Filmes

Sombras de Goya

Goya’s Ghost – Milos Forman – 2007 – ****

Traduzido no Brasil como “sombras de Goya” – no caso eu preferiria a tradução literal “fantasmas de Goya” – este filme do cineasta tcheco Milos Forman foi estranhamente ignorado pela crítica e pela Academia (merecia, no mínimo, várias indicações ao Oscar). Forman tem carreira bem peculiar dentro do cinema estadunidense. Desde “Um Estranho No Ninho” (vencedor absoluto em 1975), passando por “Hair”, “Amadeus”, “O Povo Contra Larry Flynt” e “O Mundo de Andy” – não vi “Ragtime” e “Valmont” – o diretor tornou-se um dos nomes mais relevantes do cinema.

“Sombras de Goya”, ambientado na Espanha em 1792, tem uma direção de arte primorosa e fotografia eficiente, criando as texturas adequadas para os diversos cenários da estória. Além disso, os três protagonistas, Javier Bardem, Natalie Portman e Stellan Skarsgard estão ótimos. É impressionante a transformação que fizeram em Portman após anos no cativeiro (a menina está se acostumando a passar por torturas em filmes, como vimos em “V De Vingança”).

Como um escorregão histórico imperdoável, a película tem o vício de ser falada em inglês (isso na Espanha de 1792!). Óbvio que a opção facilita não só para os atores mas para o circuito comercial do filme nos Estados Unidos e mundo afora, mas não dá para ignorar. Focado na Inquisição da Igreja Católica, conflitos de poder, familiares e questões internas dos personagens, “Sombras de Goya” ilustra o quanto a Igreja Católica é a instituição mais asquerosa, hipócrita, corrupta e abjeta da história humana (como se fosse necessário). Para mais detalhes recomendo o livro “Escandâlos Reais”, de Michael Farquhar, que tem fatos contundentes sobre alguns papas, como também de várias linhagens reais – detalhes ligados diretamente ao filme de Forman, portanto.

Vasculhando novamente na obra de Farquhar, achei, na página 279, trechos do “Livro Dos Mortos”, o “guia para os inquisidores” da Igreja Católica na época. Reproduzo aqui as passagens, importantes para a ambientação de uma das principais partes de “Goya’s Ghost”:

“Ou o sujeito confessa e tem sua culpa comprovada por força de sua própria confissão, ou não confessa e é igualmente culpado mediante a evidência dos testemunhos. Se alguém confessa a totalidade daquilo que é acusado, sua culpa por tal totalidade é inquestionável: contudo, se confessa apenas uma parte, deve ainda sim ser considerado culpado de tudo, uma vez que o que confessou prova sua capacidade de ser culpado dos demais pontos da acusação. (…)

“A tortura corporal sempre foi considerada o mais salutar e eficiente meio de levar à penitência espiritual. Assim sendo, a escolha da forma mais conveniente de tortura cabe ao Juiz da Inquisição, que deve determiná-la conforme a idade, o sexo e a constituição do réu. (…)

“Se, não obstante todos os meios empregados, o infeliz miserável insistir em negar sua culpa, deverá ser considerado vítima do demônio – e, como tal, não merece a menor compaixão por parte dos servos de Deus, nem a piedade e a indulgência da Santa Madre Igreja; trata-se de um filho da perdição. Deixem-no perecer em meio aos condenados.”

Creio que o conteúdo fala por si…

Pesado, “Goya’s Ghost” tem algumas reviravoltas atravessadas, num roteiro mal-acabado e edição confusa. Ainda assim, são falhas que não comprometem o todo, sendo outro grande filme de Forman, que merece muito mais atenção do que a que recebeu.

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Man On The Moon

O Mundo de Andy – Milos Forman – ***** – 1999

Sempre gostei de Jim Carrey em papéis dramáticos: “The Truman Show”, “Cine Majestic” e este O Mundo de Andy. E é difícil imaginar outro ator neste papel que senão ele. Esta biografia de Andy Kaufmann, o controverso, polêmico e brilhante humorista estadunidense, capta a a essência e os pormenores da vida e carreira de Andy, brilhante, e por isto mesmo controvertido.

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