Política & Economia

Brasília mantém a tradição: manifestante? toma porrada!

Foto de hoje (09.12.2009), da matéria do G1. 2500 manifestantes agredidos nas ruas da capital pela polícia. Nada muito diferente do que ocorre no DF desde a fundação da cidade. Vergonha. Nojo. Democracia da Cosa Nostra. Aceitamos isso com “naturalidade”, como uma chamadinha no meio de jornal. O documentário “Conterrâneos Velhos De Guerra”, de Vladimir Carvalho, absolutamente fundamental, mostra o lado nefasto da fundação de Brasília, o apartheid social instaurado na capital brasileira e o massacre de milhares de operários, mantidos em condições sub-humanas, até hoje negado por quem não pode admitir: Niemeyer e Lúcio Costa.

httpv://www.youtube.com/watch?v=-qIjSCVwflU

httpv://www.youtube.com/watch?v=dA6M_C5vTcI

O eterno ciclo da história se repete na construção da desnecessária e faraônica nova sede do governo de Minas, em Belo Horizonte, novamente projetado por Niemeyer para o “amigo” Aécio Neves. Operários entraram em greve protestando pela comida estragada servida e as condições ruins de trabalho, no último mês (novembro/2009). Este é o belo “comunismo” de Niemeyer.

Orwell, Orwell, Orwell:

“Quem controla o passado”, dizia o lema do Partido, “controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”. E no entanto o passado, conquanto de natureza alterável, nunca fora alterado. O que agora era verdade era verdade do sempre ao sempre. Era bem simples. Bastava apenas uma idéia infinda de vitórias sobre a memória. “Controle da realidade”, chamava-se. Ou, em Novilíngua, “duplipensar”.

Winston deixou cair os braços e lentamente tornou a encher os pulmões de ar. Seu espírito mergulhou no mundo labiríntico do duplipensar. Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da democracia e que o Partido era o guardião da democracia; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, traze-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torna-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência e então tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra “duplipensar” era necessário usar o duplipensar. (1984, página 36/37, 29º Edição, São Paulo, Brasil, 2004)

GUERRA É PAZ

LIBERDADE É ESCRAVIDÃO

IGNORÂNCIA É FORÇA

Mais fotos aqui.

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Como investir em ações: ótimo negócio na crise (e fora dela)

Para boa parte das pessoas investir em ações ainda é um negócio mais complicado que mulher: confuso, difícil, arriscado e dispendioso mas que quando funciona dá excelente retorno. Boa parte dos mitos são enganosos. Na internet há diversos guias de como investir, onde investir, etc. A começar pelo próprio site da Bovespa, com um guia completo sobre o assunto. Resumindo, além do básico, você deve saber que:

  • Não existe mágica: alto retorno a curtíssimo prazo é praticamente uma lenda. Ninguém dobra seu capital de modo rápido e fácil.

  • Entre pensando em aplicações razoavelmente demoradas. 5 anos, no mínimo. Como eles advertem: As estatísticas mostram que o investimento a longo prazo em uma carteira selecionada de ações é bastante rentável. Portanto, não se preocupe com o dia-a-dia da bolsa: subiu, caiu, ficou estável, etc. Quem atua no curto prazo são os “profissionais de mercado”. Isto não quer dizer que a sua carteira de ações deva ficar parada. Cuide dela com zelo. Faça movimentos (compra e/ou venda) nos momentos adequados. Às vezes, uma ação que já lhe deu grande lucro deve ser trocada por outra com perspectivas melhores. Nessas ocasiões é até admissível deixar de ganhar um pouco.

  • Não é obrigatório colocar valores elevados na bolsa. Apesar de não existir restrição quanto ao investimento inicial, algo em torno de 2 mil reais pode ser uma boa cifra para começar.

  • Divida os seus recursos inteligentemente. Pulverizar as ações em empresas de diversos ramos de atuação e de diferentes níveis de risco (alto, médio e baixo) é indicado.

  • Para ajudá-lo nesta tarefa, você conta com uma corretora especializada e – sempre – autorizada pelo Banco Central a fazer estas operações. Há uma lista delas no site da bolsa. Um exemplo é a Win.

