Literatura

O brutalismo regional de Edyr Augusto Proença

14-06-25_um-paraense-em-paris2

Por Maurício Angelo

Quando se fala em “brutalismo”, a referência inevitável no Brasil e para quem o termo foi inicialmente empregado, é Rubem Fonseca. Mas seria o paraense Edyr Augusto Proença apenas mais um entre tantos que buscam emular Fonseca? Ou trata-se de uma influência inevitável do escritor policial onipresente nestas terras nos últimos 60 anos? Logo nas primeiras páginas de “Os Éguas”, objeto deste texto, o primeiro romance de Edyr, lançado em 98, a resposta fica clara.

Ao contrário de Fonseca, dado sempre a digressões filosóficas, referências cinematográficas e da arte em geral, em descrições enciclopédicas de lugares e objetos, Edyr preza pelo texto extremamente exíguo, direto, coloquial, frases curtíssimas e que bebem diretamente do regionalismo próprio do meio em que sempre viveu: Belém do Pará.

E essa é uma característica importantíssima não só em “Os Éguas”, como em toda a obra de Edyr. É ao se apropriar do que conhece tão bem, em apostar na vida característica do que o circunda que a sua literatura ganha contornos mais próprios e interessantes. Já se falou de forma exaustiva que, paradoxalmente, quanto mais regional, mais mundial a arte se torna (minha aldeia é o mundo, disse Pessoa) e o sucesso de Edyr na França, por exemplo, onde vem sendo celebrado como um dos grandes autores contemporâneos, parece confirmar isso.

Sua linguagem seca (mas não rígida), vem do teatro, início da sua carreira como escritor e que o ocupa até hoje (Edyr tem uma companhia de teatro em Belém há 30 anos). O cenário são as ruas de Belém, inundadas de violência, corrupção, estupro, drogas, pedofilia, relações destroçadas e figuras decadentes. O cenário é Belém, mas poderia ser São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife, Paris, Los Angeles, Tóquio ou São Mateus. Nada que não aconteça desde o início dos tempos. A escrita, de modo surpreendente, flui.

O ritmo sempre frenético e alucinante de Edyr é do tipo que te faz ler o livro quase num fôlego só, parando no meio pra respirar. Sem se expor demais, no entanto, para não levar uma bordoada na cabeça. Tem sexo, sem ser pueril. A putaria não é estilizada ou grandiloquente, mas calcada no dia a dia, real e imediata. Edyr é econômico e preciso, quando acerta ou erra.

“Pssica”, de 2015, bem recebido pela crítica, é outro que segue nessa toada. Há um trecho disponibilizado aqui pela Boitempo. Radialista, jornalista e até redator publicitário, Proença não abre concessões. O seu brutalismo é tão “verdadeiro” quanto uma página de jornal. Assim, entre aspas.

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