Filmes

Oscar 2009 – Comentários póstumos

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Poucas vezes a cerimônia do Oscar tinha me despertado tão pouco interesse. Ao contrário do ano passado, quando a briga entre “No Country For Old Men”, dos irmãos Coen (revisto, a propósito, ontem, e que caiu levemente no meu conceito) e “There Will Be Blood”, de PTA, era boa, em 2009 o interesse decaiu porque, também, não tive tempo – nem paciência – em assistir a nenhum dos indicados lançados no final de 2008 pra cá.

Falha minha. Mesmo assim, acompanhei críticas, textos e a “carreira” de cada película até aqui. Neste momento você já conhece a lista dos vencedores e deve ter lido textos de muitos “especialistas” por aí.  Recomendo esse. No meu turno, cabe alguns comentários.

Nunca pensei em ver Danny Boyle premiado como melhor diretor pela Academia. Da sua carreira, conheço muito pouco, com exceção de Trainspotting, que é um filme hit-cool-cult, celebrado nos círculos indie’s/junkie’s/etc e tem, sim, o seu valor. Gosto muito, até. Não vi “Extermínio” – elogiado – “Sunshine” e sequer “Por Uma Vida Menos Ordinária”, com Ewan McGregor e Cameron Diaz, que fez lá algum barulho em 1997. Ah, me esqueci de “A Praia”, filme que simpatizo apesar de ter muita coisa irritante e decair no ato final.

“Slumdog Millionaire” vem sendo espinafrado por gente que respeito muito, acusado, dentre outras coisas, de fazer o velho “espetáculo da desgraça”, transformando o caos de países miseráveis numa história colorida (!?!?!) de “super-ação”, com a beleza plástica de uma vitrine do inferno. Fábulas do tipo já não me atraem muito. E a despeito dos seus 8 oscar’s, o bichinho parece mesmo ser ruim. Mas veredicto, só vendo.

Se não esperava Boyle no topo, também achei curioso Hugh Jackman como apresentador. Wolverine teve empatia instantânea com o público, e o rapaz caiu em papéis aventurescos ou de folhetim, como o último fiasco astronômico que foi “Austrália”, ao lado de Kidman. Mas Jack, salvo engano, foi eleito “o homem mais sexy do mundo” recentemente e é uma espécie de queridinho da América. Só vi partes da cerimônia – não tenho saco para assisti-la completa mais – e sua atuação foi bem ok.

Kate Winslet finalmente venceu o prêmio de melhor atriz – após 6 indicações. O suficiente para, assim espero, não voltar a incomodar novamente. Bonitinha e simpática, mas aborrecida e mediana.

Em ator a coisa foi quente: Sean Penn é um ator excepcional, sem dúvida um dos melhores da sua geração e, mesmo cedo, até da história do cinema. Já Mickey Rourke, que começou como galã, pirou, virou lutador de boxe, apareceu totalmente desfigurado, acabou em papéis de quinta categoria até começar a se reerguer lentamente e, segundo dizem, ter alcançado o ápice em “O Lutador”. Essa pequena historinha pessoal de redenção deve ter sido o maior imã de uma possível estatueta, não desmerecendo seu talento e aplicação, em absoluto. Mesmo considerando Penn infinitamente mais ator que Rourke, estava até torcendo pelo cara. “The Wrestler”, que não vi, aparenta ser um pé na sobriedade para Darren Aronofsky. O garoto atingiu níveis de adoração incompreensíveis com “Pi” – um exercício de faculdade – e “Requiem For A Dream” (desgraça sem fim, na história, mas bom), parindo depois o horroroso “Fonte da Vida”. Ao que indica, parou de dirigir como se tivesse mal de parkinson.

Duas acusações, aliás, comum a ele e Danny Boyle: de dirigirem de modo frenético, como se estivessem organizando uma rave cinematográfica.

No mais, nenhuma surpresa ou coisa muito interessante a dizer. Ledger levou por ator coadjuvante em “Batman – Dark Knight”, filmaço. O prêmio póstumo foi mais que merecido, levando ao momento mais emocionante da cerimônia (a quantidade de atores que se demonstraram tocados foi incrível). Mesmo que estivesse vivo, a estatueta teria endereço certo. Não consigo compreender a má vontade de alguns com “Batman”, o que me parece 90% implicância estúpida contra o hype.

