A internet é território farto para acéfalos e imbecis de toda natureza. E um dos principais hábitos destes trolls é a síndrome de tentar corrigir a escrita alheia. Reservam longo tempo para a tarefa de encontrar qualquer deslize gramatical que eles possam, pretensamente, corrigir. A internet libertou os trolls dos calabouços da irrelevância. Deu voz a todos que precisam, no auge da sua insegurança mental, tentar diminuir os outros.
Aprendi muito pouco de gramática na escola ou na faculdade. Não sou dos mais obcecados com ela. E com certeza devo cometer pequenos deslizes por aí. Aprendi a escrever lendo. Lendo muito. Sempre. Se souber de uma maneira melhor, me avise. Como jornalista, talvez devesse me preocupar até um pouco mais. Qualquer erro é potencializado pela profissão. Afinal, “jornalista não pode errar”, tem que saber tudo de gramática e também ter conhecimento sobre tudo que acontece no mundo, 24 horas por dia.
Pior que correr para tentar corrigir os outros é “corrigir” errado. Uma das palavrinhas mais traiçoeiras que conheço e que sempre causou “tumulto” é o plural de “refrão”. Grafo “refrães” há alguns anos. E já que escrevo bastante sobre música, ela sempre aparece. Não raro surge algum bastião da intelectualidade para bradar a alteração do termo para “refrões”, o mais usado, largamente difundido. Infelizmente, “refrões” não existe. As únicas formas aceitas são “refrães” ou “refrãos”. Há várias fontes por aí – incluindo os dicionários – que dizem isso. E acho a primeira grafia mais bela. Só.
Li uma vez Luís Fernando Veríssimo (o rei da assinatura de textos falsos e débeis que circulam pela internet, para horror do mesmo, imagino) dizer que, em certas ocasiões, se a “sabedoria popular” afirma algo e a gramática está errada, azar da gramática. Em alguns casos, faz sentido. Raríssimos casos.
Se a internet é alimento constante e imensurável para os trolls, azar da internet. Sigamos.