Jornalismo

Imitação

Ninguém gosta de ler. Algo assim. Que pára. De dois. Em dois. Segundos. Sou do tempo. Em que. Pára. Ainda. Tinha acento. Agora acho. Que não tem mais.

Jornalismo. Objetividade. As pessoas. Confundem. Informação. Com regras. E extremos. Transformam isso. Em “estilo”. É tão difícil explicar. Que há “textos”. E “textos”?

Pobre do jornalismo. Esportivo. É claro que vocês sabem. De quem. Estou falando. Não?

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Esportes

Dá pra ter pena do Fluminense?

Não, não dá. Empatar com o vice-lanterna do acachapante campeonato peruano nem parece muito. E daí que o time é formado por criadores de lhamas? Profissionalismo é uma piada, baby. 11 jogos sem vitória e o ticket vitalício para a série B.

No início do ano, muitos nomes da imprensa esportiva apostavam alto no Flu. Que era uma vergonha “um esquadrão daqueles” não chegar nem na final do Carioca. Vejamos o escrete arco-íris do último jogo:

Rafael, Mariano, Gum, Luiz Alberto e João Paulo (Alan); Diguinho, Maurício (Ruy), Conca e Marquinho; Kieza e Adeílson (Roni).

Fred (quem?) deve estar morrendo de saudade da vidinha aristocrática em Lyon, sem tiroteio na rua, rojão no treino, cobrança fungando no cangote. Se bem que foi despachado de lá…

O problema do Fluminense é o mesmo de todos os times cariocas: amadorismo absurdo. A pura e simples escrotidão. Exemplos bisonhos não faltam. Qualquer um percebe que enquanto o futebol carioca não tomar vergonha, é bem fácil para o São Paulo continuar empilhando títulos brasileiros. Daqui a pouco a sala de troféus vira um shopping. É justo? É.

Em terra de analfabetos quem tem cérebro vira rei.

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Literatura

O único sentido íntimo das coisas…

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás…

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem…

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras…

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo…

(…)

Pensar no sentido íntimo das cousas

É acrescentado, como pensar na saúde

Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas

É elas não terem sentido íntimo nenhum.

( O Guardador de Rebanhos – Alberto Caeiro: desde sempre um dos meus poemas favoritos. Completo aqui)

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Literatura

Nunca Mais

Nunca mais o sorriso fácil

o deleite carnal

as madrugadas perdidas

as avenidas movimentadas

.

Nunca mais o cerão, o café preto

o lixo, o ego, a mesquinharia

o metrô apinhado

nunca mais

.

Nunca mais os raios de sol, a hipocrisia

a futilidade, o torpor, o ódio

Nunca mais o quarto bagunçado, a louça suja, a facada nas costas

as aparências, nunca mais

.

As manhãs claras, a areia da praia, o cheiro de mato

Nunca mais

Nunca mais o upload, a notícia barata, o trabalho braçal

o sorriso amargo

.

Nunca mais a mentira, a falta de tesão

o almoço nas praças

a tecnologia, a fruta doce e artificial

a água que escorre

.

Nunca mais as enchentes, a roupa suja, as noites perdidas em lugares abafados

a embriaguez da cerveja, o torpor do vinho

o frio nas pernas

a ilusão do respeito

.

Nunca mais o celular, o aluguel, a utilidade

os festivais, o delivery, a dor inesperada

a sabotagem, nunca mais

o futebol

.

Nunca mais o sono inconstante

a paciência, o bonzinho

nunca mais

as segundas cinzentas

.

Nunca mais o cheiro de estrume

a certeza, a convicção, o erro

nunca mais poemas vazios, frases calculadas

Downloads, propaganda

.

Nunca mais

Nunca mais a saúde perdida, o nojo, a cobrança, a tela

Nunca mais as cores, o azul, o branco, o verde

A resignação

.

Nunca mais a filosofia, as digressões baratas, o backup

O pé de página

Nunca mais

Coisa alguma

.

Nunca mais

a verdade, a construção, o humor

nunca mais o teatro

os olhos ardendo, a xícara vazia, a hesitação

.

Nunca mais

[podcast]http://www.crimideia.com.br/wp-content/uploads/pod/nuncamais2.mp3[/podcast]

(Poema inspirado diretamente na peça “O Mistério Bufo”, de Maiakóvski, descrita aqui)

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Teatro

O Mistério Bufo de Maiakóvski

Mistério-Bufo é a nossa grande revolução, condensada em versos e em ação teatral. Mistério: aquilo que há de grande na revolução. Bufo: aquilo que há nela de ridículo. Os versos de Mistério-Bufo são as epígrafes dos comícios, a gritaria das ruas, a linguagem dos jornais. A ação de Mistério-Bufo é o movimento da massa, o conflito das classes, a luta das idéias: miniaturas do mundo entre as paredes do circo.”

Nunca fui um grande frequentador de teatro. Erro grosseiro. Quanto mais se conhece, mais se apaixona. Não cabe aqui entrar na comparação teatro x cinema. São coisas muito, muito diferentes. Guardado o carinho pela sétima arte e toda sua completude por excelência, o teatro me parece algo muito mais quente, visceral, dinâmico. Óbvio. “Mistério Bufo”, do russo Maiakóvski, apresentada no momento no CCBB de Brasília, foi o ápice da minha enxuta experiência teatral.

