Já falei aqui sobre isso algumas vezes. A mais recente, em 2012, neste post. Mas, ainda em 2014, especialmente os grandes jornais, penam para ter o mínimo de compreensão sobre o que a sua presença online representa e, mais especificamente, como lidar com o leitor e as questões que isto traz.
Hoje, ao tentar postar um trecho do texto do Contardo Calligaris no twitter, sujeito que anda falando muita asneira não é de hoje, a Folha me saiu com esse aviso:
“Para compartilhar esse conteúdo, por favor utilize o link http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2014/02/1411422-amor-de-maquina.shtml ou as ferramentas oferecidas na página. Textos, fotos, artes e vídeos da Folha estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. Não reproduza o conteúdo do jornal em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br). As regras têm como objetivo proteger o investimento que a Folha faz na qualidade de seu jornalismo.”
Além de impedir o compartilhamento de parte do texto, o jornal ainda se sai com uma mensagem automática autoritária, com uma ameaça disfarçada de lembrete – “estão protegidos pela legislação brasileira” – pede que o leitor solicite autorização e ainda finaliza com um discurso típico de auto-piedade do capital, “isso é pra proteger o excelente serviço que fazemos por você, esperamos que você reconheça”. É muito erro junto.
É ir contra tudo o que estes quase 20 anos de experiência online nos mostra. É arbitrário e, sobretudo, burro, por tratar o usuário praticamente como inimigo e dificultar ao máximo a reprodução da informação. O jornal O Globo também faz o mesmo, colocando um aviso automático sempre que você tenta copiar parte de algo.
O Estadão, se não chega a tanto, comete outro erro capital: a abominável atualização automática, explodindo um flash de F5 na sua cara bem durante a leitura de um artigo, algo odiado por 11 entre 10 pessoas que conheço.
Contra o aspecto cada vez mais livre da web, em que não só o conteúdo – e o bom conteúdo – grátis está disponível com enorme facilidade, quanto a pirataria de músicas, filmes e seriados ganhou alcance ainda mais brutal com a disseminação da banda larga no mundo nos últimos 10 anos, a indústria e o mercado tem reagido como pode. Desde a prisão de usuários que utilizavam serviços de P2P em diversos países, leis contra a pirataria e compartilhamento de arquivos locais, SOPA e PIPA nos EUA, a vigilância permanente da indústria musical e dos estúdios de Hollywood e, como discuto no artigo citado no início, o desespero dos meios de comunicação para tentar encontrar uma forma de financiamento viável.
Como campo de conhecimento mais fluído e, portanto, impreciso, complicado de se delimitar – ainda que vários tenham tentado, a exemplo de nomes famosos como Pierre Levy, Manuel Castells e por aí afora – a relação da mídia com o seu público, na web, muda a cada dia. E, ao contrário do que gostariam, vai muito além da zona de conforto a que estão acostumados. O pior, afinal, é assumir a postura que Folha e Globo praticam atualmente. Indo contra os princípios mais básicos da maneira com que essa relação deveria ser pautada em 2014.
O conteúdo dos grandes portais, em sua maioria – e aí basta navegar pela home de qualquer um deles neste momento – é uma piada, sobretudo com a quantidade de dinheiro que investem. Pensados para a web, resvalam no patético. Não sou fatalista como muitos amigos e – ainda – acredito que o jornalismo não morreu. Apenas boa parte dele, e a parte com mais recursos, é que parece estar em estado terminal, resistindo por aparelhos.
É sabido que o bom jornalismo custa caro. E má gestão mais ainda.
E alguns jornais ainda censuram a opinião dos leitores, de acordo a sua lógica editorial. E o pior, nem sempre pela ideologia dos patrões, mas pela censura de alguém conhecido (ou parente) do editor ou da chefia. Na minha cidade acontece e muito por este Brasil afora.