Literatura

Bloom

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Não se engane…terás o melhor companheiro que pode existir. Te darei todo o carinho que um homem é capaz, toda compreensão, amizade, respeito, intensidade. A melhor vida sexual que se pode imaginar. Ficarás orgulhosa, bela, mimada, convencida. Te aninharei quando sentires medo, ou frio. Na verdade, te aninharei sempre, mesmo que não estejas sentindo nada. Ouvirás as palavras mais doces, intensas, rebuscadas, piegas. Terás a certeza que ninguém pode ser tão encantador, completo, bem humorado, cara de pau, convencido, família, protetor, bobo, surpreendente.

Mas a irei sufocar com minhas cobranças, incertezas, ciúmes, insegurança. Projetarei todos meus medos sobre ti. Terá que lidar com atitudes intempestivas, impulsivas, inconstantes. As maiores e mais inexplicáveis alternâncias de humor. A sensibilidade extrema. Desarmarei e anteciparei cada joguinho, cada desculpa, cada ardil psicológico. Inventarei outros. Verei coisas onde não existe. Identificarei rapidamente os que são, de fato. Discutirei e argumentarei incansavelmente, de modo draconiano, duro, rápido, irônico, perspicaz. Insuportavelmente arguto. Irás se cansar, exaurir, repensar. Terás o melhor e o pior. Não sirvo para ninguém, e não é questão de não servir para mim, antes. You’re too heavy, boy. Não sei pegar leve. Nunca peça calma à um espírito impetuoso.

Me lembrarei de cada palavra, cada gesto, cada plano, cada momento, cada respiração. E os jogarei sobre ti, se for necessário. A palavra é sagrada. A intenção, além. Tudo está marcado indelevelmente em meu ser. Gravado na carne, no sangue. Não tente brincar. Eu faço meu próprio tempo. Construo minha própria vida. Levo rigorosamente cada coisa que demonstro. Eu ponho à prova para verificar se mereces, se pode suportar, se faz por onde receber tudo que ofereço. Minha inconstância não se presta a ser traiçoeira. Sou um paradoxo ambulante, uma besta fera, um lobo da estepe…muito mais lobo que homem. Sou tomado por forças que rasgam meu desejo, meu orgulho, minha intimidade, meu valor. Quieto, prestes a atacar. Desprezo imensamente a mim mesmo, o que dirá do restante da humanidade.

Isto não é um texto. Não fui eu quem escreveu. Você não sabe o que acabou de ler. Sou milhares em um só. Um garoto acanhado necessitando de carinho. Um homem faminto prestes a devorar.  Isto é só uma golfada na cara da vida. Um dedo na garganta. One of my turns. Encerrado em seu próprio momento. Reverberando esporadicamente. Pulsando, escondido. A mostra, em combustão. É a pior coisa que já saiu de meus dedos. Assim como cada nova o é. Mentira. Eu sou um blefe. Um ponto de interrogação. Um engano da natureza. Babaca, louco, careta. O maior imbecil que poderás encontrar. Como o melhor deles.

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