Gastronomia

Gordura trans: as mentiras dos fabricantes

butter-fat-in-pan

Sempre tive o hábito de ler os ingredientes de cada produto antes de comprá-lo ou consumi-lo. É a melhor forma de saber exatamente o que você está ingerindo e verificar a qualidade do produto: há diferenças enormes de fórmulas e ingredientes entre produtos da mesma categoria, como molho de tomate por exemplo.

Nisto, passei a identificar algo no mínimo estranho. Desde que a gordura trans se tornou a inimiga número 1 da saúde (uns três anos atrás, creio), milhares de fabricantes logo se apressaram a “alterar suas receitas” e estampar orgulhosos em seus rótulos o selo de “livre de gordura trans”, “0%”, etc. Mesmo assim, passei a perceber que vários produtos, mesmo com o tal selo na embalagem, continham “gordura vegetal” na receita.

screenshot287

Ou seja: propaganda enganosa. O consumidor acha que não está ingerindo este tipo de gordura, quando na verdade está. Pesquisando, achei a brecha que permite que eles façam isto:

“A brecha técnica funciona da seguinte maneira: se o produto contiver até 0,2g de gordura trans por porção, a Anvisa permite que a embalagem estampe o claim “Não contém…”, “Livre de…”, “Zero…” ou “Isento de…” (último item do FAQ[1] da Anvisa). Isso permite que o próprio fabricante arbitrariamente escolha qual o tamanho de 1 porção de seu produto que fique abaixo de 0,2g. Um fabricante de biscoitos, por exemplo, pode imprimir em sua tabela nutricional que os valores de 1 porção equivalem a 1/2 biscoito, e assim induzir o consumidor a acreditar que esse produto não contém nenhuma gordura trans.

Uma maneira segura de comprovar a adição de gordura trans é a leitura da lista de ingredientes do alimento. Se contiver gordura hidrogenada, certamente contém gordura trans.

A Anvisa não exige mais (2008) que os fabricantes grafem gordura vegetal hidrogenada por extenso nas embalagens, permitindo que ela seja indicada apenas como gordura vegetal. Então, outra maneira de verificar a presença de gordura trans é checar a lista de ingredientes impressa nas outras línguas – se disponível.”

Traduzindo: como não existe um limite aceitável para o consumo diário de gordura trans, toda e qualquer presença da substância deve ser considerada prejudicial à saúde. Seria a mesma coisa que estipular um “número X” de cigarros por dia. Como isto não existe, não há base, não tem sob o que calcular.

Devo dizer que tenho verificado que no mínimo uns 60% dos produtos que dizem não conter gordura trans, na verdade contém. Fique atento mesmo ao rótulo. Eles nunca gravam “trans” nos ingredientes, mas sempre “gordura vegetal”, ou “gordura hidrogenada”, dentre outros artifícios.

Segue esclarecimento da ANVISA:

O que são? As gorduras trans são um tipo específico de gordura formada por um processo de hidrogenação natural (ocorrido no rúmen de animais) ou industrial. Estão presentes principalmente nos alimentos industrializados.
Os alimentos de origem animal como a carne e o leite possuem pequenas quantidades dessas gorduras.

Para que servem? As gorduras trans formadas durante um processo de hidrogenação industrial que transforma óleos vegetais líquidos em gordura sólida à temperatura ambiente são utilizadas para melhorar a consistência dos alimentos e também aumentar a vida de prateleira de alguns produtos.

E fazem mal para a saúde? Sim. O consumo excessivo de alimentos ricos em gorduras trans pode causar:

(1) Aumento do colesterol total e ainda do colesterol ruim – LDL-colesterol.
(2) Redução dos níveis de colesterol bom – HDLcolesterol. É importante lembrar que não há informação disponível que mostre benefícios a saúde a partir do consumo de gordura trans.

Gordura Hidrogenada é o mesmo que gordura trans? Não. O nome gordura trans vem da ligação química que a gordura apresenta, e ela pode estar presente em produtos industrializados ou produtos in natura, como carnes e leites. A gordura hidrogenada é o tipo específico de gordura trans produzido na indústria.

Quais alimentos são ricos em gordura trans? A maior preocupação deve ser com os alimentos industrializados – como sorvetes, batatas-fritas, salgadinhos de pacote, pastelarias, bolos, biscoitos, entre outros; bem como as gorduras hidrogenadas e margarinas, e os alimentos preparados com estes ingredientes.

