Ativismo

O brasileiro cordial

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– No Brasil cordial, uma pessoa é assassinada a cada nove minutos. Foram 279 mil assassinatos de 2011 a 2015 (mais que na guerra da Síria, que matou 258 mil pessoas).
– Destes, um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos.
– A cordial polícia brasileira mata em média 9 pessoas por dia, a mais violenta do mundo.
– O trânsito brasileiro, conhecido por sua cordialidade, matou 44 mil pessoas em 2014.
– Outras 600 mil pessoas ficaram com sequelas permanentes em função do excesso de cordialidade no trânsito brasileiro no mesmo ano.
– Para 65% dos brasileiros cordiais entrevistados, mulheres que ficam com parceiros abusivos é porque gostam de apanhar.
– Para outros 26% dos fofuxos, mulheres que usam roupas curtas merecem ser estupradas.
– A cordialidade com a mulher: entre 1980 e 2013, num ritmo crescente ao longo do tempo, tanto em número quanto em taxas, morreu um total de 106.093 mulheres, vítimas de homicídio. Efetivamente, o número de vítimas passou de 1.353 mulheres em 1980, para 4.762 em 2013, um aumento de 252%. A taxa, que em 1980 era de 2,3 vítimas por 100 mil, passa para 4,8 em 2013, um aumento de 111,1%.
– Não por acaso, o Brasil tem hoje 1 denúncia de violência contra a mulher a cada 7 minutos.
– O brasileiro cordial é o campeão mundial em linchamentos públicos.
– Mais da metade dos brasileiros cordiais apoiam a tortura como método eficaz para conseguir informações.
– Para 57% dos brasileirinhos cordiais entrevistados, “bandido bom é bandido morto”.
– O brasileiro cordial também é campeão mundial em assassinatos de homossexuais.
– O brasileiro cordial também registra 5 casos de violência contra crianças a cada hora.
– Não satisfeito, o Brasil cordial também figura sempre entre os 5 países que mais matam jornalistas no mundo.

Em suma, como essa rápida pesquisa que eu fiz mostra (dados e reportagens aqui), somos um dos países mais assassinos, violentos, racistas, misóginos, homofóbicos, perversos, cretinos e “intolerantes” do mundo. Lembre-se disso, todos os dias. Nas ruas, na internet, em casa, no bar, na padaria. Some com a nossa desigualdade, entre as 10 piores nações do planeta, ligue outros pontos soltos por aí evidentes para quem não usa viseira e entenda porque o mito do “brasileiro cordial”, antes de parecer um povo “bondoso”, “simpático” ou “afável”, vem de de alguém que trabalha com o coração, com o instinto, com as vísceras: algo bem exemplificado pelo demonstrado acima.

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Ativismo

“Seja lá o que você faça, não largue o seu emprego para perseguir a sua paixão”

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(Tradução livre do artigo de Janelle Quibuyen em Quartz, porque é preciso)

Dois anos atrás, eu larguei meu emprego em tempo integral – salário + benefícios – para seguir como uma designer gráfica freelancer e independente. (Talvez este seja o maior clichê que lemos online atualmente).

Desde então, as reações que recebi são sempre iguais. As pessoas ficam fascinadas pelo fato de eu ter tomado esse grande e poderoso passo para mudar minha vida. Recebo mensagens como “Uau, você é tão corajosa” e “É tão incrível que você esteja perseguindo a sua paixão” ou “eu desejo tanto poder ser o meu próprio chefe”.

No início, eu não sabia o que pensar. Havia muitas coisas pessoais acontecendo na época que me impactaram o suficiente para que eu largasse meu emprego em tempo integral. Mas após receber as mesmas reações dezenas de vezes e cansar de ler textos por aí como “eu larguei meu emprego e comecei meu próprio negócio!”, as típicas histórias de sucesso da noite pro dia que pipocam online em todo canto – comecei a aceitar a ideia. Acreditar por conta própria. Tornou-se parte da minha narrativa.

Claro, é fácil se identificar com várias coisas que os jovens empreendedores estão dizendo. Mas eu ralo pesado para trabalhar o suficiente em um mês para conseguir pagar as contas. Eu lido com o medo, a ansiedade e a instabilidade todos os dias. Tento evitar a adivinhação, analisando por quanto tempo eu vou conseguir me sustentar dessa maneira pensando realisticamente. Mas ao mesmo tempo eu sou paga para fazer algo que amo (o que supostamente deveria ser o suficiente para anular todo o resto).