A aproximação da indústria estadunidense com Bollywood assusta. Spielberg (que coincidência ele entregar o Oscar de melhor filme…) acabou de fechar acordo bilionário (U$$1,5) com uma empresa indiana, a RDA Alliance Group. A brincadeira prevê 35 filmes em 5 anos (imagine…) e teve parte do financiamento atrelado ao JP Morgan. What a wonderful world.

Dá medo. Os EUA, quando em boa fase (anos 60/70, momentos esporádicos) sempre produziram boa parte do melhor cinema do mundo – e dos mais reflexivos também. Bollywood não soa como influência positiva.

Veremos.

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Curiosidades, Filmes

Lunchtime atop a Skyscraper

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Estava relembrando hoje desta fotografia histórica, e de quanto a acho absolutamente fantástica. Tirada em 29 de setembro de 1932, no topo do Rockefeller Center em Nova York, por Charles C. Ebbets, a foto é um dos maiores ícones do século XX. Lunchtime atop a Skyscraper resume muito do século que se passou: a pujança impressionante do capitalismo, a redefinição do mundo do trabalho, as condições do mesmo, o “desenvolvimento” (o que é mesmo?), etc.

Fascina a naturalidade com que estes homens se equilibram sem nenhuma segurança. A exemplo de Philliphe Petit, o equilibrista recém premiado com o Oscar pelo documentário Man On Wire, que conta a sua trajetória.

httpv://www.youtube.com/watch?v=EIawNRm9NWM

Duas provas de quanto o ser humano é incrível, apesar de tudo.

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Esportes

Alexandre Kalil: um dos exemplos da falência do futebol brasileiro

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Crédito: Gil Leonardi

Para entender porque o futebol brasileiro “é o que é”, basta olhar para os dirigentes. Difícil achar algum que se salve. Amadores, caducos, irresponsáveis, muitos sob administração suspeita – para usar um eufemismo – sem nenhuma postura e competência.

Não é o caso de entrar no mérito da administração, em si, de Alexandre Kalil no Atlético. Deixo isto para os atleticanos. Apesar de o próprio ter entrado em contradição em suas inúmeras “idas e vindas” no comando do clube, o que pra mim é sempre algo “estranho”.

Chega a ser assustador o modo como certos dirigentes usam os clubes, e a mídia sob ele, para fazer e dizer o que bem entendem. A reação de Kalil após o último clássico mineiro (vencido pelo Cruzeiro por 2 x 1, há 10 jogos sem perder para o galo) foi no mínimo desproporcional. Erros de arbitragem acontecem a todo momento, com todos os clubes e é uma das maiores deficiências do futebol brasileiro. Já disse aqui e repito: sou plenamente a favor do uso do telão e artifícios eletrônicos para se tirar dúvidas, como já acontece no tênis, no basquete…

Segundo o próprio:

“Sob a minha direção no Atlético-MG, essa quadrilha que está montada na Federação Mineira vai ter de ser desmontada. Isso que está aí é bandido velho, isso é ladrão. Isso tem de aposentar. Não vou falar desse vagabundo que apitou, não. Eu não vou perder Campeonato Mineiro no apito. Então, que o seu Lincoln tome vergonha na cara e renuncie, desmonte essa quadrilha que está montada. Isso é quadrilha. (…) Estou falando o seguinte: se estão achando que é o ‘Kalilzinho ligth’, é o diabo que o carregue essa camarilha da Federação Mineira”. (Fonte: Portal Uai)

Confira a reação do dirigente em vídeo: httpv://www.youtube.com/watch?v=rp1t3X-Et2E

Agora a pergunta: em que país minimamente organizado, com gente cônscia o suficiente e de bom-senso, um descalabro desse é permitido? Dá a impressão de que, sem nenhuma preocupação com o que está falando – nem pensando sobre – Kalil fala como se estivesse brigando com um desafeto num churrasco de fim de semana. É claro que ele terá que se explicar.