Como podemos controlar o consumo? A leitura dos rótulos dos alimentos permite verificar quais alimentos são ou não ricos em gorduras trans. A partir disso, é possível fazer escolhas mais saudáveis, dando preferência àqueles que tenham menor teor dessas gorduras, ou que não as contenham.

Como é declarado o valor de gorduras trans nos rótulos dos alimentos? O valor é declarado em gramas presentes por porção do alimento. A porcentagem do Valor Diário de ingestão (%VD) de gorduras trans não é declarada porque não existe requerimento para a ingestão destas gorduras, ou seja, não existe um valor que deva ser ingerido diariamente. A recomendação é que seja consumido o mínimo possível.

screenshot288

(*) A quantidade de gordura trans é declarada somente em gramas porque não há valor diário estabelecido.

Assim, para saber se um alimento é rico em gordura trans basta olhar a quantidade por porção dessa substância. Não se deve consumir mais que 2 gramas de gordura trans por dia.

Fique atento! Não aceite os inúmeros artifícios estampados nos rótulos e embalagens! Só assim podemos criar uma cultura de consumo responsável e maior regulamentação (e fiscalização) dos fabricantes.

Fontes:

Anvisa

Wikipedia

Padrão
Artigos/Matérias/Opinião

O cliente NUNCA tem razão

clown_nose

O brasileiro ainda está aprendendo muito lentamente que, como consumidor, ele tem direito a receber um atendimento em todos os níveis muito melhor do que o que ele recebe hoje. Ainda ficamos espantados sempre que conseguimos resolver algum problema sem maiores empecilhos: o que devia ser a regra torna-se exceção. Para ter sempre a mão, aí está o código. Útil porque, sob ele, não tem discussão.

A sensação que temos é que, sempre que contratamos um serviço ou realizamos uma compra, estamos vendendo parte da nossa alma. A verdade é que as empresas fazem o que querem e o consumidor tem que se virar para arcar com o que vier. Só depois, quem sabe, a custa de muita dor de cabeça e muito vai-e-vem, conseguir ressarcimento de algo.

Empresas de telefonia continuam no pódio: cobranças indevidas, atendimento deficitário, dificuldade para cancelar uma conta ou trocar de plano, etc. Mesmo com a nova lei sobre o call-center, problema que tinha se tornado uma piada de mau gosto há tempos, ainda vai levar alguns meses (com sorte) pra que isto fique minimamente aceitável. Saudade do 0800. Hoje, é difícil uma empresa ter um número gratuito com que o cliente possa falar com ela. O primeiro desrespeito. Além de pagar (e caro) pelo o que você contratou, você também tem que pagar novamente pra resolver um problema que a empresa originou, de responsabilidade dela. Não é ótimo?

A área é vasta e os absurdos se amontoam. Coisa que me faz pensar seriamente em me dedicar ao jornalismo investigativo/cidadão. Tem muita coisa pra ser denunciada, todos os dias. Empresas que abusam da paciência e do bolso do seu cliente. Ou seja, ao contrário do que diz o dito (popular?), o cliente nunca tem razão.

Desde para realizar a troca de um produto mais caro, até aquela conta no bar, que o garçom curiosamente sempre erra pra mais, nunca pra menos, é extremamente difícil ter o mínimo de respeito enquanto consumidor no Brasil. Coisas que são normais em países decentes, como ter o seu dinheiro de volta ou até não pagar a comida em um restaurante se você não gostou da qualidade do que lhe foi oferecido, aqui soa como absurdo, fantasia ou “esperteza”.

Não é novidade que o “jeitinho” e a malandragem brasileira, no fim das contas, ferra com todo mundo. As raízes disto são flagrantes. Sem se aprofundar muito, basta olhar para o povo português ou entender o básico da formação do Brasil.

Neste caso, sou um pessimista. Acho que teríamos que nascer de novo enquanto povo, enquanto nação, para as coisas mudarem de fato. Como é impossível, o mínimo que devemos fazer é exigir nossos direitos, brigar por tudo que as empresas fazem de errado, denunciar, questionar e nunca aceitar calado o que nos é imposto.

Não dá pra consertar tudo, mas dá para não ser feito de palhaço e evitar que outros sejam.

Padrão