Não vou mentir, tem sido divertido e enriquecedor. Eu estava orgulhosa em seguir a minha paixão, congratulando a mim mesma por fazer funcionar. Mas então outra parte de mim não poderia discordar mais desse sentimento. Ser o seu próprio chefe é difícil pra caralho. Você não tem ninguém para culpar quando as coisas dão errado. E não é sempre o que você espera que aconteça. Mas o que me incomoda mais é como nós louvamos a narrativa de que a classe empreendedora é sempre heroica e corajosa.

Eu não sou mais corajosa do que o imigrante que colhe as suas framboesas para enviar uma grana para a família em sua terra natal. Eu não sou mais heroica que o jovem recém formado que trabalha em condições insalubres nove horas por dia para pagar a dívida monstruosa que ele contraiu na faculdade. Eu não sou mais exemplar do que a mãe proletária que acumula três empregos diferentes para alimentar seus filhos.

Hoje em dia nós somos bombardeados com mensagens de que a vida pode ser tão significativa se fizermos aquilo que amamos (o que é subjetivo de todo modo). Largar empregos para viajar o mundo. Abandonar tudo para ser seu próprio chefe. Deixar a rotina para construir algo do nada. Nos oferecem cursos online, webinars, livros e podcasts com conselhos de profissionais. Vemos o marketing de aplicativos que prometem tornar o desafio de abrir o próprio negócio algo acessível. Dizem que o sacrífico será grande, mas tudo compensará no final – “Você só precisa largar o seu emprego, dar o seu máximo, comprar o meu ebook com conselhos por 20 dólares e ter a paixão para perseverar”.

Nós louvamos as pessoas que são “corajosas” o suficiente para largar o seu emprego das 9 às 17h e mergulhar profundamente no desconhecido. Nós idealizamos e romantizamos a ideia de ser o próprio chefe e ficar responsável pela própria rotina. Em assumir o risco e colher os benefícios. Ainda que ninguém fale sobre a real capacidade de manter a autossuficiência dessa fórmula enquanto os resultados não vem.

Largar o seu emprego para seguir a sua paixão é uma bobagem tremenda. É o tipo de narrativa que apenas beneficia pessoas privilegiadas e pode ser muito (muito) perigosa para o trabalhador comum de classe média.

O discurso em si já fede a privilégio. Primeiro confirma que você tem um emprego em tempo integral – para começar. Confirma que você tem tempo suficiente para desenvolver uma paixão que poderá capitalizar para atender o seu custo de vida. E confirma que você tem a opção de tentar algo diferente apenas porque tem vontade.

Há muitos desafios em trabalhar por conta própria do que apenas perseverança e confiança no seu potencial. Nós estamos atraindo o proletariado de forma predatória para o estilo de vida do empreendedor como se esta fosse a resposta para uma vida mais plena e capaz de gerar pilhas de dinheiro. É o novo sonho americano.

Pela minha própria experiência, eu pessoalmente não larguei o meu emprego em tempo integral de salários mais benefícios por ser corajosa e seguir minha paixão. Eu não o fiz espontaneamente ou por “um grande passo de fé”. Eu larguei porque estava confrontada por novas e desafiadoras responsabilidades na minha vida pessoal que exigiam mais de mim mental e emocionalmente do que eu fui capaz de prever. Eu larguei porque estava depressiva. Larguei porque não aguentava a rotina, às vezes doze horas por dia, fingindo que nada estava acontecendo. Larguei porque eu tinha freelancers o suficiente para me sustentar, não porque eu tinha freelancers em tempo integral. Larguei porque analisei bem minhas opções por 7 meses antes de tomar uma decisão definitiva.

Eu sou privilegiada porque não tenho empréstimos da minha faculdade para pagar. (Suponho que largar o ensino médio finalmente foi recompensador, hahaha). Sou privilegiada porque consegui pagar boa parte da minha dívida com o cartão de crédito enquanto eu estava empregada em tempo integral. Sou privilegiada porque tenho alguém que tem um trabalho fixo. Alguém com quem eu posso morar. Eu larguei meu emprego porque estava lidando com uma emergência familiar que me ocuparia por um longo tempo. Eu larguei meu emprego porque eu tinha o privilégio de poder fazê-lo.

