A Vida de David Gale – Alan Parker – 2003 – ****
Ah Alan Parker…fora o escorregão simbolizado por Evita, sua filmografia sempre me interessou: e não só por ter dirigido maravilhosamente o querido e muito bem acabado The Wall, baseado na obra do Pink Floyd. Expresso da Meia-Noite e Mississippi em Chamas, também, são ótimos filmes, o primeiro em especial, que me deixou fascinado desde a primeira vez que o vi, numa destas madrugadas insones quando ainda era muito novo. Sem contar Angel Heart, com Robert De Niro, que eu infelizmente ainda não vi.
The Life Of David Gale conta com um elenco marcante: Kevin Spacey pós-Oscar num projeto decente, Kate Winslet melhor que o normal e a precisa Laura Linney. Além disto, é uma película que desperta interesse desde o primeiro momento, com a investigação ficando progressivamente mais instigante, envolvente e o final, pasmem, surpreende. Inteligente, sabe rir de si mesma e dos clichês, como no diálogo entre Constance (com leucemia) e David Gale sobre a morte – aliás, as relações simbólicas entre os personagens bem como o modo com estão entrelaçados, de diversas maneiras, reúne uma série de significados – ela diz: “Sabe, ainda não estou pronta para aceitar minha morte. (…) Estou na fase da negação. Sobretudo, tenho preguiça disto. Me exasperar, dizer as pessoas que aproveitem cada momento…(ri), toda esta bobagem.”
A despeito de suas inclinações políticas e/ou o que defende, não chegou a comprometer a trama ou tornar-se, exageradamente, o principal motivo. Claro que há uma mensagem óbvia pelo fato do estado escolhido ser o Texas, a batalha intelectual entre David e o governador do estado – um dos melhores momentos do filme – as alfinetadas aos republicanos (73% dos serial killers votam neles, diz Zack Stemmons) e a luta pela extinção da pena de morte, tudo isto são mensagens claras contra George W. Bush.
No fim, supera expectativas. Um pseudo filme de gênero que consegue ser redondo e surpreendente.