2013, um ano cruel para o jornalismo. Não lembro, nos anos recentes, de tantos cortes nas redações com essa expressividade e esse alcance, apelidados carinhosamente pela classe de “passaralho”, fechamento de veículos, etc. É a tal “crise”, a eterna crise, tá sempre ruim pra quem tá lá em cima. É o tal “fim do jornalismo”, morte anunciada, blá blá blá. Para além do apocalipse e das profecias de boteco, já que a questão é muito mais séria, complexa e ampla do que se costuma discutir, vamos focar no Grupo Abril.
Com a morte de Roberto Civita, a faca tá entrando pesada. Semana passada, o grupo anunciou o fim das revistas Bravo!, Alfa, Gloss e Lola, o fim do portal Abril.com, além de demissões nas revistas Quatro Rodas, Viagem & Turismo, Placar, Men’s Health e Veja. No total, aproximadamente 150 funcionários foram demitidos e uma série de mudanças nas equipes de jornalismo, publicidade, marketing e etc foram realizadas. Leia o comunicado oficial.
O mais óbvio é que a Abril perdeu o bonde do online, não soube usar seu imenso valor agregado das publicações impressas e a qualidade dos seus profissionais para oferecer conteúdo exclusivo, relevante (e que fosse rentável) na plataforma digital e por aí afora. Não é surpresa. Poucos grupos do gênero conseguem.
Outro fator explica: a queda de 65% no lucro registrada em 2012.
O resultado representa uma queda de 65,5% em relação ao lucro líquido de 2011, que alcançou R$ 185,88 milhões.
Pesaram no resultado tanto a receita, que caiu de R$ 3,15 bilhões para R$ 2,98 bilhões, como o custo da operação, que aumentou de R$ 1,45 bilhão para R$ 1,58 bilhão.
Enquanto isso, um outro braço da operação, a Abril Educação, teve resultado totalmente oposto, atente:
A Abril Educação encerrou o último trimestre com lucro líquido de R$ 66,9 milhões, o que representa uma alta de 16% quando comparado ao mesmo período de 2011. Já no acumulado do ano, o lucro líquido mais que dobrou atingindo R$ 100,1 milhões.
A receita líquida da companhia aumentou 8%, atingindo R$ 394,2 milhões no quarto trimestre.
O Ebtida cresceu 20% para R$ 148,6 milhões no período. A margem Ebitda ficou em 38%, quatro pontos percentuais acima do registrado em 2011.
Em julho de 2013, a Abril Educação comprou o grupo Motivo, do Recife, por R$ 100 milhões.
De um modo bem torto e por uma confluência de fatores, a Abril descobriu que a educação é muito mais rentável que o jornalismo.