No entanto, eu não quero espalhar a falsa narrativa de que larguei meu emprego porque eu sou corajosa o suficiente para perseguir minha paixão. Não quero ninguém que trabalhe de 09 às 17h se sinta um idiota por permanecer em um emprego estável, ou se sinta culpado por verdadeiramente gostar disso. Eu quero que as pessoas saibam que praticamente todas as histórias empreendedoras de sucesso da noite para o dia que aparecem ignoram a parte do privilégio reservado a elas em primeiro lugar. Nem todo mundo pode, ou deve, largar seu emprego na esperança de encontrar a felicidade ou algo que as complete. Paixão pode ser um incentivo, mas às vezes não é suficiente para pagar as contas e ninguém deve se sentir um lixo por não estar apto em atender esse modelo de sucesso que foi criado. O conceito simplesmente não é realístico.

Não estou dizendo que trabalhadores não podem ser empreendedores de sucesso. Estou apenas dizendo que se você não leu nada que mencione o privilégio desses “inspiradores, corajosos e bravos empreendedores que largaram tudo para seguir a sua paixão”, então aqui está. 

Recomendado: Bertrand Russel: o ócio e a falácia do trabalho, publicado neste blog em 2010

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Ativismo

Peter Sunde: “não existe internet livre”

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Peter Sunde é um dos fundadores do Pirate Bay, o agregador de torrents mais famoso dos anos 00, o símbolo da internet livre e do compartilhamento de arquivos. Condenado em 2009 e preso em 2014, a experiência de Sunde diz muito do estado de coisas atual. Destaco dois trechos dessa ótima entrevista para a Vice: 

“Não temos uma internet livre. Estamos perdendo privilégios e direitos o tempo inteiro. Não ganhamos nada em setor algum. A tendência é uma só: uma internet cada vez mais controlada e fechada. Isso tem um impacto enorme na nossa sociedade. Se você tem uma internet mais oprimida, você tem também uma sociedade oprimida. E deveríamos nos focar nisso. Nunca vimos tanta centralização, desigualdade e capitalismo extremos. Porém, de acordo com o marketing feito por gente como Mark Zuckerberg e empresas como o Google, tudo é feito para ajudar a rede aberta e promover democracia, e por aí vai. Ao mesmo tempo, são monopólios capitalistas. É como confiar no vilão pra fazer boas ações. É bizarro.

(…)

Penso que para vencer a guerra, primeiro precisamos entender o que é a luta e pra mim está claro que lidamos com algo ideológico: o capitalismo extremo em voga, o lobby extremo em voga e a centralização do poder. A internet é só uma peça em um quebra-cabeça ainda maior. E o lance com o ativismo é que preciso agir na hora certa para ganhar atenção e tudo mais. Mandamos muito mal nisso. Paramos a ACTA, mas então ela voltou com outro nome. Na época, já tínhamos gasto todos nossos recursos e atenção do público com aquilo. O motivo pelo qual foco no mundo real é porque a internet o emula. Estamos tentando recriar uma sociedade capitalista na internet. Logo, a internet tem servido de combustível para a chama capitalista ao fingir ser algo que te conectará ao mundo todo mas que, no final, tem interesses capitalistas. Observe as maiores empresas do mundo, todas tem base na internet. Veja o que elas vendem: nada. O Facebook não tem produto. O Airbnb, maior rede de hotelaria do mundo, não tem hoteis. Uber, a maior empresa de táxis mundial, não tem nem táxis. A quantidade de funcionários nessas empresas está mais reduzida que nunca e os lucros, por sua vez, maiores. Apple e Google ganham de petroleiras fácil. Minecraft foi vendido por 2,6 bilhões de dólares e o WhatsApp por uns 19 bilhões. São quantias absurdas de dinheiro trocadas por nada. Por isso a internet e o capitalismo se amam tanto.”

Sunde tem um ponto e está corretíssimo na sua avaliação. O recente bloqueio do Whatsapp no Brasil ilustra PERFEITAMENTE isso. Zuckerberg, que é dono do Whatsapp, se apressou em afirmar que “este é um dia triste para o Brasil” e “estamos” – risos – “lutando por uma internet independente”. É no mínimo “curioso” que uma empresa que colabora pesadamente com o governo dos EUA (assim como todas as outras) fornecendo dados dos usuários e que também usa cada letra que você escreve e cada click que você dá para filtrar a timeline, direcionar anúncios, etc, se negue a fornecer dados de um criminoso para a justiça brasileira (o que gerou a estapafúrdia interrupção temporária do Whatsapp).

Claro, nosso Marco Civil (apesar de erroneamente atacado no episódio) é patético. Claro, o que não falta é juiz fazendo “juizices” pra aparecer. Claro, é um absurdo que só acontece porquê ainda somos capitanias hereditárias. Mas serve pra esfregar na sua cara de quem parece viver em uma realidade paralela o óbvio ululante: não existe internet livre nem nunca existiu.

