O SUV – veículo “utilitário” – sempre foi símbolo do “sonho americano” e, também, do ‘fetiche’ masculino. Veículos que carregam ‘status’, ilusão de ‘poder’ e ‘superioridade’. Para os homens, sempre funcionou como extensão do falo. Sinônimo de “virilidade”, “força” e todas as características típicas do inseguro, acéfalo e estereotipado macho moderno. Bom frisar: tome isto, naturalmente, em termos gerais. Nem todo dono de SUV é “x” ou “y”. Os apontamentos acima são fruto de um comportamento (e até estatísticas, estudos, etc) largamente conhecidos.
Além disso, os SUV’s tem alto índice de envolvimento em acidentes e são considerados um dos vilões do aquecimento global pelo imenso consumo de combustível. Isto dito, percebi uma mudança notável nas ruas de Brasília: o número incrivelmente crescente de mulheres dirigindo SUV’s, pick-ups e derivados. O que isto indica, afinal? Talvez nada. Ou, talvez, indo fundo numa pretensa observação de mudança de comportamento da sociedade, a apropriação dos piores hábitos masculinos.
A destruição da família nuclear burguesa, cristã e “tradicional” – homem como “provedor”, mulher como dona de casa, etc – e do papel da mulher na sociedade em geral vem sofrendo profundas mudanças desde os anos 60. Todas as conquistas, mais do que justas e necessárias, às vezes, no entanto, caem numa busca interminável por se “igualar” ou “superar” os homens: seja em que esfera e de que maneira for. Erro crasso visto as brutais diferenças inerentes entre os dois.
E pior ainda porque o homem em si, não custa lembrar, é a principal causa do escremento fumegante em que estamos agora. O comportamento masculino – agressivo, autoritário, inescrupoloso, extremamente competitivo – novamente de modo geral e sem esquecer que mulheres podem ser tanto quanto, é um dos responsáveis por colocar o mundo nesse caos crescente. Mulheres, grosso modo, dirigem melhor, governam melhor, administram melhor, etc, etc. De modo que a sadia participação feminina em todas as questões da humanidade – no política, no trabalho, no trânsito,… – sem dúvida contribui para melhorarmos um pouco.
Problema é quando começam a absorver as piores facetas do homem. Quando se preocupam em demasia, como dito, em tentar se igualar. Primeiro porque somos diferentes e segundo porque, de modo geral, não temos boas coisas a passar. O SUV, afinal, é um símbolo de quase tudo de errado no mundo hoje. A obsessão pelo tamanho, pela potência, pela agressividade, pela rapidez, pela força. Sem falar na questão ambiental.
Para uma indústria automobilística que caminha cada vez mais para os carros mini e nano – quanto menor e mais eficiente melhor – as mulheres, me parece, seriam eixo fundamental para essa mudança. Já que o “bicho macho” é naturalmente mais resistente a descer do pedestal e ver seu “falo” diminuído.
Triste, portanto, que a contaminação do lado masculino mais nefasto seja tão crescente entre as mulheres. Claro que isto são apontamentos preliminares sobre um caso específico. O importante é que, independente do sexo, saibamos enxergar os veículos como meios de transporte e não como “extensões” de anseios, personalidades, ambições e fraquezas. Lucidez é o remédio. Chegaremos lá.
Mais uma bela reflexão. Conseguiste perceber as mulheres não como culpadas, mas como perdendo uma boa chance para dar o exemplo. Lucidez é o remédio, e vamos que vamos.
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