Ao perdedor, sempre resta reclamar da arbitragem, muitas vezes com razão. No caso específico, qualquer um que veja o lance do “penalti” poderá reparar que a falta existiu, mas foi fora da área. E parece que há 10 jogos o Atlético não vence o Cruzeiro por causa da arbitragem (dúvida).

Fora a provocação, na verdade toda desculpa serve para mascarar a incompetência. Enquanto o futebol brasileiro não acabar com o amadorismo, substituir 95% dos dirigentes atuais por gente séria, profissional e compromissada, vamos continuar na fossa.

E a Copa de 2014 vem aí, ao custo minímo de 35 bilhões…quem dá o primeiro chute no bolão do desvio de verba?

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Artigos/Matérias/Opinião

Noam Chomsky – Acerca do pós-modernismo, teorias, modas

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Noam Chomsky é um dos maiores intelectuais do último (e deste) século. No texto abaixo – que li há alguns anos e me tocou de imediato – Chomsky desmascara boa parte da prosa “hermética” e inútil do “pós-modernismo”. Coloca em xeque muitas teorias, adorações, práticas e discussões que muitas vezes carecem de total sentido e são incapazes de servir para algo. Derrida, Foucault e cia, com quem o próprio Chomsky travou um longo embate, são criticados com competência e domínio. Não só a empolação dos intelectuais franceses e suas “teorias” fundadas no puro floreio desnecessário de fatos históricos que outros fizeram antes, melhor e de modo mais claro, como a própria e deliberada alienação dos ditos intelectuais de esquerda dos problemas práticos e das arenas populares. A lucidez de Chosmky é um alívio.

Acerca do pós-modernismo, teoria, modas, etc.

Alguns trechos selecionados:

