Marshall Berman morreu na última quarta-feira, 11 de setembro (realmente uma data maldita), aos 72, por ataque cardíaco. Berman, que descobri aos 17, exerceu grande influência na minha formação. Pela primeira vez eu encontrava um filósofo (e educador, cientista político) que conseguia analisar Marx sob uma ótima completamente nova, fresca, lúcida, sem os ranços de linguagem, sem vícios ideológicos, autêntico, “moderno”.
“Tudo Que é Sólido Desmanchar no Ar”, o livro chave de Berman, lançado em 1982, afirma que Marx foi o primeiro dos modernistas. E traça paralelos soberbos que vão desde ícones da cultura ocidental clássica, como Goethe, passando pelo Velho Testamento (e sua origem judaica) até a urbanização de Nova York, sua casa, cidade tão cara para Berman, que influenciou tanto sua visão de mundo e que deu origem a seus dois últimos livros. Berman também abraça e retorce a cultura de rua e a cultura pop da sua época, abordando desde o grafitti até o hip-hop dos Beastie Boys, grupo que ele coloca no seu panteão.
É o tipo do cara que dialoga de forma absurdamente culta, porém fluída, que mergulha no próprio tempo em que vive e consegue olhar para teorias estabelecidas e traçar novas e vigorosas ideias. O urbanismo, a arquitetura – vale a pena pesquisar sua relação “curiosa” com Oscar Niemeyer – o “caos” organizado das cidades, os conflitos e paradoxos da vida moderna numa prosa fluída, acessível e encantadora.
É o sujeito que você teria enorme prazer em sentar na mesa do bar, pedir uma cerveja e dialogar durante horas sobre temas que fazem parte da sua vida, quer você perceba ou não, de maneira pra lá de agradável, ainda que incomode. É um dos melhores e mais importantes pensadores do nosso tempo. Obrigado por tudo, Bermão.
Leia:
Marshall Berman, Marxist Humanis Mensch
Marx, Berman, capitalismo, democracia e modernidade