Filmes

Eduardo Coutinho e Philip Seymour Hoffman

coutinho

Duas mortes trágicas no mesmo dia. Duas enormes perdas para o cinema mundial. A vida é cruel às vezes. E é cruel em primas diferentes, tragédias diversas, etc. Coutinho, 81, foi um dos maiores cineastas que o Brasil já teve. Após as incursões como roteirista e produtor de TV no início da carreira, nos entregou o seminal – palavra mais clichê e melhor não há – “Cabra Marcado Pra Morrer”, de 85, um marco do cinema nacional. Sua “segunda vinda”, a partir dos anos 90 é, não raro, brilhante.

Meus preferidos são “O Fim e o Princípio”, com sua incursão mezzo espontânea por histórias do Nordeste brasileiro e “Edifício Master”, o querido de muita gente por seu retrato tão humano e irresistível, além do já citado Cabra. Dos últimos, só não gosto mesmo de  “Jogo de Cena”, exercício de método e de conceito (etc) que me pareceu intragável, realmente forçado, realmente com a mão pesada da forma em detrimento do resto. Mas isso são implicâncias minhas. Recomendo o excelente texto de José Geraldo Couto, aqui. Apesar da idade avançada, morrer esfaqueado pelo próprio filho é por demais trágico para ser digerido. Extremamente influente, Coutinho era, talvez, o maior expoente do que a produção brasileira faz de melhor: documentários.

Philip-Seymour-Hoffman-Capote

Já Philip Seymour Hoffman soa chocante. Pelas circunstâncias, pela idade – somente 46 anos! – por ser o melhor ator da sua geração e por ser tão produtivo. Esse ótimo artigo da Slate define com precisão: um ator que poderia fazer de tudo e que estava apenas começando. Em papéis pequenos ou como o principal, Hoffman sempre sobrou em cena. Ainda lembro quando, em 2005, saí da faculdade e fui conferir a primeira sessão do cinema, às 14h, numa sala vazia com apenas umas 3 pessoas, para conferir “Capote”, que lhe rendeu o Oscar. De fato, é uma atuação hipnotizante, absorvendo como poucos seriam capazes a fala e os trejeitos de Truman Capote. O trabalho físico de PSH, diga-se, sempre foi uma de suas maiores qualidades.

No recente “The Master”, PSH contracena com outro gênio da mesma geração, Joaquin Phoenix, em filme de um autor que foi importantíssimo na carreira de Hoffman: Paul Thomas Anderson. Com Anderson, PSH brilhou em “Boogie Nights” e sua incursão na indústria pornô dos anos 70/80, em Magnolia, Punch Drunk Love e no já citado “O Mestre”. Mesmo em filmes menores, Hoffman deixava sua marca. No irregular “Ninguém é Perfeito”, com Robert De Niro, de 1999, ele entrega uma das melhores interpretações de uma drag queen que se tem notícia. Na comédia bobinha “Quero Ficar Com Polly”, Hoffman novamente se destaca.

Trabalhando com grandes diretores em filmes de orçamentos diversos, como Sidney Lumet, Joel & Ethan Cohen, Spike Lee, Charlie Kaufmann, Mike Nichols e outros, Hoffman conseguia se destacar enormemente desde papéis num blockbuster em “Missão Impossível”, entregando o melhor vilão da série, até em filmes independentes, como “Savages”, Hoffman era um monstro e sempre sobrava em tela. Aqui, um breve relato (e exemplo) de como Hoffman era gentil, além de tudo. E este outro, de Peter Travers, sobre a personalidade única de “Phil”. Perdê-lo por overdose em heroína, como lembrado, parece uma cena de um dos seus filmes.

Duas perdas terríveis que deixam o já combalido cinema mundial em situação ainda mais frágil.

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