  • Devemos voltar-nos para teoria, filosofia, construções teóricas e similares para remediar esta deficiência nos nossos esforços para compreender e abordar o que acontece no mundo. Não quero falar por Mike. A minha resposta até agora tem sobretudo consistido em reiterar algo que escrevi há 35 anos, muito antes do pós-modernismo ter irrompido na cultura literária e intelectual: se há um corpo de teorias, bem testadas e verificadas, que se aplicam à condução dos assuntos externos ou à resolução de conflitos domésticos e internacionais, a sua existência tem sido um segredo bem guardado, apesar de muita pose pseudocientífica.
  • O que mudou no ínterim, tanto quanto julgo saber, foi uma imensa explosão de auto-elogio e elogios mútuos entre aqueles que propõem o que chamam teoria e filosofia, mas pouco que eu possa detectar além de uma pose pseudocientífica. Esse pouco é, como escrevi, algumas vezes bastante interessante, mas sem conseqüências para os problemas do mundo real que ocupam o meu tempo e energias.
  • Os proponentes da teoria e filosofia têm uma tarefa muito fácil se quiserem estabelecer o seu ponto de vista. Façam-me simplesmente conhecer o que era e continua a ser um segredo para mim: terei todo o gosto em ver. Perguntei muitas vezes antes e ainda espero uma resposta que deveria ser fácil dar: dêem simplesmente alguns exemplos de um corpo de teorias, bem testadas e verificadas, que se aplique aos gêneros de problemas e assuntos em que Mike, eu, e muitos outros de fato, a maior parte da população mundial que, julgo, está fora dos limitados e, notavelmente, autocontrolados círculos intelectuaisestão ou deveriam estar interessados: os problemas e assuntos de que falamos e escrevemos, por exemplo, e outros semelhantes.
  • Mais uma vez, estas são exigências simples. Fi-las antes e continuo no meu estado de ignorância. Tirei igualmente algumas conclusões disso.
  • Mas em vez de tentarem fornecer uma resposta a estas exigências simples, a resposta consiste em gritos de cólera: levantar estas questões mostra elitismo antiintelectualismo e outros crimes – embora aparentemente não seja elitista pertencer a sociedades de auto-elogio e elogios mútuos de intelectuais que falam apenas uns para os outros etanto quanto seinão entram no gênero de mundo em que prefiro viver.
  • É possível que esteja simplesmente a não conseguir ver algo, ou que me falte a capacidade intelectual para compreender as profundidades que foram desenterradas nos últimos 20 anos pelos intelectuais de Paris e pelos seus seguidores. Tenho o espírito completamente aberto, e tive-o durante anos, quando acusações similares me foram feitas – mas sem responderem às minhas questões. Uma vez mais, são questões simples e, se existe uma resposta, deveriam ser fáceis de responder. Se não estou a ver algo, então mostrem-me o que é em termos que possa compreender. Claro que se está para além da minha compreensão, o que é possível, sou uma causa perdida e serei obrigado a dedicar-me a coisas que pareço ser capaz de compreender, e a associar-me com o gênero de pessoas que também parecem por elas interessar-se e compreendê-laso que me deixa muito feliz fazer, uma vez que não tenho nenhum interesse, agora e sempre, nos sectores da cultura intelectual que se ocupam destas coisas.
  • Uma vez que ninguém conseguiu mostrar-me o que não estou a ver, resta-nos a segunda opção: sou incapaz de compreender. Desejo certamente admitir que isso pode ser verdade, embora receie que terei de manter alguma suspeita, por razões que parecem boas. Há muitas coisas que não compreendo – digamos, os últimos debates sobre se os neutrinos têm massa ou a forma como o último teorema de Fermat foi aparentementedemonstrado, recentemente. Mas em 50 anos neste jogo, aprendi duas coisas: 1) posso pedir a amigos que trabalham nestas áreas que mo expliquem a um nível que possa compreender, e eles podem fazê-lo sem grandes dificuldades; 2) se estou interessado, posso tratar de aprender mais de modo a vir a compreendê-lo. Ora, Derrida, Lacan, Lyotard, Kristeva, etc. – mesmo Foucault, que conheci e de quem gostei, e que de algum modo é diferente do resto – escrevem coisas que não só não compreendo, mas a que 1) e 2) não se aplicam… ninguém que diga que compreende pode explicar-mo e não tenho uma indicação de como proceder para vencer as minhas incapacidades. Isso deixa uma de duas possibilidades… a) ocorreu algum novo avanço na vida intelectual, talvez alguma mutação genética súbita, que criou uma forma de teoria que está para além da teoria quântica, topologia, etc., em profundeza e profundidade; ou b) … não o direi.
  • Peguemos então em Derrida, que é um dos gurus. Penso que devo pelo menos ser capaz de compreender a sua Gramatologia pelo que tentei lê-la. Deveria poder perceber parte dela – por exemplo, a análise crítica dos textos clássicos que conheço muito bem e sobre os quais escrevi durante anos. Achei a proficiência acadêmica aterradora, baseada numa patética leitura errada; e os argumentos, tal como estavam, eram incapazes de se aproximarem do gênero de padrões a que estou acostumado praticamente desde a infância. É possível que não tenha visto algo: pode ser; mas a suspeita mantém-se, como já notei. Uma vez mais, peço desculpa por fazer comentários que não demonstro, mas fizeram-me perguntas, e por isso estou a responder.