Essa é uma história sem mocinhos. O doc “Citizen Four”, sobre Edward Snowden e o vazamento de informações sobre as práticas da NSA mostra, desenhadinho, que isso nunca foi teoria da conspiração. Há uma estrutura gigantesca construída e mantida com esse único foco: espionar o usuário e manter todas as informações que circulam na internet bem controladas. Eles fazem o que querem e nós trabalhamos gratuitamente gerando conteúdo para eles. É 1984 aperfeiçoado. Quem controla o presente, controla o passado e o futuro.

Ter isso em mente é fundamental para não cairmos em falácias muito bem construídas de quem tenta se vender como o oposto do que realmente é.

httpv://www.youtube.com/watch?v=6yYYuBCfzh4

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Ativismo

#reiOpixo

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Dafne Sampaio é jornalista e um bocado de outras coisas. Antes de partir para esse #reiOpixo, Dafne fez barulho por aí com o “Você Praça”, que ele explica aqui:

“desde que assisti o documentário exit through the gift shop (banksy, 2010) me bateu uma vontade danada de fazer algo na rua. de falar algo pra cidade e pras pessoas. mas como não desenho um boneco palito sequer, o lance tinha que ser em texto mesmo. e nada surgia, nada, até que em algum momento do ano passado, como numa brincadeira, eu e ana lima cecílio criamos a quadrinha “você praça / eu acho graça / você prédio / eu acho um tédio”. e a quadrinha ficou lá, maturando na cabeça, esperando o impulso técnico de ação.”

Roberto Carlos é figura central da cultura popular da América Latina nos últimos 60 anos. Sua obra, especialmente para a molecada que o trata como mero contratado da Globo que faz especiais de fim de ano duvidosos no natal, merece ser ouvida, respeitada e descoberta sempre. É consenso reconhecer que a fase setentista de Roberto é o seu ápice e realmente é, tanto em termos líricos – as letras escorrem em pungência, beleza, angústia, honestidade, etc – quanto musical. Ali Roberto está em seu melhor, tanto no sofisticado com suas incursões orquestrais, quanto no rock.

Portanto, espalhar frases das músicas de Roberto pelas ruas desse país parece não só uma homenagem justíssima, como o casamento perfeito entre um dos maiores artistas que esse país já teve e o povo. No tumblr, Dafne compila as incursões que faz na cidade, deixando a paisagem menos cinza, menos modorrenta, menos óbvia. Algo sempre necessário.

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Ativismo, Jornalismo

Independente precisa ser sinônimo de tosco?

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Um erro pra lá de comum quando falamos de iniciativas de “comunicação de guerrilha”, que se pretendem independentes, capazes de veicular relatos e matérias que encontram pouco ou nenhum espaço nos grandes é a tosquice extrema na maneira como o conteúdo é apresentado. Parecem que se contentam em migrar o conceito dos velhos zines para a web e que “qualquer coisa tá bom, o importante é a polpa”.

Engano. A tela acima é do Indymedia, um dos mais antigos veículos do gênero, fundado em 1999. Seu braço brasileiro, apesar de ter passado por uma mudança de layout, não fica muito atrás.

E o site parece mesmo do século XX. É praticamente ilegível, de doer os olhos, sem nenhum cuidado com a organização, clareza e hierarquia das informações. Atualmente, com os vários, excelentes e gratuitos CMS que existem para construção de sites – WordPress, Joomla, Drupal, Plone, etc – sem a necessidade de ser nenhum expert em programação, bastando um bocado de vontade, pesquisa e dedicação, é praticamente inadmissível manter um site no ar como o do Indymedia.

E aí acontece o que estamos cansados de ver em iniciativas do tipo: falar sempre para o mesmo nicho, os mesmos grupos, a galera mais radical e hardcore, caindo na vala comum não só de forma como do próprio conteúdo, com abordagens, temas, textos e premissas ultrapassadas, que não encontram eco da maneira adequada na sociedade ou, no mínimo, ficam extremamente limitados. É aquela história da própria agonia da extrema-esquerda brasileira, por exemplo. Tema que destrinchei aqui, depois das últimas eleições presidenciais.

Naquele texto, afirmei:

A extrema-esquerda se mostra totalmente incapaz de apresentar suas ideias de maneira razoável, equilibrada, atualizada, palatável para a maioria da população e num projeto minimamente possível de ser aplicado no século XXI. Assim, fica restrita ao mesmo nicho que sempre esteve, jamais avançando: estudantes universitários, adultos convictos, militantes radicais e grupos de inclinações “revolucionárias” diversas. O eterno curral. Com a diferença que as urnas mostram o achatamento cada vez maior da penetração desse discurso. E com razão.