  • É mais simples do que parece: bem informado, atento a todos os detalhes das operações em si, com dinheiro sobrando – e que você não vai precisar a curto prazo – e ciente do que quer fazer, as corretoras auxiliam, e muito, no dia-a-dia. Relatórios frequentes sobre o que de mais relevante acontece e todos os dados estatísticos são disponibilizados para você de forma inteligível para quem não é especialista.

Além de tudo isso, a crise é, sim, um bom momento para investir. Considerando que o pior já passou, a natural tendência de lenta recuperação e o prazo de 5 anos, escolhas pontuais e cautelosas agora podem ser um ótimo negócio. Somente este ano, por exemplo, até meados de junho, a Bovespa acumula alta de mais de 35%.

Atento a todas as informações indicadas aqui (acesse os links para expandir os assuntos), você tende a reduzir ao máximo os riscos.

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Adeus, General Motors – por Michael Moore

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Escrevo na manhã que marca o fim da toda-poderosa General Motors. Quando chegar a noite, o Presidente dos Estados Unidos terá oficializado o ato: a General Motors, como conhecemos, terá chegado ao fim.

Estou sentado aqui na cidade natal da GM, em Flint, Michigan, rodeado por amigos e familiares cheios de ansiedade a respeito do futuro da GM e da cidade. 40% das casas e estabelecimentos comerciais estão abandonados por aqui. Imagine o que seria se você vivesse em uma cidade onde uma a cada duas casas estão vazias. Como você se sentiria?

É com triste ironia que a empresa que inventou a “obsolescência programada” – a decisão de construir carros que se destroem em poucos anos, assim o consumidor tem que comprar outro – tenha se tornado ela mesma obsoleta. Ela se recusou a construir os carros que o público queria, com baixo consumo de combustível, confortáveis e seguros. Ah, e que não caíssem aos pedaços depois de dois anos. A GM lutou aguerridamente contra todas as formas de regulação ambiental e de segurança. Seus executivos arrogantemente ignoraram os “inferiores” carros japoneses e alemães, carros que poderiam se tornar um padrão para os compradores de automóveis. A GM ainda lutou contra o trabalho sindicalizado, demitindo milhares de empregados apenas para “melhorar” sua produtividade a curto prazo.

No começo da década de 80, quando a GM estava obtendo lucros recordes, milhares de postos de trabalho foram movidos para o México e outros países, destruindo as vidas de dezenas de milhares de trabalhadores americanos. A estupidez dessa política foi que, ao eliminar a renda de tantas famílias americanas, eles eliminaram também uma parte dos compradores de carros. A História irá registrar esse momento da mesma maneira que registrou a Linha Maginot francesa, ou o envenenamento do sistema de abastecimento de água dos antigos romanos, que colocaram chumbo em seus aquedutos.

Pois estamos aqui no leito de morte da General Motors. O corpo ainda não está frio e eu (ouso dizer) estou adorando. Não se trata do prazer da vingança contra uma corporação que destruiu a minha cidade natal, trazendo miséria, desestruturação familiar, debilitação física e mental, alcoolismo e dependência por drogas para as pessoas que cresceram junto comigo. Também não sinto prazer sabendo que mais de 21 mil trabalhadores da GM serão informados que eles também perderam o emprego.

Mas você, eu e o resto dos EUA somos donos de uma montadora de carros! Eu sei, eu sei – quem no planeta Terra quer ser dono de uma empresa de carros? Quem entre nós quer ver 50 bilhões de dólares de impostos jogados no ralo para tentar salvar a GM? Vamos ser claros a respeito disso: a única forma de salvar a GM é matar a GM. Salvar a preciosa infra-estrutura industrial, no entanto, é outra conversa e deve ser prioridade máxima.

Se permitirmos o fechamento das fábricas, perceberemos que elas poderiam ter sido responsáveis pela construção dos sistemas de energia alternativos que hoje tanto precisamos. E quando nos dermos conta que a melhor forma de nos transportarmos é sobre bondes, trens-bala e ônibus limpos, como faremos para reconstruir essa infra-estrutura se deixamos morrer toda a nossa capacidade industrial e a mão-de-obra especializada?