  • Encontrei-me com algumas das pessoas destes cultos que é o que me parecem: Foucaulttivemos mesmo uma discussão de várias horas, que está publicada, e passamos umas quantas horas numa conversa muito agradável, sobre temas reais usando uma linguagem perfeitamente compreensível – ele em francês, eu em inglês; Lacan com quem me encontrei várias vezes e considerei um charlatão divertido e perfeitamente consciente charlatão, embora os seus primeiros trabalhos, pré-culto, fossem inteligentes e os tivesse discutido em textos publicados; Kristeva com quem me encontrei apenas brevemente durante o período em que ela era uma ardente maoísta; e outros. Não encontrei muitos deles porque estou bastante afastado destes círculos, por minha escolha, preferindo círculos bastante diferentes e bastante mais amplos – o gênero onde dou palestras, sou entrevistado, tomo parte em atividades, escrevo dezenas de longas cartas todas as semanas, etc. Mergulhei no que escrevem por curiosidade, mas não fui muito longe, pelas razões já mencionadas: o que encontro é extremamente pretensioso, mas quando examinado, uma boa parte é simplesmente iletrado, baseado numa extraordinária leitura errada de textos que conheço bemalgumas vezes textos que eu escrevi argumentos que são aterradores na sua casual falta de elementar autocrítica, muitas afirmações triviaisembora revestidas de uma verborréia complicadaou falsas; e uma boa quantidade de evidente algaraviada. Quando procedo como faço noutras áreas que não compreendo, caio nos problemas mencionados em ligação com 1) e 2) acima. Eis então a quem me refiro e por que razão não vou muito longe. Se não for óbvio posso indicar mais uns quantos nomes.
  • (Essas formulações) E não tem o mesmo impacto (que artigos em jornais de grande circulação e outros meios), uma vez que se dirige apenas a outros intelectuais nos mesmos círculos. Além disso, que eu conheça não há qualquer esforço para torná-lo inteligível às grandes massas da população – digamos, para as pessoas para quem falo constantemente, com quem me encontro, para quem escrevo cartas, que tenho em mente quando escrevo, e que parecem entender o que digo sem qualquer dificuldade particular, embora geralmente pareçam ter as mesmas incapacidades cognitivas que eu tenho quando enfrentam os cultos pós-modernos. E também não conheço nenhum esforço para mostrar como se aplica a algo no mundo no sentido que mencionei anteriormente: estabelecendo conclusões que não fossem já óbvias. Uma vez que não estou muito interessado no modo como os intelectuais inflacionam as suas reputações, ganham privilégios e prestígio, e se libertam da participação efetiva na luta popular, não gasto nenhum tempo com isso.
  • Trabalhei de forma razoavelmente extensa nalgumas destas áreas, e sei que a proficiência acadêmica de Foucault não é aqui exatamente fidedigna, pelo que não confio nela, sem uma investigação independente, nas áreas que não conheço – isto foi vagamente abordado na discussão de 1972 que está publicada. Penso que há trabalhos acadêmicos muito melhores sobre o século XVII e XVIII e uso-os na minha investigação. Mas ponhamos de lado o outro trabalho histórico, e voltemo-nos para as construções teóricas e as explicações: que houve uma grande mudança de mecanismos cruéis de repressão para mecanismos mais subtis pelos quais as pessoas acabam por fazer, mesmo entusiasticamente, o que os poderosos querem. De fato, isso é mais que verdade: é um completo truísmo. Se é uma teoria, então todas as minhas críticas estão erradas: também tenho uma teoria, uma vez que andei a dizer exatamente isso durante anos, dando também as razões e o background histórico, mas sem a descrever como uma teoria porque não merece tal designação sem retórica ofuscante porque é tão triviale sem pretender que é nova porque é um truísmo. Reconheceu-se durante muito tempo que à medida que o poder para dominar e coagir ia declinando, era cada vez mais necessário recorrer ao que os praticantes na indústria de relações públicas do princípio do século – que perceberam tudo isto muito bem – chamaram dominar a mente pública. Como Hume observou no século XVIII, as razões são que a submissão implícita com que os homens renunciam aos seus sentimentos e paixões pelos dos seus governantes depende em última instância do domínio das opiniões e atitudes. Por que razão é que este truísmo deveria subitamente tornar-se uma teoria ou filosofia, terão outros de explicar; Hume ter-se-ia rido.
  • O meu problema é que as intuições parecem-me familiares e não existem quaisquer construções teóricas, exceto que idéias simples e familiares foram revestidas com uma retórica complicada e pretensiosa.
  • Há coisas mais importantes a fazer, na minha opinião, do que investigar as peculiaridades das elites intelectuais empenhadas em diversos modos de promoção da carreira e outras ocupações nos seus limitados e pelo menos para mimdesinteressantes círculos.
  • Verifiquei repetidas vezes que quando a audiência é mais pobre e tem menos formação, posso omitir boa parte das questões de background e de estrutura de referência porque são já óbvias e aceites por todos, e posso avançar para questões que nos interessam a todos. Com audiências com mais formação, isto é muito mais difícil; é necessário deslindar montes de construções ideológicas.
  • É certamente verdade que muitas pessoas não podem ler os livros que escrevo. Mas isso não é porque as idéias ou a linguagem sejam complicadas – não temos quaisquer problemas na discussão informal, até com as mesmas palavras, de exatamente dos mesmos pontos. As razões são diferentes, talvez parcialmente por causa do meu estilo de escrita, parcialmente em resultado da necessidade que eu sinto, pelo menosde apresentar documentação consideravelmente abundante, o que torna a leitura penosa.
  • Tem havido uma notável mudança no comportamento da classe intelectual nos últimos anos. Os intelectuais de esquerda, que há 60 anos teriam estado a ensinar nas escolas das classes trabalhadoras, a escrever livros como matemática para milhões que tornam a matemática inteligível a milhões de pessoas a participar e a falar em organizações populares, etc., estão hoje completamente afastados dessas atividades, e embora lestos a dizerem-nos que são muito mais radicais do que nós, não se encontram disponíveis, ao que parece, quando há uma necessidade óbvia e crescente e até uma procura explícita do trabalho que poderiam fazer no mundo das pessoas com problemas e preocupações reais. Isto não é um problema pequeno. Na minha opinião, isto tem implicações sinistras.
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Gastronomia

