainda tem muito para avançar, no controle da violência, nos indicadores sociais e econômicos e cresce acima da média brasileira justamente porque passou tanto tempo esquecido e tem tanto para melhorar. Responsabilidade compartilhada entre a União, estados e municípios.

O mérito inegável do Partido dos Trabalhadores, que uma parcela felizmente minúscula da população, repleta de ódio e estupidez, prefere ignorar, é colocar a região de volta no caminho de protagonista do Brasil.

 Emprego, renda, crescimento e desenvolvimento social

  •  Em 2002, 4,8 milhões de nordestinos tinham emprego formal. No final do ano passado, eram 8,9 milhões.
  • Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), entre 2001 e 2012, o nordestino teve o maior ganho de renda entre todas as regiões, o que fez com a participação da base da pirâmide social caísse 66% para 45% –ou seja, mais de 20 milhões de pessoas deixaram a pobreza.
  • Com mais de um quarto da população brasileira, a classe média no Nordeste foi engrossada em 20 pontos percentuais na última década, alcançando 42% dos habitantes.
  • A classe A também ganhou agregados e saltou de 5% para 9% desde 2002.
  • O poder de compra dos nordestinos já chega quase a 450 bilhões de reais, valor que corresponde à economia de países como Peru e República Checa.
  • O programa de cisternas levou mais de 1 milhão de reservatórios de água para pessoas carentes.
  • O Luz Para Todos beneficiou mais de 7 milhões de pessoas somente no Nordeste, com mais de R$6 bilhões de investimento na região.
  • Na última década, entre 2003 e 2013, o Nordeste cresceu mais do que a média nacional, com avanço de 4,1% ao ano, enquanto o país ficou na marca de 3,3%. Números divulgados pelo Banco Central (BC) apontam que a região responde por 13,8% da economia nacional.
  • Isso representa um crescimento de 41% em 10 anos, ante 33% da média nacional.
  • Em 2012, por exemplo, a economia local cresceu o triplo da brasileira.
  • Segundo cálculos do Banco Central, a economia nordestina cresceu 2,55% no segundo trimestre de 2014, na comparação com o primeiro, que já havia mostrado expansão de 2,12%.São taxas sem paralelo no restante do país. Nenhuma das demais regiões obteve dois trimestres consecutivos de alta, e as taxas, mesmo quando positivas, foram bem mais modestas. Pela medição do IBGE, a economia do Brasil encolheu 0,2% de janeiro a março e 0,6% de abril a junho.
  • O Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste crescerá 2,6% em 2014, muito acima da média nacional.
  • O Nordeste criou 1,04 milhão de postos de trabalho no primeiro trimestre de 2014, o que representa quase 60% do total de vagas abertas em todo o Brasil, segundo dados do IBGE.
  • Além de ter apresentado o maior resultado em termos de geração de vagas no primeiro trimestre de 2014, a formalização na região também é forte e tem colaborado para a intenção de consumo se manter em níveis elevados, avaliou Bentes. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram alta de 2,2% no emprego formal no Brasil em 12 meses até abril. No Nordeste, o avanço é de 3,3%, com destaque para o comércio e os serviços.
  • Levantamento da Firjan aponta que, na última década, 97,8% dos municípios nordestinos apresentaram crescimento do IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal).

 Educação e Saúde

  •  Em 2000, segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o Nordeste tinha 413.709 universitários. Em 2012, esse número saltou para 1.434.825. Com isso, a região ultrapassou o Sul e passou a segunda com maior número de estudantes do ensino superior –20% do total–, atrás apenas do Sudeste.
  • Nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, 18 universidades federais foram abertas –sete delas no Nordeste, todas fora das capitais.
  • A região tem conseguido fazer subir o número de pessoas com 18 anos ou mais nas universidades. Formados, eles passarão a ganhar 15,7% a mais por ano de estudo, segundo o Data Popular.
  • O SUS [Sistema Único de Saúde] está presente em todos os municípios nordestinos, principalmente com suas equipes de PSF [Programa de Saúde da Família], e o ensino fundamental é praticamente universalizado.

 Bolsa Família

  •  Em 2013, o Bolsa Família deve repassar 25 bilhões de reais para mais de 13,8 milhões de famílias, metade delas no Nordeste. Na região, quatro em cada dez famílias recebem o benefício social, com valor médio de 152 reais por mês.
  • De acordo com estudo recentemente divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Bolsa Família tem efeito multiplicador de R$ 2,40 sobre o consumo final das famílias, por isso setores como comércio e serviços – formado no Nordeste, principalmente por pequenos negócios -, que atendem esse consumidor final, são os mais beneficiados. Além disso, o levantamento mostra que cada real investido no programa gera um retorno de R$ 1,78 para a economia.

