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Tapete Vermelho

Tapete Vermelho – 2005 – Brasil – Luiz Alberto Pereira – **1/2

Vendido como filme de comédia, Tapete Vermelho na verdade é um drama que aborda não só um espírito brasileiro autenticamente caipira na premissa de se ver um filme do Mazzaropi, como principalmente do sumiço das salas de cinema das cidades do interior e das ruas, migrando para os shoppings no esquema Multiplex.

A atuação de Nachtergaele não é das mais inspiradas da carreira, mas compensa o filme.

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The Village

A Vila – M. Night Shyamalan – 2004 – ****

Havia admirado alguns aspectos de “O Sexto Sentido” e “Corpo Fechado”, filmes que catapultaram o diretor M. Night Shyamalan para um nível de adoração absurdo. Gostado, mas não considerado “obras primas inesquecíveis”, como boa parte da crítica. “Sinais”, me decepcionou, não só pelo roteiro furado quanto pelo filme bem meia-boca, em si, além de eu não gostar da temática de ET’s e OVNI’s por achar ridícula demais.

De lá pra cá, abandonei Shyamalan. Um exercício de ranço e má vontade que, após assistir “A Vila”, não se justifica. De longe (mas de longe), a melhor obra dele. Conceito e execução geniais, dum filme quase infalível que, agora sim, justifica sua condição de “gênio”. Seja pela fotografia irretocável de Roger Deakins (mestre), explorando como poucos a luz, sombras, as cores e o ambiente, seja pela câmera estilosa de Shyamalan, conseguindo fugir do óbvio dentro de um estilo já tão saturado, passando ainda pelo ótimo elenco, onde se destaca um transformado Joaquim Phoenix e a tensa Bryce Dallas Howard.

Como se tornou marca do diretor indiano, “A Vila” é um filme de metáforas, referências, alusões e sinergias. Dos “sentidos”, em suma. A dualidade do vermelho-amarelo, a nuance bíblica, a questão do “perceber/ver”, coisas diferentes que exaltam a sensibilidade e a cegueira da maioria dos personagens  (não de Ivy), a própria utopia (de Thomas Morus a Aldous Huxley) da criação da Vila, trazendo uma relação direta com a situação do mundo atual e a vida urbana que, clichê ou não, é real e bem feita no longa.

E o roteiro, surpreendentemente, funciona e não possui falhas. Um ótimo suspense dentro de uma bela estória de amor (ou vice-versa) e uma fábula moderna da condição humana, Shyamalan consegue reunir na película inúmeros elementos interessantes e bem construídos, aliado à um talento artístico, uma direção e equipe admirável.

Aprendi a não subestimá-lo e, em troca, ganhei um grande – e delicado – filme, cheio de plástica e essência, coisa que poucos são capazes de fazer.

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Rock Star

Rock Star – Stephen Herek – 2001 – ***

Demorei muito tempo para ver este filme. Esperava tão pouco dele que demorei 7 anos para dar uma chance. Me enganei.

“Rock Star” é um deleite não só para qualquer fã de metal como foi muito bem produzido e tem atuações convincentes. O clichê, claro, mostra a odisséia na vida de um astro do rock que é convidado para integrar a banda a qual prestava tributo. Inspirado na história real de Tim “Ripper” Owens, chamado para ser o frontman do Judas Priest, permanecendo no grupo de 1996 a 2004 e gravando dois álbuns de estúdio (controversos) e dois ao vivo (excelentes).

Os excessos, o choque da mudança de vida, os cacoetes do estilo e todo um universo próprio retratado de forma eficaz e bem filmada. A banda, formada por músicos de verdade como Jason Bonham, Jeff Pilson e Zakk Wylde (todos muito respeitados no rock/metal), além dos bons Mark Whalberg, Dominic West e Jennifer Aniston, Rock Star é um filme surpreendente e despretensioso que no final acaba acima da média. Se não chega ao nível de “Quase Famosos”, é tão bacana quanto.

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Babel

Babel – Alejandro Gonzáles Iñárritu – 2006 – ***

Iñárritu é um cineasta com vícios. A estrutura de montagem, encadeamento do roteiro, temas abordados, falhas de comunicação, o lado dramático das relações humanas e como elas se conectam. “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel” falam da mesma coisa. Deles, “21 Grams” é o melhor. Guillermo Arriaga, seu roteirista oficial, é outro viciado, responsável por muito de bom e ruim que cada filme carrega.