Gordura trans: as mentiras dos fabricantes

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Sempre tive o hábito de ler os ingredientes de cada produto antes de comprá-lo ou consumi-lo. É a melhor forma de saber exatamente o que você está ingerindo e verificar a qualidade do produto: há diferenças enormes de fórmulas e ingredientes entre produtos da mesma categoria, como molho de tomate por exemplo.

Nisto, passei a identificar algo no mínimo estranho. Desde que a gordura trans se tornou a inimiga número 1 da saúde (uns três anos atrás, creio), milhares de fabricantes logo se apressaram a “alterar suas receitas” e estampar orgulhosos em seus rótulos o selo de “livre de gordura trans”, “0%”, etc. Mesmo assim, passei a perceber que vários produtos, mesmo com o tal selo na embalagem, continham “gordura vegetal” na receita.

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Ou seja: propaganda enganosa. O consumidor acha que não está ingerindo este tipo de gordura, quando na verdade está. Pesquisando, achei a brecha que permite que eles façam isto:

“A brecha técnica funciona da seguinte maneira: se o produto contiver até 0,2g de gordura trans por porção, a Anvisa permite que a embalagem estampe o claim “Não contém…”, “Livre de…”, “Zero…” ou “Isento de…” (último item do FAQ[1] da Anvisa). Isso permite que o próprio fabricante arbitrariamente escolha qual o tamanho de 1 porção de seu produto que fique abaixo de 0,2g. Um fabricante de biscoitos, por exemplo, pode imprimir em sua tabela nutricional que os valores de 1 porção equivalem a 1/2 biscoito, e assim induzir o consumidor a acreditar que esse produto não contém nenhuma gordura trans.

Uma maneira segura de comprovar a adição de gordura trans é a leitura da lista de ingredientes do alimento. Se contiver gordura hidrogenada, certamente contém gordura trans.

A Anvisa não exige mais (2008) que os fabricantes grafem gordura vegetal hidrogenada por extenso nas embalagens, permitindo que ela seja indicada apenas como gordura vegetal. Então, outra maneira de verificar a presença de gordura trans é checar a lista de ingredientes impressa nas outras línguas – se disponível.”

Traduzindo: como não existe um limite aceitável para o consumo diário de gordura trans, toda e qualquer presença da substância deve ser considerada prejudicial à saúde. Seria a mesma coisa que estipular um “número X” de cigarros por dia. Como isto não existe, não há base, não tem sob o que calcular.

Devo dizer que tenho verificado que no mínimo uns 60% dos produtos que dizem não conter gordura trans, na verdade contém. Fique atento mesmo ao rótulo. Eles nunca gravam “trans” nos ingredientes, mas sempre “gordura vegetal”, ou “gordura hidrogenada”, dentre outros artifícios.

