Cozinha

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Sobre Crimidéia/Charade You Are:

“Crimidéia” é um conceito retirado do livro “1984″, de George Orwell, um dos maiores escritores do século XX – pra mim- e paixão fundamental em minha vida.

Se alguém pensasse diferente (do Partido), cometia crimidéia (crime de idéia em novilíngua) e fatalmente seria capturado pela Polícia do Pensamento e era vaporizado. Desaparecia.”

Assim como o Pink Floyd, grupo que não gosto nem um pouco, donde saiu o “charade you are”, início da música “Pigs – Three Different Ones”: um grande homem ou um porco, advinhe o que você é. “Pigs” faz parte do álbum “Animals”, de 77, baseado diretamente na obra “A Revolução dos Bichos”, de Orwell – escrevi um artigo bem didático sobre a relação “floyd orwelliana” em 2005, disponível aqui.

Sobre 1984, se você cometeu o pecado imperdoável de não tê-lo lido até hoje na sua vida ignorante, deve correr até a biblioteca/sebo mais próximo, comprá-lo/ler, e tomar vergonha. Ou, via ebook. Depois, pode ver o filme, disponível neste endereço + script.

Big man, pig man, ha ha, charade you are
You well heeled big wheel, ha ha, charade you are
And when your hand is on your heart
You’re nearly a good laugh
Almost a joker
With your head down in the pig bin
Saying “keeps on digging”
Pig stain on your fat chin
What do you hope to find
When you’re down in the pig mine?
You’re nearly a laugh
You’re nearly a laugh
But you’re really a cry.

Bus stop rat bag, ha ha,
Charade you are
You fucked up old hag, ha ha,
Charade you are
You radiate cold shafts of broken glass
You’re nearly a good laugh
Almost worth a quick grin
You like the feel of steel
You’re hot stuff with a hatpin
And good fun with a handgun
You’re nearly a laugh
You’re nearly a laugh
But you’re really a cry.

Hey you white house, ha ha
Charade you are
You house proud town mouse, ha ha
Charade you are
You’re trying to keep your feelings off the street
You’re nearly a real treat
All tight lips and cold feet
And do you feel abused?

You gotta stem the evil tide
And keep it all on the inside
Mary you’re nearly a treat
Mary you’re nearly a treat
But you’re really a cry

.

(…)

Não o fez, contudo, porque sabia ser inútil. Quer escrevesse ABAIXO O GRANDE IRMÃO ou não, não fazia diferença. Quer continuasse o diário, quer parasse, não fazia diferença. A Polícia do Pensamento o apanharia do mesmo modo. Cometera – e teria cometido, nem que não levasse a pena ao papel – o crime essencial, que em si continha todos os outros. Crimidéia, chamava-se. O crimidéia não era coisa que pudesse ocultar. Podia-se escapar com êxito algum tempo, anos até, porém mais cedo ou mais tarde pegavam o criminoso.
E era sempre à noite – as prisões eram sempre à noite.

O súbito arranco ao sono, a mão rude sacudindo o ombro, as luzes ferindo os olhos, o círculo de caras implacáveis em torno da cama. Na vasta maioria dos casos não havia julgamento, nem notícia da prisão. As pessoas simplesmente desapareciam, sempre durante a noite. O nome do cidadão era removido dos registros, suprimida tôda menção dele, negada sua existência anterior, e depois esquecido. Era-se abolido, aniquilado; vaporizado era o termo corriqueiro.

Cumprimentos da era de uniformidade, da era da solidão, da era do Grande Irmão, da era do duplipensar!
Êle já estava morto, refletiu. Pareceu-lhe que só agora, depois de começar á formular suas idéias, dera o passo decisivo. As consequencias de cada ato são incluidas no próprio ato. Escreveu:
Crimidéia não acarreta a morte: crimidéia É a morte.

(…)

Guardou o diário na gaveta. Era absolutamente inútil pensar em escondê-lo, mas poderia ao menos certificar-se de que sua existência fôra ou não descoberta. Um cabelo deposto na margem da página daria na vista. Com a ponta do dedo recolheu um grão identificável de pó esbranquieçado e depositou-o no canto da capa, donde certamente cairia se o livro fosse mexido.

2 comentários sobre “Cozinha

  1. Kika Lisboa disse:

    Apenas paraparbenizar, mesmo, mesmo.
    Acabo de enviar uns três textos teus para a minha mãe, que é jornalista ha 30 anos, de tão encantada que eu fiquei em encontrar no meio dessa abundância de pseudo-jornalistas socados atrás de uma barricada de arrogância, um texto realmente agradável de ler.
    Teu texto flui, parabéns.

    Um abraço,
    Kika

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