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O lucro recorde da Petrobras (e quem o sustenta)

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Não é de espantar que, num ano em que tivemos a pior crise mundial dos últimos 80 anos e o preço do barril de petróleo caiu de U$$ 140 para U$$ 37 a Petrobrás tenha registrado lucro recorde de 33 bilhões de reais?

Melhor que fazer suposições é recorrer diretamente à fonte do link citado, deixando o próprio Almir Barbosa (diretor financeiro da empresa) assumir. Segundo ele:

“Esse lucro representa um aumento de 53% em relação ao ano passado.  O resultado veio a partir da produção e do aumento dos preços”.

É claro que as descobertas do pré-sal em 2008 representaram um incremento no valor das ações da companhia. Embora estando em profundidades abissais (de até 8.000 km abaixo do nível do mar) e portanto de extração extremamente cara (e complicada), o pré-sal pode conter, numa estimativa razoável, mais de 100 bilhões de barris, o que colocaria o Brasil entre os 10 maiores produtores mundiais. Entenda tudo sobre o pré-sal neste link.

A Petrobras também atingiu o recorde de 2.012.654 barris por dia, superando em 12 mil a marca anterior.

Os dados divulgados entregam que “os reajustes de 10% e 15% nos preços da gasolina e do diesel, em maio do ano passado, levaram o preço médio de realização dos derivados a aumentar 13%.”

Ou seja, o preço dos derivados tiveram aumento de 15% em maio, sob o valor já alto cobrado. E mesmo após a crise e a queda brusca do barril de petróleo em setembro, o que levaria a uma natural redução do preço, o valor do combustível no Brasil continuou o mesmo. Um dos principais fatores para o lucro recorde da empresa.

É claro que a Petrobras não é a única responsável pelo valor abusivo e indecente cobrado no país. Vamos ao cerne. O site da BR mostra como é composto o preço final da gasolina na bomba:

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E do diesel:

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Traduzindo: na média, de 15 a 20% do valor é adicionado na distribuição e revenda. O preço base, estabelecido pela Petrobras, vai de 32 a 62%, constituindo a principal fatia, junto com os impostos, notadamente abusivos. Se considerarmos que boa parte das distribuidoras também são da BR, a intervenção da Petrobras no valor pode ir de 70 a 80%.

Não precisamos ir longe. Basta olhar para os vizinhos da América do Sul. A Argentina, que importa petróleo do Brasil, vende, na fronteira, o litro da gasolina a R$ 1,75 e do diesel a R$ 1,30, sem adição de alcóol, enquanto do outro lado o mesmo produto chega a custar R$ 2,85 e R$ 2,08, respectivamente. Isto na fronteira. A média do preço da gasolina na Argentina é de R$ 1,20 a 1,30 o litro, atualmente. Na América do Sul, os únicos países que cobram valores absurdos como o Brasil são o Chile e o Uruguai. Bolívia, Peru, Equador e Colômbia, cada um com sua particularidade, vendem o produto a valores muito mais baixos até chegarmos ao extremo da Venezuela, onde o litro custa, pasmem, 05 centavos (a mais barata do mundo, sem reajuste desde 1997 e que é subsidiada pelo governo, como nos EUA).

Resumindo: os brasileiros pagam um valor irreal e abusivo pelo combustível, tendo o mesmo produto, saindo daqui e exportado para a Argentina, vendido lá por menos da metade do preço. O lucro recorde da Petrobras sai, em grande parte, do seu bolso. Não é motivo para comemoração. Mesmo com o barril caindo a U$$ 37, a margem de lucro foi mantida, até para cobrir as “perdas” com a queda brusca da commodity.

O brasileiro, muitas vezes sem entender a fundo o panorama, é levado a comemorar resultados recordes de empresas que o roubam legalmente há anos. E aqui não há nenhum discurso ideológico – o argumento mais imbecil e frágil que pode ser levantado. Os fatos e declarações, dados pela própria empresa, entregam o roubo, puro e simples, a que somos submetidos. É de se ponderar que, se neste quadro, com o preço do litro variando de R$ 2,20 a R$ 2,80 nos diferentes estados do Brasil (custa R$ 2,68 na capital federal), qual será o rumo da gasolina nos próximos anos,  caso surja qualquer coisa que sirva de desculpa para um reajuste? (como se isto fosse necessário).

O petróleo, definitivamente, não é nosso. E nada indica que a ideia de pagar um preço “justo” pelo que se consome no Brasil chegue a ser possível. Alguém duvida de novo lucro recorde em 2009? Da Petrobras, Vale, companhias energéticas, telefônicas, de abastecimento…

Pra estas empresas, não existe crise. Mas, infelizmente, isto não é nada que signifique um aumento da qualidade de vida real para a população. O que esperar de um país onde querer respeito parece utopia? Pouco, muito pouco.

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