Segue esclarecimento da ANVISA:

O que são? As gorduras trans são um tipo específico de gordura formada por um processo de hidrogenação natural (ocorrido no rúmen de animais) ou industrial. Estão presentes principalmente nos alimentos industrializados.
Os alimentos de origem animal como a carne e o leite possuem pequenas quantidades dessas gorduras.

Para que servem? As gorduras trans formadas durante um processo de hidrogenação industrial que transforma óleos vegetais líquidos em gordura sólida à temperatura ambiente são utilizadas para melhorar a consistência dos alimentos e também aumentar a vida de prateleira de alguns produtos.

E fazem mal para a saúde? Sim. O consumo excessivo de alimentos ricos em gorduras trans pode causar:

(1) Aumento do colesterol total e ainda do colesterol ruim – LDL-colesterol.
(2) Redução dos níveis de colesterol bom – HDLcolesterol. É importante lembrar que não há informação disponível que mostre benefícios a saúde a partir do consumo de gordura trans.

Gordura Hidrogenada é o mesmo que gordura trans? Não. O nome gordura trans vem da ligação química que a gordura apresenta, e ela pode estar presente em produtos industrializados ou produtos in natura, como carnes e leites. A gordura hidrogenada é o tipo específico de gordura trans produzido na indústria.

Quais alimentos são ricos em gordura trans? A maior preocupação deve ser com os alimentos industrializados – como sorvetes, batatas-fritas, salgadinhos de pacote, pastelarias, bolos, biscoitos, entre outros; bem como as gorduras hidrogenadas e margarinas, e os alimentos preparados com estes ingredientes.

Como podemos controlar o consumo? A leitura dos rótulos dos alimentos permite verificar quais alimentos são ou não ricos em gorduras trans. A partir disso, é possível fazer escolhas mais saudáveis, dando preferência àqueles que tenham menor teor dessas gorduras, ou que não as contenham.

Como é declarado o valor de gorduras trans nos rótulos dos alimentos? O valor é declarado em gramas presentes por porção do alimento. A porcentagem do Valor Diário de ingestão (%VD) de gorduras trans não é declarada porque não existe requerimento para a ingestão destas gorduras, ou seja, não existe um valor que deva ser ingerido diariamente. A recomendação é que seja consumido o mínimo possível.

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(*) A quantidade de gordura trans é declarada somente em gramas porque não há valor diário estabelecido.

Assim, para saber se um alimento é rico em gordura trans basta olhar a quantidade por porção dessa substância. Não se deve consumir mais que 2 gramas de gordura trans por dia.

Fique atento! Não aceite os inúmeros artifícios estampados nos rótulos e embalagens! Só assim podemos criar uma cultura de consumo responsável e maior regulamentação (e fiscalização) dos fabricantes.

Fontes:

Anvisa

Wikipedia

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Artigos/Matérias/Opinião

Ocas: um dos melhores projetos de revista do país

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A população de rua é um problema grave no Brasil. Fato. Mas longe de cair em velhos (e falidos) esquemas sociológicos de análise, ou no assistencialismo cristão puro e simples, há gente que consegue ir muito além, criando projetos que se destacam. A Revista Ocas é um deles. Lançada em julho de 2002, e com distribuição em São Paulo e Rio de Janeiro, a publicação já superou os 250 mil exemplares em circulação, auxiliando mais de 1.500 pessoas. O preço de capa é R$ 3,00, dos quais 2,00 vão direto para o vendedor. Ressalte-se que o preço de capa é incrivelmente baixo, comparado às revistas brasileiras atuais, que custam em média R$8. Uma sugestão, inclusive, é aumentar o preço para R$ 5, o que ajudaria a manter os custos e daria ainda mais retorno para quem vende.

Fazendo um resumo breve da entidade: a revista é vendida exclusivamente por pessoas em situação de rua e aborda cultura, política, artes e problemas sociais diversos. Recomendo fortemente uma visita ao site oficial, completíssimo, com todas as informações, detalhes da instituição, proposta, histórico, parceiros, etc.