A começar pelo interesse profundo que os autores russos sempre me despertaram. Dentre os poetas, não há dúvidas de que Maiakóvski foi um dos maiores. O espetáculo em si (desnecessário dizer que ele é extremamente recomendado) seguiu a risca a recomendação do próprio: “No futuro, todos que encenarem, desempenharem os papéis, lerem e imprimirem o MISTÉRIO BUFO, mudem o conteúdo, – façam  ficar contemporâneo, moderno.”

Três atos. Luzes, painéis, rapel, acrobacias, intervenções, diversos ambientes, vídeo, música, dança: uma jornada literal vivida e degustada pelo público nos diferentes momentos e cenários da peça. Ousada, lírica, caótica. Russo, português, inglês, francês, espanhol, hebraico, italiano, difícil contar todas as línguas usadas.

A dualidade da revolução levada além dos clichês. De longe, o espetáculo mais rico em forma e conteúdo que já presenciei. O materialismo e o espiritual. O comportamento e a psiquê. Pequenas concessões cômicas ante o peso natural do tema. Recursos circenses sem estarem ali por acaso, gratuitamente. O quente e o frio. Mais atual e necessária ainda do que era em 1918.

Uma produção artística, afinal, que não te deixa sair ileso. E esta é a maior virtude que posso imaginar.

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Literatura

Homens Comuns

Estes dias me deparei com o lançamento recente da editora 8Inverso: as correspondências de Dostoiévski entre 1838 e 1880. Na verdade, as cartas são unilaterais. Não há contraponto. As respostas não estão presentes. As cartas traduzidas são endereçadas principalmente ao irmão, Mikhail.

A despeito destas falhas, o livro é obrigatório para os interessados pelo autor russo. Nelas, ficam expostas as entranhas de Dostoiévski. O tanto que um dos maiores gênios da literatura mundial é…um homem comum. Comum e ordinário como todos nós.

Oprimido pelo serviço militar, as doenças, a fome, a prisão, a carência, insegurança, o vício no jogo, a falta de dinheiro. Dostoiévski escreve por diversas vezes desesperado implorando por dinheiro ao pai e ao irmão. Lista todas as suas necessidades básicas, justifica o pedido por cada centavo que ele não tem para a mínima sobrevivência.

Como escritor, narra em detalhes o processo de criação das obras. Para além do perfeccionismo quase comum a todos os autores, Dostoiévski deixa claro a necessidade de fazer dinheiro com os livros. O inegável aspecto comercial. O quanto aguarda que se torne um escritor de sucesso para poder quitar as dívidas. O quanto acompanha, crítica por crítica, texto por texto, o que sai em jornais e periódicos sobre ele. Avalia os amigos. Os escritores do seu tempo: Gogol, já consagrado e Turguenev, a quem admira a princípio, tem uma série de desentendimentos e acaba se reconcicliando já no final da vida.

Definindo-se como vaidoso e ambicioso, Dostoiévski deixa entrever tudo que seria inimaginável a quem não conhece sua história, perceber. É óbvio que isto não invalida em absolutamente nada as obras que escreveu. Pelo contrário, as engrandece.

O trágico permeia o livro: além de todas as privações, o exílio na Sibéria, a prisão por conspirar contra o regime, as doenças, a epilepsia, a ordem de execução cancelada na última hora e posteriormente a crueldade do czar que manda os soldados fazerem todo o processo de execução apenas para “pregar uma peça” nos prisioneiros e anunciar a redução da pena. As mortes da esposa, da filha e do irmão no mesmo ano. O dinheiro ganho nos primeiros anos de seu reconhecimento como escritor perdido no jogo.

A inveja. A infinita insegurança. O quanto se preocupava com a opinião alheia. Um Dostoiévski frágil, atormentado, bestialmente comum. Humano. Tudo está em seus livros: cada trama, personagem, pensamento. Tudo é tirado literalmente da vida que teve.

É assustador, mesmo que óbvio, constatar estas mazelas materiais, espirituais e psicológicas, presentes em todos nós.

Ler as correspondências do autor russo é não só mergulhar no seu inferno pessoal como perceber a grandeza e a desgraça da vida. A eterna ânsia. A estupidez, o desejo e as necessidades primais. O quanto somos ridículos. E como os tais raros conseguem equilibrar isto com uma genialidade sem igual.

Fechei o livro com algumas lágrimas nos olhos e muitas feridas por cicatrizar.

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Filmes

O Sonho de Cassandra

Cassandra’s Dream – Woody Allen – 2007 – ***

Rasteiramente, “O Sonho de Cassandra” pode ser visto como o desejo da classe média que vai além de suas perspectivas. O objeto de consumo que, indiretamente, representa (e causa) a desgraça moral, espiritual, familiar…o clichê do reino de aparências, sempre tênue.

Allen faz um filme diferente do seu habitual e o resultado, apesar do bom argumento, é mediano. Falta algo.  A destacar que Farrel, em sua curta carreira, já trabalhou com Steven Spielberg, Oliver Stone, Michael Mann, Terrence Malick e Woody. Em produções diversas e exigentes. Vai longe.

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