Proibição da coligação no estado põe o partido em situação política delicada
A novela que se arrasta já há alguns meses em Belo Horizonte, entre a oficialização ou não da aliança PT-PSDB teve mais um capítulo hoje. A executiva nacional do Partido dos Trabalhadores decidiu pelo veto ao acordo, na proporção de 13 votos a 2. Desta forma está impedida, em primeira instância, a coligação entre os dois adversários históricos para a candidatura à prefeitura da capital mineira, apoiando o nome de Márcio Lacerda, do PSB. Resta agora a última possibilidade, que é o diretório nacional, composto por 84 integrantes, que também irá avaliar a decisão no próximo dia 30.
Demonstrando um desacordo de diretrizes entre os planos majoritários e as bases locais do partido, a decisão pode trazer um imbróglio político desagradável a ambas as partes. Manifestando posições totalmente opostas, o resultado de hoje deixa claro o profundo racha existente entre os dois pólos. Fernando Pimentel, prefeito da cidade, que passou os últimos dois dias em Brasília tentando costurar as alianças para um resultado positivo, viu suas tentativas frustradas.
Tanto Pimentel quanto Aécio Neves, governador do estado, já deram declarações incisivas de que, independente do que o diretório nacional diga, a aliança em Belo Horizonte será implementada, “pelo bem da cidade e por simbolizar uma vontade de todas as partes interessadas num plano de desenvolvimento local”. Apesar das diferenças explicitas, o pivô do acordo pode ser justamente o presidente Lula, que disse recentemente que “não vê obstáculos” para que o aliança aconteça. Mantendo um bom relacionamento com Aécio Neves, Lula pode dar a palavra final para que a situação não se torne tão politicamente desastrosa.
Para o cientista político Marcelo Freitas, a decisão de momento compromete o próprio histórico do PT: “Quando você ignora os pensamentos dos diretórios locais, mata o que o partido tem de mais importante, que é a sua base. E ir contra a sua base é contradizer a própria tradição do PT, que sempre respeitou muito a sua base. Isso de certa forma mancha este respeito histórico à militância. Talvez o PT nacional não conheça a realidade de Minas, da base daqui, o “chão de fábrica”, como dizem. Do ponto de vista estratégico, o PT cometeu outro equívoco, porque isso acabou de certa forma impedindo uma aproximação do Aécio com Lula. Querendo ou não, o peso de Aécio em Brasília é grande, podendo ajudar a aprovar projetos do governo. Além disso ele pode minar as alianças do PSDB entre Alckmin e Serra no plano nacional. Ou seja, pode funcionar como um nome duplamente útil ao PT.”
Analisada todas as instâncias, a novela terá de necessariamente chegar a um fim. Os arranjos tem exatamente 4 dias para acontecer.