Filmes

Gangs Of New York

Gangs Of New York – Martin Scorcese – 2002 – ***

O filme mais cruel e sanguinário de Scorcese. E, até a cena onde Bill, insone, senta na cadeira enrolado na bandeira dos Estados Unidos e tem uma conversa olho no olho com Vallon, a primeira “pessoal” deles até ali, um dos piores.

Vale mais por resgatar de forma precisa e brilhante uma parte da história esquecida, propositadamente, pela “América”, tocando (e abrindo) inúmeras feridas políticas, sociais e históricas, mesmo. Brilhante e necessário neste ponto, nem tanto em outros.

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Filmes

Reservoir Dogs

Cães de Aluguel – Quentin Tarantino – 1992 – ****

A estréia de Tarantino para o cinema mundial definiu também muitas das características que seriam exploradas posteriormente em seus filmes. A cena inicial, com uma mesa redonda de bandidos vestidos em seus smokings discutindo o sentido das músicas e a carreira de Madonna é sintomática. Reunindo uma gama de atores que se tornaram imediatamente uma espécie de “ícones”, Reservoir Dogs é um ótimo exemplo de como Tarantino trabalha suas influências cinematográficas, de cultura pop e também a parte técnica do cinema para gerar seu estilo próprio. E se é algo que Quentin tem, se existe uma palavra que o defina, é isto: estilo. Impossível não reconhecer um filme dele desde as primeiras cenas da projeção.

Seu surgimento foi um importante sopro de irreverência e ar fresco no cinema estadunidense, e, embora errando a mão em outros casos, Quentin permanece interessantíssimo.

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Filmes

Natural Born Killers

Natural Born Killers – Oliver Stone – 1994 – *****

Seu ritmo urgente e alucinógeno, totalmente adequado para a proposta e estilização que é feita, tem o suporte num Oliver Stone inspirado, trabalhando em cima de uma ótima estória de Quentin Tarantino, uma trilha sonora fantástica e um dos meus atores favoritos: Woody Harrelson. O estilo e as feições absolutamente únicas de Woody, meio “exóticas”, digamos, encontra respaldo num ator que transforma todo material que cai em suas mãos (e ele faz boas escolhas) em personagens e atuações marcantes.

Natural Born Killers revela-se ainda uma crítica ácida e pungente, de uma forma totalmente caótica-apocalíptica-falência do humano e das instituições no estilo “the world is fucking burning in nineties” acertadíssima, mesclando sua forma com o conteúdo e os diálogos que melhoram gradativamente. Um dos filmes chave da última década, sem dúvida.

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Filmes

The Mission

The Mission – Roland Joffé – 1986 – *****

Aclamado com a Palma de Ouro em Cannes, além do Bafta em 1987 e sete indicações ao Oscar no mesmo ano, incluindo a vitória de melhor fotografia para Chris Menges, “A Missão” vai além dos prêmios. A começar pelas atuações incríveis de Jeremy Irons e Robert De Niro (que parece possesso pelo personagem o tempo todo).

É um filme que se beneficia imensamente de suas locações, e retrata muito bem certo acontecimento histórico, ocorrido na América do Sul. Além de contar com outra trilha genial de Ennio Morricone. Recomendadíssimo.

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Filmes

Ratatouille

Ratatouille – Brad Bird – 2007 – *****

Finalmente assisti a este que foi considerado, por inúmeros críticos e associações ao redor do globo, um dos melhores filmes do ano passado. Realmente Brad Bird consegue ter um charme único, com uma aproximação criativa e original para todo tipo de público. Ratatouille, com seu argumento brilhante, prova definitivamente que animações do mainstream não precisam ficar reféns de estórias encantadas e super heróis.

Remy, o ratinho cozinheiro, obviamente é uma metáfora para uma série de questões clássicas deste tipo de produção, mas que, felizmente, não caem em clichês exagerados, gerando uma película envolvente, tocante e divertida, no ponto certo.

Brad Bird, em pouquíssimo tempo, fez duas obras-primas. Parece que continuará no topo por muito – sorte a nossa.

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Literatura

Quando

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“Quando não encontro nem um nem outro e respiro a morna mediocridade dos dias chamados bons, sinto-me tão dolorido e miserável em minha alma infantil, que atiro a enferrujada lira do agradecimento à cara satisfeita do sonolento deus, preferindo sentir em mim uma verdadeira dor infernal do que essa saudável temperatura de um quarto aquecido. Arde então em mim um selvagem anseio de sensações fortes, um ardor pela vida desregrada, baixa, normal e estéril, bem como um desejo louco de destruir algo, seja um armazém ou uma catedral, ou a mim mesmo, de cometer loucuras temerárias, de arrancar a cabeleira a alguns ídolos venerandos, de entregar a um casal de estudantes rebeldes os ansiados bilhetes de passagem para Hamburgo, de violar uma jovem ou de torcer o pescoço a algum defensor da ordem e da lei.
Pois o que eu odiava mais profundamente e maldizia mais, era aquela satisfação, aquela
saúde, aquela comodidade, esse otimismo bem cuidado dos cidadãos, essa educação adiposa e saudável do medíocre, do normal, do acomodado.”

Hermann Hesse, in “O Lobo Da Estepe”.

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Filmes

The Life Of David Gale

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A Vida de David Gale – Alan Parker – 2003 – ****

Ah Alan Parker…fora o escorregão simbolizado por Evita, sua filmografia sempre me interessou: e não só por ter dirigido maravilhosamente o querido e muito bem acabado The Wall, baseado na obra do Pink Floyd. Expresso da Meia-Noite e Mississippi em Chamas, também, são ótimos filmes, o primeiro em especial, que me deixou fascinado desde a primeira vez que o vi, numa destas madrugadas insones quando ainda era muito novo. Sem contar Angel Heart, com Robert De Niro, que eu infelizmente ainda não vi.

The Life Of David Gale conta com um elenco marcante: Kevin Spacey pós-Oscar num projeto decente, Kate Winslet melhor que o normal e a precisa Laura Linney. Além disto, é uma película que desperta interesse desde o primeiro momento, com a investigação ficando progressivamente mais instigante, envolvente e o final, pasmem, surpreende. Inteligente, sabe rir de si mesma e dos clichês, como no diálogo entre Constance (com leucemia) e David Gale sobre a morte – aliás, as relações simbólicas entre os personagens bem como o modo com estão entrelaçados, de diversas maneiras, reúne uma série de significados – ela diz: “Sabe, ainda não estou pronta para aceitar minha morte. (…) Estou na fase da negação. Sobretudo, tenho preguiça disto. Me exasperar, dizer as pessoas que aproveitem cada momento…(ri), toda esta bobagem.”

A despeito de suas inclinações políticas e/ou o que defende, não chegou a comprometer a trama ou tornar-se, exageradamente, o principal motivo. Claro que há uma mensagem óbvia pelo fato do estado escolhido ser o Texas, a batalha intelectual entre David e o governador do estado – um dos melhores momentos do filme – as alfinetadas aos republicanos (73% dos serial killers votam neles, diz Zack Stemmons) e a luta pela extinção da pena de morte, tudo isto são mensagens claras contra George W. Bush.

No fim, supera expectativas. Um pseudo filme de gênero que consegue ser redondo e surpreendente.

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