Devo dizer que comprar a revista não é um ato de solidariedade. Não é favor. Não é esmola. Não é se forçar a comprar algo ruim, ou que você não quer, para ajudar, como muitas vezes acontece. O conteúdo da revista em si é excelente. Jornalismo de ótima qualidade, com reportagens diferenciadas e entrevistas muito bem feitas. Compre, leia e comprove. Desde o primeiro contato que tive com a Ocas fiquei absolutamente impressionado com a qualidade do conteúdo, editoração, e a importância do trabalho.

Amanhão, 07/02, acontece um sarau da revista em parceria com o projeto O Autor Na Praça. Segue detalhes do evento e, também, importante, a campanha para arrecadação de verbas para a manutenção da revista.

Serviço:

O Autor na Praça apresenta o Sarau da Revista OCAS.

Dia 07 de fevereiro, sábado, a partir das 14h.

Espaço Plínio Marcos – (Tenda na Feira de Artes da Praça Benedito Calixto – Pinheiros).

Info: Edson Lima – 3746 6938 / 9586 5577 – oautornapraca@oautornapraca.com.br

Realização: Edson Lima e AAPBC.

Apoio: Max Design, Jornal da Praça, Ponto de Fuga Cultura, Cinema e afins, Gula Goumert, Pablo Orazi Webdesign, Restaurante Consulado Mineiro e Cantinho Português.

Campanha para arrecadar verba continua – “A OCAS, que desde 2002 proporciona à população em situação de risco social meios para alcançar uma vida digna, como já noticiamos em dezembro de 2008, continua num período de entressafra de apoios e ainda necessita da sua ajuda para não interromper as atividades. Agradecemos a todos que já colaboraram e reforçamos que toda contribuição será bem-vinda. Se puderem repassar esta mensagem a seus amigos e conhecidos, talvez tenhamos mais chance de sair da desconfortável situação financeira, afinal, quanto mais pessoas conhecerem o projeto, mais chances teremos de receber apoio. Quando iniciamos a campanha de arrecadação, fixamos um valor de R$ 22 mil, com prazo até 5 de janeiro, porque estávamos numa corrida contra o tempo para evitarmos endividamento e juros bancários. Infelizmente não conseguimos alcançar nossas metas e tornamos a pedir ajuda de todos. Continuamos otimistas, crendo que a partir de abril parcerias se renovarão e novas surgirão. Até a presente data, contabilizando entradas e saídas para pagamento de despesas de praxe, já foram levantados R$ 8.535,90, valor ainda insuficiente para cobrir todas as despesas até abril. Apesar das dificuldades a edição de janeiro/fevereiro já está disponível com os vendedores”.

Para doar qualquer quantia, gentileza fazer depósito em nome da:

Organização Civil de Ação Social CNPJ nº 04.847.090/0001-01

Banco Itaú S/A. / Agência nº 0187 / Conta-corrente nº 44.013-6

O valor arrecadado é atualizado semanalmente no Blog da OCAS.

Além de doações, as pessoas podem contribuir comprando a revista dos vendedores, em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Se houver dúvidas sobre como adquiri-las escreva para ocas@ocas.org.br solicitando informações.

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Política & Economia

Para entender a crise…

Um universo de acontecimentos se sucederam desde que eu escrevi o primeiro artigo, Requiem Para Um Pesadelo, sobre a crise mundial, em setembro passado. O quadro atual carece de um novo artigo que, espero, não vou demorar a escrever.

Dentre os milhares de “analistas” que se esforçam em ilustrar o que esse caos todo representa, somente alguns vale realmente a pena ler. Daniel Delfino é um deles. Amigo, companheiro e ex membro do time de articulistas do Duplipensar em sua fase áurea, digamos (antes de se tornar o site poluído e duvidoso que é hoje), Delfino é um pensador de esquerda (se é que estes rótulos ainda cabem), da melhor estirpe. E tem base pra falar: é filósofo e sociólogo.

Quem não entendeu a crise, tem ótima oportunidade de compreender. Quem entende e está acompanhando, pode ver suas idéias confrontadas.

Recomendadíssimo:

A crise econômica atual – parte 1

A crise 2 – As ameaças à humanidade

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