Já que a GM será “reorganizada” pelo governo federal e pela corte de falências, aqui vai uma sugestão ao Presidente Obama, para o bem dos trabalhadores, da GM, das comunidades e da nação. 20 anos atrás eu fiz o filme “Roger & Eu”, onde tentava alertar as pessoas sobre o futuro da GM. Se as estruturas de poder e os comentaristas políticos tivessem ouvido, talvez boa parte do que está acontecendo agora pudesse ter sido evitada. Baseado nesse histórico, solicito que a seguinte ideia seja considerada:

1. Assim como o Presidente Roosevelt fez depois do ataque a Pearl Harbor, o Presidente (Obama) deve dizer à nação que estamos em guerra e que devemos imediatamente converter nossas fábricas de carros em indústrias de transporte coletivo e veículos que usem energia alternativa. Em 1942, depois de alguns meses, a GM interrompeu sua produção de automóveis e adaptou suas linhas de montagem para construir aviões, tanques e metralhadoras. Esta conversão não levou muito tempo. Todos apoiaram. E os nazistas foram derrotados.

Estamos agora em um tipo diferente de guerra – uma guerra que nós travamos contra o ecossistema, conduzida pelos nossos líderes corporativos. Essa guerra tem duas frentes. Uma está em Detroit. Os produtos das fábricas da GM, Ford e Chrysler constituem hoje verdadeiras armas de destruição em massa, responsáveis pelas mudanças climáticas e pelo derretimento da calota polar.

As coisas que chamamos de “carros” podem ser divertidas de dirigir, mas se assemelham a adagas espetadas no coração da Mãe Natureza. Continuar a construir essas “coisas” irá levar à ruína a nossa espécie e boa parte do planeta.

A outra frente desta guerra está sendo bancada pela indústria do petróleo contra você e eu. Eles estão comprometidos a extrair todo o petróleo localizado debaixo da terra. Eles sabem que estão “chupando até o caroço”. E como os madeireiros que ficaram milionários no começo do século 20, eles não estão nem aí para as futuras gerações.

Os barões do petróleo não estão contando ao público o que sabem ser verdade: que temos apenas mais algumas décadas de petróleo no planeta. À medida que esse dia se aproxima, é bom estar preparado para o surgimento de pessoas dispostas a matar e serem mortas por um litro de gasolina.

Agora que o Presidente Obama tem o controle da GM, deve imediatamente converter suas fábricas para novos e necessários usos.

2. Não coloque mais US$30 bilhões nos cofres da GM para que ela continue a fabricar carros. Em vez disso, use este dinheiro para manter a força de trabalho empregada, assim eles poderão começar a construir os meios de transporte do século XXI.

3. Anuncie que teremos trens-bala cruzando o país em cinco anos. O Japão está celebrando o 45o aniversário do seu primeiro trem bala este ano. Agora eles já têm dezenas. A velocidade média: 265km/h. Média de atrasos nos trens: 30 segundos. Eles já têm esses trens há quase 5 décadas e nós não temos sequer um! O fato de já existir tecnologia capaz de nos transportar de Nova Iorque até Los Angeles em 17 horas de trem e que esta tecnologia não tenha sido usada é algo criminoso. Vamos contratar os desempregados para construir linhas de trem por todo o país. De Chicago até Detroit em menos de 2 horas. De Miami a Washington em menos de 7 horas. Denver a Dallas em 5h30. Isso pode ser feito agora.

4. Comece um programa para instalar linhas de bondes (veículos leves sobre trilhos) em todas as nossas cidades de tamanho médio. Construa esses trens nas fábricas da GM. E contrate mão-de-obra local para instalar e manter esse sistema funcionando.

5. Para as pessoas nas áreas rurais não servidas pelas linhas de bonde, faça com que as fábricas da GM construam ônibus energeticamente eficientes e limpos.

6. Por enquanto, algumas destas fábricas podem produzir carros híbridos ou elétricos (e suas baterias). Levará algum tempo para que as pessoas se acostumem às novas formas de se transportar, então se ainda teremos automóveis, que eles sejam melhores do que os atuais. Podemos começar a construir tudo isso nos próximos meses (não acredite em quem lhe disser que a adaptação das fábricas levará alguns anos – isso não é verdade)

7. Transforme algumas das fábricas abandonadas da GM em espaços para moinhos de vento, painéis solares e outras formas de energia alternativa. Precisamos de milhares de painéis solares imediatamente. E temos mão-de-obra capacitada a construí-los.

