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Hora do show?

Edson Moreira: o show não pode parar

Comentei sobre o lado humano e “esportivo” do caso Bruno lá no Olímpico, neste texto aqui. Há outro, inevitável. É regra que a imprensa eleja seus fetiches e proporcione “coberturas” absurdamente massivas 24 horas sobre qualquer coisa que se transforma numa “tragédia nacional” e tenha potencial para audiência. Sempre foi assim. Sempre será. Na época do caso Isabela Nardoni, falei sobre isso aqui. Vale para o momento atual. Se encaixa para a maioria de situações assim.

Fora o papelão habitual da imprensa, há sempre um ou outro “personagem” que, claro, aproveita os holofotes para ter suas (muitas) horas de fama. O delegado Edson Moreira, no entanto, ultrapassa bastante essa média. Piorado por ser algo que interfere diretamente nas investigações e por consequencia no resultado final do processo. Alguém de importância tão grande no caso, que define os rumos a serem dados, não poderia nunca ter o tipo de comportamento que Edson Moreira tem.

Entrevistas coletivas todos os dias. Várias vezes, se necessário. Entrevistas “exclusivas” para programas específicos, como o Brasil Urgente, de Datena. Qualquer indício novo: entrevista. Qualquer coisa que possa causar frisson e ser complicada ao máximo, ele faz. Qual explicação para levar um comboio de carros com Bruno e Macarrão a atravessar Belo Horizonte para fazerem um exame de DNA que poderia ser feito onde estavam e que no fim ainda foi – por direito- negado pelos dois?

Edson Moreira tem necessidade gritante de atenção. De causar “espetáculo”. De extrair cada gota da cobertura da imprensa. Além disso: “interpreta” os depoimentos que recebe, numa clara “atuação”, pretensiosamente dramática. E “atua” como se fossem fatos o que são apenas versões. Aliás, há que se lembrar em que momento da história versões e indícios preliminares, não comprovados e duvidosos tornaram-se fatos incontestáveis, suficientes para condenar alguém e resolver a investigação com rapidez assustadora.

Todas as regras profissionais, éticas, do bom-senso, da razão, do aceitável, do respeito, da lisura, da independência e da competência são quebradas. Lastimável não apenas pelo citado aqui, mas porque este comportamento inaceitável atinge diretamente a capacidade de apuração e levantamento dos dados e o julgamento final. Para todos os lados. “Vergonha” é um termo insuficiente para definir um descalabro desses.

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