Política & Economia

Da raiva eleitoral e midiática

Não é de espantar o desespero absurdo a que está confinado a direita brasileira. Para quem tenta, continuamente, derrubar o governo nos últimos 8 anos e viu todas suas tentativas tremendamente fracassadas, trata-se de só mais um item na lista. Escrevi sobre isso recentemente, aqui. A atual campanha presidencial degringolou rápido. É a certeza da incapacidade de apresentar qualquer proposta razoável, qualquer plano que supere o que o PT fez. Algo impossível pela própria constituição das coisas: afinal, a comparação é cruel, a história não perdoa.

O onanismo e a falta de argumentos é geral . Se limitam, desde sempre, a ressaltar e reforçar que quase todas as conquistas do governo Lula foram possíveis graças a FHC. Algo tão canhestro e imbecil que não vale réplica. Depois, o terrorismo eleitoral costuma fincar na “ameaça à liberdade de imprensa” e “ameaça à democracia” que o PT representa. Duas balelas tão frágeis que dão pena. A imprensa sempre fez o que quis, incluindo um sem número de absurdos e até crimes (se você considerar a invenção de fatos, literalmente, caso da Veja, as reportagens e textos raivosos), a esculhambação geral e irrestrita. Nunca vi e tampouco consigo resgatar da história um governo que tenha apanhado tão forte e sido tratado de maneira tão hostil e baixa.

Os dois editoriais dos jornais Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo de hoje simbolizam um pouco disso. O Estadão, tardiamente, resolveu assumir seu apoio irrestrito a Serra. Estranha que tão próximo da eleição e após meses de campanha. Um apoio envergonhado, assumido com receio. O título é alarmista, vergonhoso: “o mal a evitar”. Vejamos alguns trechos chave do vomitório:

“Há uma enorme diferença entre “se comportar como um partido político” e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.”

Esta é a masturbação terrorista barata que adoram fazer.

“O Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.”

Há sérias controversas sobre esse tal “currículo EXEMPLAR de homem público”, uma piada. Algo no mínimo “duvidoso” para a própria população de SP, que o jornal diz representar. No último trecho, definem:

“Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia – a começar pelo Congresso.”

Engraçado. O PT parece que inventou e solidificou as piores práticas políticas da história humana, ainda que elas sejam praxe milhares de anos antes de Maquiavel popularizar o senso comum sobre a coisa. Sem falar que a “descrição” do jornal lembra exatamente o governo FHC, responsável por instaurar no país tal “modus operandi”. Basta lembrar, coisa básica, da mudança constitucional perpetrada por FHC para garantir a reeleição, dentre outros “mimos”. Quem pratica qualquer meio para manter-se no poder mesmo?

Óbvio que o PT cometeu erros, praticou corrupção, fez coisas inaceitáveis, etc. O fato de todos os outros também fazerem não é abono. Mas a mídia gosta – ou precisa – criar um “cenário” em que o PT apareça com o monstro devorador da democracia, da “moral”, da liberdade, da “ética”, de tudo que é “mais caro e fundamental” para o “andamento normal e aceitável” das coisas.

Mas nada melhor para ilustrar tudo isso que um precioso podcast de Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo em 01/10/2006, na eleição presidencial daquele ano, onde “discutiam” a possibilidade do segundo turno, a “derrota” de Lula, a “vitória pessoal” de cada um, o nojo, etc. Isto, sim, é exemplar.

“Acabou, morreu, morreu o Lula. Metade do país não quer saber dele. A metade que não ganha esmola não quer esmola. Já era, acabou. O Lula e o projeto golpista dele foram pro brejo, a gente se livrou desse golpe e vamo tocar pra frente. Já ganhou, acabou a eleição, Reinaldo. Já era. O Lula merece ter os direitos políticos cassados, é o que a essa gente merece. Perda de direito político e na melhor das hipóteses, cadeia. Isso daí, infelizmente, o PSDB vai dar moleza e acabou. Mas eu espero que não dê e vamo começar a cobrar. Eu tenho só 1 mês pra encher a paciência desses caras porque depois eles são história e ninguém mais vai querer saber dessa história negra pela qual o Brasil passou”.

É com essa gente que estamos lidando. É esse tipo de “jornalismo” que o Lula vem enfrentando desde sempre, não apenas quando chegou ao poder. Direto como a duplinha asquerosa acima ou empedernidos como a maioria por aí. O fato de escancararem seu lado, algo saudável que deveria ser prática para todos os veículos desde o início de tudo, só demonstra o medo da certeza da terceira derrota consecutiva. Até quando o terrorismo midiático irá ocupar o lugar do jornalismo, ainda não sabemos. Quem perdeu o poder de inflluência que estava acostumado a ter realmente tem muito que se lamentar. Afinal, a “raiva” do título simboliza a doença. Não o mero sentimento.

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