8. Dê incentivos fiscais àqueles que usem carros híbridos, ônibus ou trens. Também incentive os que convertem suas casas para usar energia alternativa.

9. Para ajudar a financiar este projeto, coloque US$ 2,00 de imposto em cada galão de gasolina. Isso irá fazer com que mais e mais pessoas convertam seus carros para modelos mais econômicos ou passem a usar as novas linhas de bondes que os antigos fabricantes de automóveis irão construir.

Bom, esse é um começo. Mas por favor, não salve a General Motors, já que uma versão reduzida da companhia não fará nada a não ser construir mais Chevys ou Cadillacs. Isso não é uma solução de longo prazo.

Cem anos atrás, os fundadores da General Motors convenceram o mundo a desistir dos cavalos e carroças por uma nova forma de locomoção. Agora é hora de dizermos adeus ao motor a combustão. Parece que ele nos serviu bem durante algum tempo. Nós aproveitamos restaurantes drive-thru. Nós fizemos sexo no banco da frente – e no de trás também. Nós assistimos filmes em cinemas drive-in, fomos à corridas de Nascar ao redor do país e vimos o Oceano Pacífico pela primeira vez através da janela de um carro na Highway 1. E agora isso chegou ao fim. É um novo dia e um novo século. O Presidente – e os sindicatos dos trabalhadores da indústria automobilística – devem aproveitar esse momento para fazer uma bela limonada com este limão amargo e triste.

Ontem, a último sobrevivente do Titanic morreu. Ela escapou da morte certa naquela noite e viveu por mais 97 anos.

Nós podemos sobreviver ao nosso Titanic em todas as “Flint – Michigans” deste país. 60% da General Motors é nossa. E eu acho que nós podemos fazer um trabalho melhor.

Texto original de Michael Moore.

Traduzido por Apocalipse Motorizado.

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Para entender a crise…

Um universo de acontecimentos se sucederam desde que eu escrevi o primeiro artigo, Requiem Para Um Pesadelo, sobre a crise mundial, em setembro passado. O quadro atual carece de um novo artigo que, espero, não vou demorar a escrever.

Dentre os milhares de “analistas” que se esforçam em ilustrar o que esse caos todo representa, somente alguns vale realmente a pena ler. Daniel Delfino é um deles. Amigo, companheiro e ex membro do time de articulistas do Duplipensar em sua fase áurea, digamos (antes de se tornar o site poluído e duvidoso que é hoje), Delfino é um pensador de esquerda (se é que estes rótulos ainda cabem), da melhor estirpe. E tem base pra falar: é filósofo e sociólogo.

Quem não entendeu a crise, tem ótima oportunidade de compreender. Quem entende e está acompanhando, pode ver suas idéias confrontadas.

Recomendadíssimo:

A crise econômica atual – parte 1

A crise 2 – As ameaças à humanidade

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O salário do mendigo e a escravidão moderna

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Recebo o seguinte email, já publicado exaustivamente na internet. Útil, contudo, para pensarmos algumas questões interessantes:

Quanto ganha um mendigo? E um estagiário…?

Um sinal de trânsito muda de estado, em média, a cada 30 segundos, ou seja 30 segundos no verde e 30 segundos no vermelho.

Portanto, a cada minuto, um mendigo tem 30 segundos para faturar pelo menos R$ 0,10, o que numa hora dará: 60 x 0,10 R$ 6,00. Se ele trabalhar 8 horas por dia, 25 dias por mês, num mês terá faturado:

25 x 8 x 6 = R$ 1.200,00.

Será que essa é uma conta maluca?

Bem, R$ 6,00/hora é uma conta bastante razoável para quem está no sinal, uma vez que, quem doa, nunca dá somente 10 centavos e sim R$0,20, R$0,50 e às vezes até R$1,00.

Mas assumindo que o mendigo fature a metade: R$ 3,00/hora, terá R$ 600,00 no final do mês, que é o salário de um estagiário (é claro que depende da região do país e de outros fatores, mas enfim…) com carga de 35 horas semanais ou 7 horas por dia.