O estilo de montagem funcionava em “Amores Perros”, foi aperfeiçoada em “21…”, e em “Babel” cansa, apesar do uso mais comedido do recurso. Iñárritu gostou de Hollywood. Rapidamente, saiu do cenário indie direto para a grande indústria, podendo realizar seus filmes nas divisões “alternativas” dos estúdios e com atores milionários.

Mas “Babel”, sobretudo, é isso: cansaço. De idéias, abordagem, de tudo que ele já produziu antes e é exaustivamente reciclado aqui. Trilogia? Pode até alegar, não importa. É um filme (por vezes) interessante que no entanto padece pelo comodismo de seu realizador. Nem as gravações em três continentes diferentes alivia. Perde-se, constantemente, em elementos que, segundo o diretor acredita, deveriam contribuir. O núcleo estelar está ok, em especial Brad Pitt, que já provou há muito ser ótimo ator. E os iniciantes, pelo menos, convencem.

Mas é um filme paquidérmico, no pior sentido do termo. Hora do mexicano respirar ar fresco.

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Speed Racer

Speed Racer – Wachowski Brothers – 2008 – **

Eu percebi que não gostaria de Speed Racer desde o início. Não vi o anime, excetuando pouquissímos episódios que sequer me lembro. Portanto, não tinha nenhuma relação afetiva com a obra. E no caso de um projeto como este, talvez realmente ajude ter essa conexão.

Minha ida ao cinema tinha um motivo básico: Larry e Andy Wachowski. Vi todos os filmes deles lançados na tela grande e provavelmente continuarei a ver. Um dos poucos casos onde realmente faz uma diferença enorme ter toda a estrutura de uma sala profissional para poder degustar o que vem da tela. Os irmãos são gênios da imagem, dos efeitos, do trato visual e o talento para explorar tudo que isto proporciona.

Mas escorregaram em “Speed Racer”. Desenhesco, no pior sentido possível, e infantil demais. Talvez eu não estava preparado para a abordagem excessivamente infantil dada aqui – mais do que esperava. Outro agravante é que “V de Vingança”, o último filme escrito por eles, era tremendamente adulto e com uma temática infinitamente mais atraente.

Em resumo, é videogame purinho filmado. Quem conhece games pode facilmente lembrar de uma série de jogos durante a projeção: Mario Kart, Rock N’ Roll Racing, Wipeout, Vigilantes, Burnout Revenge, Donkey Kong, Cruisin’ USA, além dos carrinhos da Hot Wheels e as corridas dos pod’s em Star Wars – Episódio I. Ufa! Misture isto tudo, junte, óbvio, com os ingredientes do anime original, adicione toneladas de efeitos especiais, atuações genéricas, caricatas e…voilá!

A primeira metade é horrorosa, as corridas cansam, a profusão de cores é exacerbada e confusa, sem equilíbrio, o roteiro é infantil duma maneira boba, estereotipada. E há, claro, a velha historinha piegas de valorização da família, tão comum e tão clichê no cinema.

Um desenho-videogame-hi-tech-fabuloso-histriônico e escorregadio, apesar de simpático em alguns momentos. Ainda que as seqüências de Matrix não sejam exatamente brilhantes e tenham suas inúmeras falhas, a conclusão final é de que, pra mim, “Speed Racer” é a pior coisa que o Wachowski já fizeram. Resta saber que rumos irão tomar no próximo projeto. Que estejam mais inspirados, assim espero.

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Gosford Park

Assassinato em Gosford Park – Robert Altman – 2001 – ***

O mérito de “Gosford Park”, o filme inglês de Altman, não está na história, clichê e com a receita pronta desde o início, como o próprio longa anuncia “Chá às quatro. Jantar às oito. Assassinato à meia-noite.”, mas sim no modo como o diretor aborda a comédia de situações e o intrínseco ridículo da sociedade ali presente, caracterizada com maestria em seus pormenores.

Preciso, mas não brilhante, Altman explora o variado leque de personagens com uma sutil aproximação a cada um, suficiente para nos ambientar em seu mundo e como as relações funcionam. Conta também com a boa atuação de todo o elenco. Filme de estrutura convencional, porém com um núcleo interessante. Vale a pena.

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