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Natural Born Killers

Natural Born Killers – Oliver Stone – 1994 – *****

Seu ritmo urgente e alucinógeno, totalmente adequado para a proposta e estilização que é feita, tem o suporte num Oliver Stone inspirado, trabalhando em cima de uma ótima estória de Quentin Tarantino, uma trilha sonora fantástica e um dos meus atores favoritos: Woody Harrelson. O estilo e as feições absolutamente únicas de Woody, meio “exóticas”, digamos, encontra respaldo num ator que transforma todo material que cai em suas mãos (e ele faz boas escolhas) em personagens e atuações marcantes.

Natural Born Killers revela-se ainda uma crítica ácida e pungente, de uma forma totalmente caótica-apocalíptica-falência do humano e das instituições no estilo “the world is fucking burning in nineties” acertadíssima, mesclando sua forma com o conteúdo e os diálogos que melhoram gradativamente. Um dos filmes chave da última década, sem dúvida.

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The Mission

The Mission – Roland Joffé – 1986 – *****

Aclamado com a Palma de Ouro em Cannes, além do Bafta em 1987 e sete indicações ao Oscar no mesmo ano, incluindo a vitória de melhor fotografia para Chris Menges, “A Missão” vai além dos prêmios. A começar pelas atuações incríveis de Jeremy Irons e Robert De Niro (que parece possesso pelo personagem o tempo todo).

É um filme que se beneficia imensamente de suas locações, e retrata muito bem certo acontecimento histórico, ocorrido na América do Sul. Além de contar com outra trilha genial de Ennio Morricone. Recomendadíssimo.

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Ratatouille

Ratatouille – Brad Bird – 2007 – *****

Finalmente assisti a este que foi considerado, por inúmeros críticos e associações ao redor do globo, um dos melhores filmes do ano passado. Realmente Brad Bird consegue ter um charme único, com uma aproximação criativa e original para todo tipo de público. Ratatouille, com seu argumento brilhante, prova definitivamente que animações do mainstream não precisam ficar reféns de estórias encantadas e super heróis.

Remy, o ratinho cozinheiro, obviamente é uma metáfora para uma série de questões clássicas deste tipo de produção, mas que, felizmente, não caem em clichês exagerados, gerando uma película envolvente, tocante e divertida, no ponto certo.

Brad Bird, em pouquíssimo tempo, fez duas obras-primas. Parece que continuará no topo por muito – sorte a nossa.

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The Life Of David Gale

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A Vida de David Gale – Alan Parker – 2003 – ****

Ah Alan Parker…fora o escorregão simbolizado por Evita, sua filmografia sempre me interessou: e não só por ter dirigido maravilhosamente o querido e muito bem acabado The Wall, baseado na obra do Pink Floyd. Expresso da Meia-Noite e Mississippi em Chamas, também, são ótimos filmes, o primeiro em especial, que me deixou fascinado desde a primeira vez que o vi, numa destas madrugadas insones quando ainda era muito novo. Sem contar Angel Heart, com Robert De Niro, que eu infelizmente ainda não vi.

The Life Of David Gale conta com um elenco marcante: Kevin Spacey pós-Oscar num projeto decente, Kate Winslet melhor que o normal e a precisa Laura Linney. Além disto, é uma película que desperta interesse desde o primeiro momento, com a investigação ficando progressivamente mais instigante, envolvente e o final, pasmem, surpreende. Inteligente, sabe rir de si mesma e dos clichês, como no diálogo entre Constance (com leucemia) e David Gale sobre a morte – aliás, as relações simbólicas entre os personagens bem como o modo com estão entrelaçados, de diversas maneiras, reúne uma série de significados – ela diz: “Sabe, ainda não estou pronta para aceitar minha morte. (…) Estou na fase da negação. Sobretudo, tenho preguiça disto. Me exasperar, dizer as pessoas que aproveitem cada momento…(ri), toda esta bobagem.”

A despeito de suas inclinações políticas e/ou o que defende, não chegou a comprometer a trama ou tornar-se, exageradamente, o principal motivo. Claro que há uma mensagem óbvia pelo fato do estado escolhido ser o Texas, a batalha intelectual entre David e o governador do estado – um dos melhores momentos do filme – as alfinetadas aos republicanos (73% dos serial killers votam neles, diz Zack Stemmons) e a luta pela extinção da pena de morte, tudo isto são mensagens claras contra George W. Bush.