Ainda assim, quando o mendigo consegue uma moeda de R$1,00 (o que não é muito raro), ele pode descansar tranqüilo debaixo de uma árvore por mais 9 viradas do sinal de trânsito, sem nenhum chefe pra aporrinhá-lo por causa disto.

Mas isto é teoria, vamos ao mundo real…

Foram entevistar uma mulher que pede esmolas, e que sempre era vista trocar seus rendimentos na Panetiere (padaria em frente ao CEFET). Então lhe perguntaram quanto ela faturava por dia. Imaginem o que ela respondeu? É isso mesmo! Ganho de R$ 35,00 a R$ 40,00 em média, o que dá (25 dias por mês) x 35 = R$ 875,00 ou 25 x R$ 40,00 = R$ 1000,00. Então, na média, ganho R$ 937,50. E ela disse que não mendiga 8 horas por dia.

Moral da História: É melhor ser mendigo do que estagiário (ou professor). E pelo visto, ser estagiário é pior do que ser mendigo…

*****

A tal “entrevista”, que pode suscitar dúvidas, encontra respaldo na realidade, já que pesquisas indicaram que a remuneração média de quem pede esmola em sinais é realmente por volta de R$ 900 a R$ 1.000. E ainda podem contar com bolsa aluguel.

Não sejamos simplistas. Dentre o último perfil traçado dos moradores de rua no Brasil, apenas 15,9% disseram viver de esmolas. O levantamento indica também outros dados que valem a pena serem conferidos.

A situação dos estagiários não é segredo. Ainda que o assunto mereça um post específico no futuro, não é difícil achar anúncios de vagas para estagiários que paguem de 200 a 400 reais por mês, por 6 a 8 horas diárias. “Estágio”, na verdade, é a melhor maneira que o mundo capitalista moderno conseguiu de obter mão de obra qualificada a preços irrisórios e que faça tudo que é pedido. Isso quando pagam algo, já que “estágios não remunerados” em grandes empresas são uma constante. É como se o estudante infeliz devesse se submeter a tudo pela “oportunidade de ouro” de servir aquela empresa e colocar o nome dela no seu currículo.

A nova lei de estágio ajudou, mas está longe de corrigir vários absurdos.

Quem se habilita a ir para o sinal mais próximo?

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Eleições em BH e a briga de foice

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Dizem, que, no interior, as coisas se resolvem é na foice: por experiência própria, posso atestar que isto não foge muito a realidade. Mas não é preciso ir em cidadezinhas com 8 mil habitantes para presenciar coisas do gênero: Belo Horizonte, com seus 3 milhões de pessoas, uma das maiores metrópoles brasileiras, oferece “causos” muito mais interessantes.

O que se viu no segundo turno da eleição mineira foi todo tipo de baixaria que a política costuma proporcionar, ajudada pelo “raí-téqui” da internet. Márcio Lacerda, PSB, o “candidato da aliança”, apoiado pelo governador Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel (extremamente populares e bem avaliados) e Leonardo Quintão, PMDB, uma figura prosaica (ha ha), deputado federal, proporcionaram momentos no mínimo burlescos para quem acompanhou a campanha. De um lado, um empresário com parca experiência política e nenhuma intimidade com as câmeras, que esperava ganhar direto no primeiro turno (e não se preparou para o segundo), e do outro um deputado com “estilo” que só estas terras poderiam proporcionar, família política e usando de um discurso piegas e manjado para tocar os mais estúpidos de sua “humanidade”, etc e tal.

Cartazes apócrifos – sem assinatura e identificação – espalhados pela cidade tentaram de todas as formas ligar Márcio Lacerda ao Mensalão. Os tipos variaram: “entenda Márcio no Esquema”, “o candidato mais rico do Brasil”, “procura-se mensaleiro”, etc. Na propaganda na TV, Quintão tentou veicular parte de um depoimento de Marcos Valério a CPI, falando sobre Lacerda, devidamente impedido pela Justiça. Praticamente toda a campanha do segundo turno de Quintão se baseou em tentar, de todas as formas, ligar Lacerda ao Mensalão, para manchar a imagem do candidato ante os eleitores.