 Agricultura

  •  Até 2022, segundo projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil plantará cerca de 70 milhões de hectares de lavouras e a expansão da agricultura continuará ocorrendo no bioma Cerrado. Somente a região que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia terá, nesse mesmo período, o total de 10 milhões de hectares, o que representará 16,4% da área plantada e deverá produzir entre 18 a 24 milhões de toneladas de grãos, um aumento médio de 27,8%. Estamos falando do Matopiba, região considerada a grande fronteira agrícola nacional da atualidade.
  • O Matopiba é peça-chave para o desenvolvimento da agricultura e para a segurança alimentar do País. “O investimento na produção sustentável na região do Matopiba será fator de segurança alimentar para o Nordeste, assolado por secas que matam as plantas de sede e os animais de fome”, apontou o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, que prevê com o crescimento do agronegócio um valioso desenvolvimento social para a região.
  • A agricultura familiar é responsável pela produção dos principais alimentos consumidos pela população brasileira: 84 % da mandioca, 67% do feijão; 54 % do leite; 49 % do milho, 40 % de aves e ovos e 58 % de suínos.
  • No Nordeste a agricultura familiar é responsável por 82,9 % da ocupação de mão de obra no campo. 

 Tecnologia

  •  O Porto Digital, em Recife (PE), já perdura por mais de uma década gerando cerca de 6 mil empregos em quatro centros de pesquisa de tecnologia, quatro multinacionais, além das startups que também estão sediadas ou possuem escritórios no parque. Foram aproximadamente R$ 90 milhões investidos na reforma da zona portuária da capital.
  • De acordo com um estudo feito em 2010, o Porto Digital fatura quase R$ 900 milhões por ano, engloba quase 500 empreendedores em seu parque e paga salários acima de R$ 2,5 mil. A maior parte de sua mão de obra possui ensino superior e pelo menos um segundo idioma. Atualmente, o Porto Digital se caracteriza por oferecer alta taxa de empregos ao público jovem: 35% dos trabalhadores de lá têm entre 17 e 25 anos.
  • Na maior parte, as empresas que estão instaladas no parque são voltadas para o desenvolvimento de software para gestão empresarial, soluções para o mercado financeiro e para a área de saúde, mas também há startups que desenvolvem games, sites e intranets empresariais e ainda controle de trânsito e mecanismos de segurança patrimonial.
  • Grandes empresas como Microsoft, IBM, Samsung e Motorola possuem bases instaladas no parque, sendo que a Motorola mantém o único centro de verificação e integração de teste de software para celulares da marca no mundo – um investimento de US$ 20 milhões da fabricante estadunidense.
  • No parque, a maior parte das companhias atua na oferta de serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) – são 147 empresas neste setor, das pouco mais de 200 que têm base no pólo. 89% das empresas no Porto Digital são matrizes.
  • Campina Grande, na Paraíba, é um dos 74 pólos tecnológicos do país, mapeados pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anproteca). Concilia todos os predicados necessários: uma centena de empresas de TI, mil empregos gerados e o maior número proporcional de PhDs do Brasil – 600.
  • Nos últimos anos, o setor alavancou para 43 países as exportações de software e hardware, que vão de bancos de dados de alta complexidade às mais simples recicladoras de cartuchos. Entre seus clientes estão nomes como HP, Nokia, Petrobras e Interpol, a polícia internacional para o crime organizado. 
  • Ao menos 250 novas mentes aportam todos os anos para preencher as vagas de Ciência da Computação e Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Nos próximos cinco anos, um contingente de quase mil cérebros inundará o mercado local de tecnologia da informação (TI).

Consumo e crédito

  •  Pesquisa do Data Popular, citada pela EXAME, aponta que o potencial de vendas no Nordeste, durante os próximos 12 meses, soma 1,2 milhão de imóveis, 1,6 milhão de carros e 1 milhão de motos. O levantamento ainda indicou que os nordestinos estão cada vez mais sofisticados. A região concentra a maior intenção de compra do país em itens como notebooks, smartphones e tablets.
  • Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 7,4% na média do Brasil quando se compara junho deste ano com igual mês de 2013. Nesta mesma base, a ICF cresceu 4,3% no Nordeste, para 135 pontos, o nível mais alto entre as regiões e o único resultado ainda crescente.
  • O Nordeste foi a região em que as operações de crédito das empresas mais cresceram entre 2007 e 2011. Dados do Banco Central apontam que, enquanto que no Brasil foi registrado um aumento de 126%, chegando a R$ 1,044 trilhão, as empresas nordestinas responderam por uma expansão de 200%, somando R$ 121 bilhões.
  • No que se refere ao pequeno varejo e atacado, o Nordeste detém 27% do número de lojas do Brasil, concentradas na Bahia, Pernambuco e Ceará, que juntas somam 69% do faturamento da região.
  • Salvador ocupa a quinta posição do ranking de Potencial de Consumo, IPC MAPS 2011, ficando atrás de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba, com R$ 38 bilhões de potencial de consumo.
  • A indústria de bebidas também está aquecida na região, onde o consumo de cerveja cresceu 10,2% desde 2010, ante 4,9% no resto do país.