No fim, supera expectativas. Um pseudo filme de gênero que consegue ser redondo e surpreendente.

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In The Name Of The Father

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Em Nome Do Pai – Jim Sheridan – 1993 – *

Tentando repetir o mesmo sucesso alcançado 5 anos antes com “Meu Pé Esquerdo”, o diretor Jim Sheridan e o ator Daniel Day-Lewis (ressalta-se, de longe um dos melhores nomes surgidos da década de 80 pra cá), baseando-se novamente numa história real, o resultado foi um filme pavoroso, óbvio e piegas. Apelando continuamente à “emoção” do espectador, algo desnecessário já que a história por si só se encarregaria disto, possui argumento fraco, desenvolvimento previsível e uma mediocridade geral que incomoda. Não se prestaram sequer a explorar melhor os conflitos políticos-religiosos-sociais entre as duas Irlandas e a Inglaterra, a atuação do grupo terrorista IRA, etc. Tema que poderia render boas passagens.

Diálogos deprimentes e um histerismo coletivo que irrita – uma das piores atuações de Daniel Day Lewis. O único objetivo, parece-me, foi retratar uma injustiça que, segundo os próprios parecem acreditar, seria suficiente para fazer um grande filme. Não é. Incrível que uma bomba destas tenha conquistado sete indicações ao Oscar, incluindo as principais categorias. Não à toa foi somente indicado. Trama rasa, condução ridícula e um sentimentalismo irritante. Recomendado somente para curiosos.

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C’era una volta il West

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Era Uma Vez No Oeste – Sergio Leone – 1968 – ******

Diretor seminal e imprescindível, é fascinante que um italiano tenha filmado alguns dos melhores westerns da história, elevando o gênero à condição de arte. Responsável por nada menos que quatro obra primas em 5 anos, consagrando-se com a “trilogia dos dólares”, C’era Una Volta Il West foi o western definitivo de Leone. Reunindo dois atores que desejava há muito: Charles Bronson e Henry Fonda. Há filmes que crescem no decorrer. “Once Upon A Time” impõe-se como uma obra-prima desde os primeiros minutos. Não há nada mediano aqui, nada que esteja fora do lugar, sobrando, nada que não seja técnica e conceitualmente admirável, além das maravilhosas atuações de todo o elenco. Leone possui uma direção segura, firme, autoral…respirando em cada quadro. Ennio Morricone, por sua vez, companheiro inseparável, como também um dos maiores gênios, mais prolífico, respeitado e venerado nome da história do cinema, compõe uma de suas melhores, mais envolventes e memoráveis trilhas – se é que isto pode ser mensurado. Mestre precoce, com pleno domínio e ciência de seu ofício, e talento. Milimetricamente certeiro e irrepreensível.

Há muito o que se dizer de Leone. Para mim, foi, sem dúvida, um dos maiores diretores de todos os tempos. “Era Uma Vez No Oeste”, assim como quase tudo de sua obra, é obrigatório e inesquecível.

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The Killing Of A Chinese Bookie

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The Killing Of A Chinese Bookie – John Cassavetes – 1976 – ****

Neste filme, destaca-se a música de Bo Harwood, misturando temas clássicos da época com uma narrativa tensa e de texturas/climas nitidamente musicais e a belíssima fotografia de Mitch Breit e Al Ruban, conseguindo a façanha de conceber um pseudo-noir tremendamente elegante e equilibrado em plena era disco. A estória, tola e clichê, é apenas um argumento necessário para que Cassavetes explore seu fascínio pelo corpo, os sentimentos e expressões, brincando nitidamente com o conceito de “o show tem que continuar, não importa como/o que custe”, humana, psíquica e financeiramente.

O mundo das aparências prevalecendo sob qualquer outra coisa. Nenhum personagem é invulnerável: todos são atingidos, seja pelo “spotlight”, seja pela falta dele, física ou emocionalmente, ou ambos. A trama, no fundo, esconde sutilezas e questões vistas apenas num segundo olhar. O mundo do cineasta, “clitocentrista”, digamos assim, ao colocar sempre a mulher como centro de suas ações/consequências, partindo delas e atingindo a tudo e a todos, não deixa de sê-lo nem no tom policial que este carrega. Exemplar interessante da filmografia de Cassavetes.

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