procura-se-mensaleiro

Lacerda, obviamente, se defendeu na TV, em debates e folhetos espalhados a quilo pela cidade, mostrando que foi inocentado de todas as acusações e o próprio Valério disse que ele não teve ligação direta alguma com o escândalo. Nos debates promovidos nesta última semana, os candidatos só faltaram “sair na porrada”. Era um tentando provar que era mais ridículo que o outro. Na internet, dois blogs, um Anti-Quintão, o outro Anti-Lacerda, trocaram todo tipo de farpas, e disponibilizaram diversos “joguinhos” onde é possível brincar com os candidatos: de chutar, atirar em suas cabeças, e por aí vai – uma nova modalidade de interação política.

Quintão, nascido em Taguatinga – DF, adotou sotaque mineiro extremamente carregado e um discurso populista, com seus slogan’s “Gente Cuidando de Gente” e “Dá Pra Fazer”. E foi ironizado de forma magistral por Tom Cavalcante, no vídeo abaixo, que se tornou hit no YouTube.

httpv://www.youtube.com/watch?v=UdrcDp5TEK4

Outra série de acusações ligando, desta vez, Quintão a esquemas de lavagens de dinheiro intermediados por Paulo Maluf e Celso Pitta vieram a tona, através do Correio Braziliense e outros veículos. Há que se lembrar que o Correio é do grupo Diário Associados, que publica também o Estado de Minas, maior jornal do estado e, sabidamente, ligado ao governador Aécio Neves. Nada mais natural que alguém se encarregasse de investigar podres no passado de Quintão e revelar isto ao público.

Nas pesquisas, Márcio saiu de uma prévia, em 15 de Outubro, de 33 pontos, contra 51 de Quintão, para terminar, na última, vencendo por 45 a 40 (tecnicamente empatados).

Tendo o desprazer de acompanhar o ridículo e o odor desagradável desta última semana, é difícil dizer qual dos dois é pior. Minha antipatia por Quintão, flagrantemente forçado e patético, contudo, é maior. Mas se fosse votar, sem dúvida que meu voto seria nulo.

Vou repetir isto ao máximo que puder: democracia com voto obrigatório é uma piada de mal-gosto. Um crime. Nunca tivemos democracia no Brasil e dificilmente vamos ter.

Para Belo Horizonte a certeza que fica é que, independente de quem vença neste domingo, a cidade estará em péssimas mãos. Salve-se quem puder.

Uptadate: Com todos os votos apurados, o resultado foi:

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Por regiões da cidade:

Zona Sul

MARCIO LACERDA (PSB)

69,58% 250.912 votos

LEONARDO QUINTÃO (PMDB)

30,42% 109.680 votos

Eleitores na zona:511.502
28,86%

Zona Centro

MARCIO LACERDA (PSB)

61,75% 93.779 votos

LEONARDO QUINTÃO (PMDB)

38,25% 58.092 votos

Eleitores na zona:209.561
11,82%

Zona Norte

MARCIO LACERDA (PSB)

56,32% 129.401 votos

LEONARDO QUINTÃO (PMDB)

43,68% 100.352 votos

Eleitores na zona:306.891
17,32%

Zona Leste

MARCIO LACERDA (PSB)

53,46% 108.295 votos

LEONARDO QUINTÃO (PMDB)

46,54% 94.284 votos

Eleitores na zona:267.267
15,08%

Zona Oeste

MARCIO LACERDA (PSB)

52,38% 184.945 votos

LEONARDO QUINTÃO (PMDB)

47,62% 168.152 votos

Eleitores na zona:477.006
26,92%

Eleitorado
1.772.227

Seções
4.059

Eleitorado apurado
1.772.227 (100.00%)

Seções totalizadas
4.059 (100,00 %)

Comparecimento
1.457.208 (82,22 %)

Abstenção
315.019 (17,78 %)

Votos válidos
1.297.892 (89,07 %)

Votos em branco
51.335(3,52 %)

Votos nulos
107.981 (7,41 %)

Para quem esperava uma eleição equilibrada, o resultado foi um massacre de Lacerda. Prova de que terrorismo político – muitas vezes – tem o efeito contrário. Dos dois, ganhou o que repudio menos. Confira o resultado oficial da sua cidade neste link.

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