 Investimento, mercado e infraestrutura

  • A transposição do Rio São Francisco está 63% concluída, empregando 11.500 pessoas e beneficiará 390 municípios em quatro estados: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte em 470km de canais.
  • Dezenas de empresas já estão realizando ou realizam investimentos significativos na região, com instalação de novas fábricas, polos de desenvolvimento e novos projetos.
  • Em Goiana, a 60 quilômetros de Recife, no norte de Pernambuco, um novo polo farmacoquímico deve ser concluído até 2016. Numa área de 287 hectares, estão sendo instaladas 11 empresas de remédios e biotecnologia — um investimento total de 1 bilhão de reais que criará 1443 novos empregos.
  • Entre as companhias que vão desembarcar na região estão Hemobrás, Normix, Vita Derm, Hair Fly, Rishon, Brasbioquímica, Luft Logistics, White Martins, Quantas Biotecnologia, Biologicus e Multisaúde.
  • No início do ano, a Ambev inaugurou uma nova fábrica na mesma cidade, um investimento de 725 milhões de reais que gerou 1 000 empregos.
  • Na Bahia, a Heineken amplia a operação da fábrica de Feira de Santana, enquanto o  Grupo Petrópolis, fabricante das cervejas Itaipava e Petra, abriu em novembro sua primeira fábrica nordestina em Alagoinhas e uma segunda fábrica em Itapissuma (PE). A empresa já está contratando para os 600 postos que serão criados.
  • Um dos segmentos mais favorecidos pelo aumento de renda no Nordeste foi a indústria de alimentos e bebidas, o que tem atraído empresas como Nissin Ajinomoto, Mondelez, Natto e Companhia Brasileira de Sorvetes. Só em Pernambuco, 22 grandes fabricantes desembarcaram nos últimos seis anos.
  • E oito novas fábricas ficarão prontas até o ano que vem — um investimento total estimado em 2,8 bilhões de reais, com a geração de mais de 6 500 empregos diretos. A pernambucana GL Empreendimentos — de massas e biscoitos — inaugura em julho sua nova indústria de alimentos, um investimento de 143 milhões de reais.
  • Com grande potencial de ventos, o Nordeste é o principal centro da produção de energia eólica no Brasil. Apesar de nova, essa é a fonte de energia que mais cresce no país. “Os investimentos só começaram há cerca de quatro anos, mas já cresceram 1 500%”, afirma Elbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). A região é responsável por 78,3% da capacidade de geração de energia eólica no Brasil, com 132 parques considerados aptos, em operação ou em testes. Além deles, 58 parques eólicos estão em construção e outros 263 já foram contratados nos leilões energéticos. A previsão é que a energia eólica gere 80 000 postos de trabalho em toda a sua cadeia produtiva só no Nordeste.
  • No ano passado, Camaçari recebeu a fábrica da gigante chinesa  JAC Motors, um investimento de 900 milhões de reais que permitiu a geração de 3 500 empregos diretos e 10 000 indiretos.
  • A indústria automotiva decolou no Nordeste com o anúncio da instalação da fábrica da Fiat em Pernambuco, há três anos. Para garantir a produção de 40% da demanda de peças e componentes da montadora, está sendo criado o Parque de Fornecedores no Polo Automotivo de Goiana, na região metropolitana de Recife.
  • São 16 empresas — globais e nacionais — que ocuparão 12 edifícios nos quais serão produzidas 17 linhas de componentes. Em uma área construída de 270 000 metros quadrados, o Parque de Fornecedores ficará junto à fábrica da multinacional italiana, em um modelo integrado de produção.
  • Ao todo, o Polo Automotivo vai gerar 8 000 empregos diretos até o fim de 2015. Cerca de 4 000 dessas vagas serão criadas apenas nas fornecedoras de autopeças, que reúnem empresas como Magneti Marelli/Faurecia, Lear, Adler e Pirelli. A Fiat, por sua vez, vai contratar 600 profissionais de nível superior ainda neste ano.
  • Estimativas que apontam investimentos na casa de R$ 6 bilhões no segmento de hotelaria e turismo para a região. O FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste), administrado pelo BNB (Banco do Nordeste do Brasil) programou investimento de mais de R$ 500 milhões à edificação de novos estabelecimentos do setor hoteleiro.
  • A cadeia produtiva do petróleo também está aquecida no Nordeste, e a indústria naval é uma das que mais têm contratado. Com investimentos simultâneos ocorrendo em diversos estados, o setor deverá gerar cerca de 15 000 empregos diretos na região, com boas oportunidades para engenheiros navais, cujos salários estão cotados entre 5 000 e 14 000 reais.
  • O grande símbolo do deslocamento da indústria naval do Sudeste para o Nordeste é o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), sediado no Complexo de Suape, em Pernambuco, desde 2008 e com uma carteira de investimentos de 8,1 bilhões de dólares. O estaleiro conta com 6 200 empregados e deve chegar a 7 000 até o fim deste ano.
  • O Porto de Suape, que teve um aporte de R$ 1,2 bilhão em investimentos, cresceu 26% em 2012 e empregou 60 mil pessoas.
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