Política & Economia

A elasticidade do “efeito Marina”

Marina Silva foi, sem dúvida, o fator “diferente” dessa eleição. Pelo tamanho minúsculo do PV – que se reflete na militância, nos deputados, senadores e governadores eleitos (especialmente a falta deles) – ou seja, de uma base fraca para sustentar uma candidatura à presidência, Marina foi literalmente um fenômeno de votos. Como Heloísa Helena em 2006, Marina representou a “terceira via”, uma espécie de meio termo entre Serra e Dilma, ocupando a lacuna de rejeição destes dois e com um discurso “ambientalista”, “plural”. Seus quase 20 milhões de votos representam mais que o triplo conseguido por Heloísa Helena em 2006 (6,2 mi).

Os motivos são muitos: ao contrário de Heloísa, Marina nunca esteve tanto à esquerda. O PV representa algo muito diferente do PSOL. Ancorada por sua história de vida marcante, pela maior desenvoltura com a mídia e o público, seu discurso mais brando, Marina conseguiu conquistar o voto de gente tão diversa quanto a ala evangélica, altamente representativa e os grupos mais “avançados” e “alternativos”, como o terceiro-setor, os jovens, boa parte da elite e penetração elevada entre os pobres, além de gente que não se via representada por Serra, Dilma e tampouco Plínio. Marina, em suma, alcançou o equilíbrio perfeito de alguém com pretensão de ser “a terceira via”.

Sua penetração na elite é ilustrada por ter conseguido ficar em segundo lugar na cidade de São Paulo, especialmente dentro do centro expandido, por sua estrondosa vitória em Brasília (ficando com espetaculares 41,96% dos votos, 611 mil eleitores, 10% a mais que Dilma) e o ótimo desempenho em Vitória, as duas capitais com mais alto PIB per capita do país.

Marina foi decisiva para levar a eleição para o segundo turno? Sim, foi. Mas não só ela. Parte pelo próprio desejo da população em “testar” Dilma um pouco mais, parte pela campanha suja do PSDB em diversos meios, etc. E se pensarmos que sequer Lula venceu qualquer pleito em primeiro turno, o resultado de Dilma fica excelente.

Marina sempre foi alguém de esquerda. Sua história de vida, por ser ex-PT, suas posições. Algo abrandado e deslocado “para o centro” por interesses eleitorais, obviamente. A tese de que o voto em Marina foi necessariamente “alternativo” e “desenvolvimentista” é duvidosa e questionável. A começar pelo fato de que a maioria dos votos de Marina migraram para Serra.

A demonização – literal – de Dilma entre os evangélicos contribuiu tanto para isso quanto a elite que votou em Marina e a imensa parcela de jovens indecisos, que fizeram um voto “por votar”, frouxo, sem convicção, apenas para ir contra as duas correntes principais. Apesar de Marina ter “mineiramente” enrolado e não declarado apoio a nenhum candidato no segundo turno (seria igualmente “estranho” ela apoiar Serra ou Dilma, por motivos diversos), boa parte de seus votos foram para Serra tanto que Dilma perdeu no Espírito Santo, em Goiás e no Rio Grande do Sul no segundo turno, locais que havia ganho no primeiro. Serra cresceu mais que Dilma: passou de 33,1 milhões de votos para 43,7 milhões. Enquanto Dilma foi de 47,6 para 55,7. 2 milhões de votos de diferença que não chegaram perto de influenciar no resultado final, mas absolutamente significativo para nossa análise e o “efeito Marina”.

Dilma/PT tem muito mais ligações com Marina do que o Serra/PSDB. O próprio Serra, num deslize histórico nos debates, tratou de afirmar que “as duas tem muito em comum”. As desavenças com Dilma e o fato de não compactuar com a ideologia e as práticas do PSDB fizeram com que Marina adotasse a neutralidade, ao contrário do PV, louco para afirmar apoio a Serra.

Qualquer afirmação sobre a sua influência nas eleições, portanto, precisa ser cuidadosa. Marina tomou uma nova frente, com certeza fez muito mais do que imaginou que fosse conseguir. Ao contrário de Heloísa Helena, que sumiu do mapa político nacional em 4 anos e amargou o fracasso de não conseguir se eleger sequer senadora por Alagoas em 2010, tudo indica que Marina seguirá tendo papel importante na vida política nacional e, provavelmente, firmará sua posição como liderança absoluta do ambientalismo no Brasil.

É pouquíssimo provável que aceite algum ministério no governo Dilma. Se conseguir manter-se atuante e agregar novas forças ao jogo político (que ela reluta em fazer), sua candidatura pode ganhar corpo interessante se quiser vir novamente em 2014. Ficando no PV ou não.

Independente das possibilidades, Marina tem tempo e é inteligente o suficiente para definir os melhores passos da sua vida política. Sua presença de destaque em 2010, indubitavelmente, foi positiva para o país. Ela pode conseguir um pouco mais.

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