Infelizmente, esse “problema” não parece restrito à “extrema-esquerda”. E nem acho que valha a pena entrar numa tentativa de definir o que é “extrema-esquerda” ou não. O discurso fala muito mais que a sigla do partido. E aí que é bom evitar essas armadilhas. Caso da Mídia Ninja, que está nos holofotes. Não importa que as cabeças da NINJA sejam ligados ao PT. De verdade. Ter afinidades ideológicas com um partido – ou mesmo fazer parte direta ou indiretamente das atividades dele, caso de alguns – importa pouco se você é capaz de tratar com um mínimo de honestidade intelectual o conteúdo que você produz.

Essa “afinidade” não é desculpa para uma cobertura ruim ou para a ausência de críticas. O dinheiro público, bom que se lembre, é público, não é do PT. Deve ser uma política estatal permanente, não de governo X ou Y. Não há como esconder suas preferências políticas no mundo de hoje. A “grande mídia”, quando tenta, é tremendamente infeliz nisso. Quando é transparente, é muito melhor.

Quem está no governo tem muito mais motivo para levar porrada. Por razões óbvias. O movimento “Amor Sim, Russomano Não” buscou apoiar a candidatura de Haddad? Sem nenhuma dúvida. Seus líderes tem ligação direta com ele? Sim. O objetivo de atacar Russomano, que liderava as pesquisas, era contribuir para que Haddad fosse para o segundo turno? Óbvio. Daí que não faz sentido que Bruno Torturra negue esse óbvio, como fez na entrevista para o André Forastieri.

Comecei falando de forma e enveredei para o caminho da transparência e das conexões políticas, ideológicas, jornalísticas e sociais (porque não?) que tudo isso implica. Ofertar – e o termo é este mesmo – o que você produz de maneira atraente para o público é fundamental se você almeja ultrapassar as fronteiras costumeiras. A Agência Pública é ótimo exemplo disso. Disparada a melhor referência em jornalismo investigativo feito no Brasil hoje.

Lá fora, o Adbusters é um que merece atenção, ainda que peque bastante pela fragilidade e superficialidade de muito do que divulga. Há uma série de erros, de problemas e de lacunas que são compreensíveis que a mídia alternativa tenha. Ser tosca não é um deles.

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Ativismo

Como a desigualdade foi criada e como resolvê-la

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Há uma enormidade de fatores que andam contribuindo para uma crescente insatisfação com o nosso modo de vida no geral – o way of life, o modus operandi, o sistema, o establishment – seja em movimentos icônicos e diretos como o Occupy Wall Street, nas recentes manifestações no Brasil e no mundo, seja na própria discussão nas redes sociais, no trabalho, no bar, no café, no diabo.

As pessoas estão incomodadas com as coisas como elas são e começam a pensar porquê elas são desse jeito, como chegamos até aqui e como podemos mudá-las. A desigualdade social em todas as esferas e a relação absurda entre produtividade e remuneração, que só piorou na “era da informação”, a rotina de trabalho de 8 horas diárias, herança da revolução industrial, nosso ambiente de trabalho, as próprias relações pessoais, enfim. Tudo isso está em xeque.

Ontem, o Rodrigo James recomendou este texto: a origem das 8 horas de trabalho e por que devemos repensá-las. Em 2010, publiquei aqui no Crimideia esse artigo, baseado no pensando de Russell: Bertrand Russell, o ócio e a falácia do trabalho. De modo geral, vejo cada vez mais amigos compartilharem textos do gênero, que buscam repensar todo o nosso modo de vida. E isto é, no mínimo, um ótimo começo: quanto mais gente pensando sobre isso, mais gente reverberando informação e crítica, mais gente disposta…

Por fim, o Luiz Freitas recomendou esse ótimo site, didático e interativo, que ilustra de maneira sequencial e com inúmeros gráficos, dados e fontes, o porquê de estarmos onde estamos e o que é possível fazer para mudar isso. E com todos os links disponíveis aqui, espero que você consiga cavar fundo na história. Isso é mais do que slacktivism ou ativismo de fato – e já vimos como os dois estão interligados de maneira umbilical, se retroalimentando, etc – trata-se de transformar o meio em que vivemos em todas as frentes.

Estando “bom” ou não pra mim – e já passei por muitas fases do chamado extrato social – eu não estou satisfeito. Nunca estarei. Você está?

Leia também:

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